O sarampo é uma doença viral aguda altamente contagiosa, causada por um RNA vírus, do gênero Morbillivirus.
Após um longo período livre de casos no Brasil, a partir de 2013 os casos voltaram a aparecer devido às populações não vacinadas.
Ela é uma doença típica da infância - provoca uma vasculite generalizada - responsável pelo aparecimento de diversas manifestações clínicas potencialmente graves.
Neste post iremos abordar a fisiopatologia, quadro clínico, diagnóstico e tratamento do sarampo!
Epidemiologia
Em 2019, o Brasil foi o 6° país do mundo com mais casos de sarampo, segundo a OMS.
Dados do mesmo ano mostram ainda um aumento de 300% dos casos no mundo, com muitos países em surtos da doença.
As nações que apresentaram as maiores taxas são especialmente da África, mas regiões mais ricas também apresentaram aumento.
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Etiologia e transmissão
O sarampo é causado por um RNA vírus, do gênero Morbillivirus, da família Paramyxoviridae. O homem é seu único reservatório.
Ele é transmitido de forma direta, pelo contato direto com gotículas de secreção respiratória de pessoas infectadas e pela via aérea.
Ademais, todos são suscetíveis a contrair a doença, em especial crianças desnutridas e imunossuprimidos.
O seu período de incubação varia de 7 a 21 dias, tendo seu período de transmissibilidade iniciando 6 dias antes do exantema e durando até por mais 4 dias.
Quais os sintomas de sarampo?
O quadro clínico é dividido em três fases: fase prodrômica, fase exantemática e fase de remissão.
Pacientes imunocomprometidos podem desenvolver quadros atípicos, além de estarem em maior risco de complicações, assim como grávidas e desnutridos.
Fase prodrômica
Também conhecida como período de infecção, é a fase inicial, com duração de 2 a 4 dias, podendo se estender por até 8 dias.
As manifestações incluem febre alta (superior a 38,5°C), mal estar e anorexia, sendo seguido por conjuntivite, coriza e sintomas respiratórios como tosse.
A gravidade da conjuntivite é variável, podendo cursar com lacrimejamento, edema periorbital e fotofobia.
Um pouco antes do aparecimento do exantema aparecem as manchas de Koplik, um sinal patognomônico do sarampo, que aparece em 70% dos casos. Confira a seguir:

São lesões brancas ou azuladas, com halo eritematoso, com menos de 1 mm, na mucosa bucal. Costumam desaparecer em 12 a 72h.
Fase exantemática

Ocorre uma piora da febre e dos sintomas, cerca de 2 a 4 dias após início do quadro, com aparecimento dos exantemas ou erupção/rash cutâneo.
Essas lesões são maculopapulares eritematosas, por vezes petéquias, que podem confluir formando placas.

As lesões atingem primeiramente a face e tronco, de forma craniocaudal e depois membros, durando cerca de 5 dias.
Pode aparecer também linfadenopatia, principalmente cervical. Além disso, nesta fase podem surgir as complicações.
Fase de remissão
Caracteriza-se por diminuição dos sintomas e declínio da febre. E mais, o exantema escurece e, em alguns casos, descama de forma fina - com um aspecto de farinha (furfurácea) - exceto as palmas e solas.

