A filariose linfática, também conhecida como elefantíase, bacroftose ou filaríase de Bancrofti, é uma das principais causas mundiais de incapacidade permanente ou de longo prazo. É uma doença parasitária crônica causada pelo Wuchereria bancrofti, transmitido pela picada do mosquito fêmea da espécie Culex quiquefasciatus. No Brasil, o principal foco ativo encontra-se no estado de Pernambuco, especificamente na região metropolitana do Recife.
Como o Wucheria bancrofti infecta o homem?
Ao adentrarem a corrente sanguínea do hospedeiro, as microfilárias (formas imaturas do W. bancrofti) permanecem em capilares profundos (como nos pulmões) durante o dia e, à noite, migram para os capilares periféricos.
Já quando o parasita se torna um verme adulto, migra principalmente para o sistema urogenital e vasos linfáticos. Nesse último, o verme causa danos progressivos que promovem dificuldades circulatórias e favorecem infecções bacterianas secundárias. Por isso, inicialmente, há aumento da estase e edema, que evoluem para hiperplasia e hipertrofia da conjuntiva, hiperqueratose e espessamento da pele.
Quadro clínico da filariose
Há diversas manifestações decorrentes da congestão linfática. Entretanto, a maioria dos pacientes com filariose são assintomáticos, e não apresentam sinais inflamatórios subjacentes. A linfangiectasia subclínica é um exemplo de manifestação assintomática.
Ela pode ser avaliada através do exame ultrassonográfico com a detecção dos vermes adultos no sistema linfático. Em pacientes que apresentam manifestações clínicas, os fenômenos agudos podem caracterizar-se pelo aparecimento do linfedema, orquite e epididimite.
E ainda, a linfagite filarial aguda (LFA), que ocorre com a morte do parasita adulto nos vasos linfáticos (seja naturalmente ou pelo tratamento). A LFA, mais frequente em mulheres, produz um “cordão” subcutâneo palpável, podendo ser acompanhado de sintomas sistêmicos como mialgia, cefaleia, astenia e febre.
Já as manifestações crônicas ocorrem em cerca de 1% a 20% de todos os indivíduos infectados. Nessa fase, há obstrução importante dos vasos, podendo causar o linfedema, a hidrocele e outras formas deformantes e incapacitantes.
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Como diagnosticar o paciente com elefantíase?
O diagnóstico é dado através da coleta do sangue periférico pelo método da gota espessa, e deve ser feito entre 23 horas e 1 da manhã. Isso devido as microfilárias migrarem para o sangue periférico à noite, período que coincide com a atividade do vetor.
O volume sanguíneo de 60mL e os horários da coleta devem ser respeitados, para evitar o diagnóstico falso negativo. Como visto, a ultrassonografia pode ser uma técnica muito útil para detecção do parasita adulto nos vasos linfáticos. Especialmente, nos intraescrotais do cordão espermático.
De maneira geral, o diagnóstico diferencial deve ser feito com as artrites, endomiocardiofribrose, tenossinovites e tromboflebites. Já em indivíduos com linfedema, é preciso suspeitar de doenças renais, cardiopatias e varizes.
Além disso, para aqueles com a LFA, é preciso fazer o diagnóstico diferencial com a erisipela, doença infecciosa causada pelo estreptococo beta-hemolítico do grupo A, que também infecta tecidos linfáticos.
E, finalmente, qual o tratamento para a filariose?
O tratamento é feito com a dietilcarbamazina, que elimina as microfilárias da corrente sanguínea. A dose é de 6 mg/Kg/dia, por 12 dias. Entretanto, deve-se evitar medicar crianças menores de 12 anos, gestantes e mulheres em período de lactação. Para mais, também se faz necessário evitar utilizar o medicamento em portadores de doenças crônicas.
Fontes:
- BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Guia de Vigilância em Saúde. Brasília, 2019.
- SICILIANO, R. F. et al. Tratado de Infectologia. São Paulo: Atheneu, 2015