A síndrome do bebê sacudido, também denominada como síndrome do bebê espancado, é uma manifestação clínica muito grave que ocorre no bebê, mais frequentemente até os dois anos de idade, devido a maus tratos com as crianças.
Nos Estados Unidos cerca de 50 mil casos por ano são relatados, com morte em 25% a 50% deles.
Já no Brasil, os números de violência contra menores de 14 anos são alarmantes, chegando a 500 mil agressões anuais.
Em um estudo da Associação Humanitária Americana relatou-se ainda que em 50% a 75% desses eventos, os responsáveis pela violência são os próprios pais ou padrastos das crianças, e as babás, em 17,3% das ocorrências.
Essa é a principal causa de traumatismo craniano intencional na infância, sendo assim, a maioria dos sintomas são neurológicos e em cerca de 80% dos casos há sequelas, como deficiência motora e intelectual.
O que é a síndrome do bebê sacudido (SBS)?
A síndrome do bebê sacudido é uma manifestação consequente de uma ou mais sacudidas em crianças de 0 a 5 anos, mais frequente até os 6 meses, onde o espaço entre a calota craniana e o encéfalo é maior em comparação a crianças maiores.
Os movimentos de aceleração e desaceleração fazem com que a massa cerebral se choque com a calota craniana, gerando traumatismo cranioencefálico (TCE), com ruptura de vasos cerebrais e retinianos, além de fraturas cervicais.
Os sinais costumam ser inespecíficos, como irritabilidade ou sonolência, choro permanente, vômitos e inapetência.
Eles podem até ser mais graves, como convulsões, déficits motores, problemas respiratórios e coma.
Fatores de risco para a síndrome do bebê sacudido
Fatores de risco nas vítimas
- Choro incontrolável;
- Idade menor do que 1 ano;
- Muito baixo peso;
- Crianças com limitações físicas ou psíquicas;
- Gestação gemelar;
- Pouca interatividade com os cuidadores; e
- Abuso infantil prévio.
Fatores de risco nos agressores
- Sexo masculino;
- Baixo grau de escolaridade;
- Abuso de drogas e álcool;
- Vítimas de maus tratos;
- Depressão;
- Monoparentalidade; e
- Idade jovem.
Fatores de risco socioeconômicos familiares
- Baixo nível socioeconômico;
- Falta de apoio familiar ou social;
- Falta de cuidado pré-natal adequado; e
- Famílias conjugalmente insatisfeitas.
Como fazer o diagnóstico?
Mesmo que os pais não relatem a agressão ou não haja sinais exteriores de TCE sofrido (o que ocorre na maioria das vezes), é importante o médico suspeitar da síndrome do bebê sacudido através dos sinais neurológicos e oftalmológicos.
É comum a tríade da SBS, com hemorragia retiniana, hemorragia subdural ou subaracnóidea e encefalopatia. Além disso, pode haver lesões cervicais e edema cerebral.
Para identificar esses sinais, é importante consultar um oftalmologistas e neurologistas e realizar exames como a fundoscopia, radiografias (para pesquisar fraturas ósseas) e Tomografia Computadorizada ou Ressonância Magnética de crânio.
Após a confirmação diagnóstica, o médico é obrigado a informar ao conselho tutelar sobre o caso para que as medidas da legislação brasileira sejam impostas.
Manejo da síndrome do bebê sacudido
É necessário monitoramento dos sinais vitais e da pressão intracraniana.
O suporte ventilatório deve ser oferecido, e nos casos de hemorragias cranianas, deve-se atentar para necessidade de drenagem ou de outros procedimentos da neurocirurgia.
Formas de prevenção
Um pré-natal adequado, junto com orientação de pediatras ajuda a conscientizar os cuidadores sobre o grave risco de realizar as sacudidas nas crianças.
É importante educar principalmente as populações de alto risco.
Para que a criança não sofra mais agressões e tenha mais sequelas, é imprescindível que os profissionais de saúde contactem as autoridades legais e o conselho tutelar.
Conclusão
A síndrome do bebê sacudido é decorrente de agressões contra crianças. Aquelas com até 6 meses de idade possuem um risco maior de desenvolver os sinais e sintomas.
Os sintomas são principalmente neurológicos e oftalmológicos e na maioria dos casos os bebês continuam com sequelas, de moderadas a graves.
Para tratá-lo e evitar mais comprometimentos é necessário oferecer suporte ventilatório e realizar drenagem das hemorragias cranianas.
Como a agressão na maioria das vezes é realizada por membros da própria família, é importantíssimo que o conselho tutelar faça intervenções legais para proteção da criança e é o médico que deve informar sobre o ocorrido.
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FONTES:
- Tratado de Pediatria, Sociedade Brasileira de Pediatria – 4ª edição
- Síndrome da criança espancada, aspectos legais e clínicos, Revista Brasileira de Ortopedia
- Síndrome do bebê sacudido, Dr. João Borges Fortes Filho, disponível aqui