Complicações
Aparecem em 30% dos casos e costumam aparecer em indivíduos de maior risco, ainda durante a fase exantemática.
As complicações mais comuns são: otite média bacteriana aguda, ceratite, diarreia e apendicite.
E ainda, hepatite, linfadenite mesentérica, úlcera corneana, gengivite, estomatite, pneumonia, encefalite aguda e óbito.
Diagnóstico
Na fase prodrômica, o hemograma pode demonstrar leucocitose com desvio à esquerda. Na fase exantemática, pode haver leucopenia com linfopenia.
Pode ser diagnosticado na presença de tosse, coriza, conjuntivite, manchas de Koplik e erupção maculopapular iniciada nas costas.
Para a confirmação diagnóstica, o exame de escolha é a detecção de IgM e IgG pelo teste ELISA em amostra sanguínea.
Esse exame tem 85% de sensibilidade e mais de 95% de especificidade, sendo quase sempre positivo após 4 dias do início do quadro cutâneo e até 4 semanas após aparecimento do exantema.
Deve-se coletar a amostra de sangue para IgM na primeira consulta de casos suspeitos e enviá-la às Agências de Vigilância Epidemiológica, junto com uma ficha de notificação preenchida (Ficha de Notificação/Investigação de Doenças Exantemáticas Febris Sarampo/Rubéola).
A notificação é obrigatória no Brasil.
As amostras coletadas entre o 1° e o 30° dia são consideradas amostras oportunas (S1). As coletadas depois do 30° dia são tardias, porém ainda devem ser enviadas ao laboratório.
Para os casos com resultado inconclusivo, uma nova amostra de sangue (S2) deve ser coletada de 15 a 25 dias após a data da primeira coleta.
A detecção do vírus por meio de PCR é possível pela urina, sangue ou secreção oral e nasofaríngea.
Esse método permite detectar a infecção antes do ELISA e a realização de genotipagem.
O protocolo do Ministério da Saúde (MS) é de pesquisa do vírus na urina e na amostra nasofaríngea - sendo coletados até 7 dias após o início do exantema - e as amostras de soro para IgM e IgG.
Diagnóstico diferencial
Na fase prodrômica, pode mimetizar outras doenças de vias respiratórias, como pneumonia.
Já na fase exantemática, os diagnósticos diferenciais são as doenças virais exantemáticas da infância: varicela, roséola, eritema infeccioso, enterovirose, rubéola e escarlatina.
Outros possíveis diagnósticos diferenciais incluem dengue, zika, chikungunya, meningococcemia, mononucleose e doença de Kawasaki.
Tratamento
O tratamento é de suporte, não havendo tratamento específico. Assim, deve-se utilizar antipiréticos e fluidos conforme a necessidade. Recomenda-se também o uso de vitamina A para todos os pacientes internados.
No Brasil, utiliza-se o palmitato de retinol por via oral a critério médico, sempre uma dose no dia do diagnóstico e outra no dia seguinte.
Não se recomenda o uso de antibióticos, apenas em caso de infecções bacterianas concomitantes.
Para casos sem complicação, deve-se manter hidratação oral e suporte nutricional, com diminuição da hipertermia.
O uso de ribavirina é recomendado em pacientes com menos de 1 ano de idade que estejam com pneumonia, para pacientes com mais de 1 ano de idade com pneumonia necessitando de suporte ventilatório e naqueles com imunossupressão grave.
A dose recomendada é de 15 a 20 mg/kg/dia via oral, dividida em 2 tomadas, por 5 a 7 dias.
Prevenção
Pessoas infectadas devem cumprir isolamento social por 4 dias após início de exantema, com uso de N95.
Além disso, existe a vacinação, que tem eficácia após a aplicação das duas doses. Vale salientar que, a imunização é duradoura para toda a vida.
Atualmente, o imunizante é dado pelo calendário vacinal do Ministério da Saúde aos 12 meses (tríplice viral) e aos 15 meses (tetra viral) de idade.
Pacientes imunodeprimidos e gestantes não devem receber a vacina, já que é utilizado o vírus vivo.
Mães vacinadas ou que já tiveram a doença, inclusive, transmitem anticorpos por via transplacentária, gerando uma imunidade transitória de cerca de 9 meses nos lactentes.
O uso de imunoglobulinas fica restrito a pacientes com risco de desenvolver sarampo grave, sendo a dose para pacientes com até 30 kg de 0,5 ml/kg (por via intramuscular) e a dose recomendada de 400 mg/kg (por via intravenosa) para indivíduos que tenham mais de 30 kg.
Conclusão
O sarampo é uma doença infectocontagiosa que vem tendo sua prevalência aumentada nos últimos anos, devido à diminuição da cobertura vacinal.
Apesar de típica da infância e no geral pouco grave, pode ainda assim causar quadros graves e potencialmente mortais em pacientes de risco.
É essencial o conhecimento sobre o quadro da doença, sua notificação e a estimulação à vacinação, para que assim, os casos voltem a diminuir.
Leia mais:
- O Que São Arboviroses, Sintomas, Diagnóstico e Tratamento
- Saiba mais sobre a pneumonia adquirida em comunidade
- Infecção do Trato Respiratório Superior: O que é e Sintomas
FONTES:
- VELASCO, Irineu; et. al. Medicina de Emergência – Abordagem Prática. 15ª edição. 2022. Medicina USP.
- BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Guia de Vigilância em Saúde. Brasília, 2019.