As fraturas pélvicas são lesões que ocorrem nos ossos do quadril e possivelmente nos ossos adjacentes (sacro e cóccix). Elas são causadas principalmente por mecanismos traumáticos graves ou por uma fragilidade óssea.
A pelve é uma região fundamental, que protege e sustenta órgãos pélvicos e abdominais e se conecta aos membros inferiores, além de possuir importantes vasos e nervos. Logo, uma fratura neste local pode comprometer diversas funcionalidades do organismo.
Fraturas pélvicas abertas possuem uma taxa de mortalidade de 50%. Devido a isso, o manejo de fraturas pélvicas deve ser feito cautelosamente para que não progrida com complicações.
O que é uma fratura pélvica?
Uma fratura é a perda da continuidade óssea, mesmo que não seja completa. As fraturas podem ser abertas (contato do osso com outros tecidos, podendo ser exposto além da pele ou não) ou fechadas.
A fratura pélvica é aquela que ocorre nos ossos do quadril, sacro e cóccix, esses ossos formam o anel pélvico. Ela pode ou não romper o anel, quando rompe, significa que houve fratura de pelo menos dois locais e resulta em maior instabilidade.
Etiologias
- Traumatismos de alta energia: acidentes de trânsito (atropelamentos, airbags), quedas de alturas significativas, vítimas de violência severa. Esse tipo mecanismo ocorre mais em jovens do sexo masculino.
- Fraturas acetabulares: quando a cabeça do fêmur é pressionada contra o acetábulo (articulação entre fêmur e osso do quadril).
- Osteoporose: mesmo com traumatismos de baixa energia, ocorrem fraturas. Porém, em mais de 2/3 dos casos não há traumatismo nenhum envolvido.
Tipos
Fraturas pélvicas anteriores
São responsáveis por causar lesões geniturinárias, podendo verificar trauma uretral e/ou de bexiga, com presença de hematúria, hematomas em regiões genitais.
Fraturas pélvicas posteriores
Podem lesionar o intestino mais facilmente, assim como vasos importantes (veia ilíaca) e plexos nervosos.
Classificação de Young Burgess
Em 1986 Young et al. classificou as fraturas de anel pélvico pelo mecanismo de fratura (compressão anterior-posterior, compressão lateral e cisalhamento vertical) e pela estabilidade da lesão (tipo I, II ou III).
Esses autores realçaram a necessidade de identificar esses componentes para definir o prognóstico e realizar correto tratamento cirúrgico.
Quadro clínico
O principal sinal é dor inguinal e/ou lombar, especialmente ao comprimir a sínfise púbica e espinhas ilíacas ântero superiores.
Pacientes que sofreram fraturas pouco graves na pelve podem até conseguir deambular sem auxílio de outras pessoas ou apoio (paredes ou andador).
Ao exame físico é importante realizar a inspeção e palpação da pelve, se atentando a presença de sangue no meato uretral, vaginal ou retal. No exame retal podemos verificar em alguns casos, também, a próstata mais alta.
Possíveis sinais de que o sistema nervoso periférico foi acometido são incontinência, bexigoma com retenção urinária, perda de reflexos perineais e nos membros inferiores.
A principal complicação da fratura pélvica é a hemorragia (por lesão na veia ilíaca), pode ser externa ou interna, ambas podendo evoluir para choque hipovolêmico. Outras complicações são a dispareunia, disfunção erétil, incontinência fecal e/ou urinária.
Diagnóstico
O diagnóstico é confirmado com a ajuda de radiografias - podendo realizar as incidências ântero posteriores ou outras mais específicas com abdução, manobra de Lowenstein etc - ou tomografia computadorizada (muito melhor, a mais pedida geralmente).
Lembrando que os exames devem ser realizados apenas se o paciente estiver estável hemodinamicamente. Caso não esteja, é necessário infundir fluidos e, se necessário, utilizar drogas vasoativas.
Formas de tratamento
O manejo inicial a uma pessoa que sofreu uma fratura pélvica, é de acordo com o ABCDE básico do trauma, visto que muitos dos mecanismos que levam a esta fratura são bem graves, acometendo outros locais do organismo muitas vezes.
- A: air ways, verificar se as vias aéreas estão pérvias ;
- B: breathing, verificar se paciente está respirando e ventilando bem;
- C: circulação, verificar perfusão das extremidades e controle de hemorragias;
- D: déficit neurológico presente?;
- E: exposição, despir a vítima e proteger de hipotermia;
Em idosos é necessário investigar o motivo de quedas, se há desregulação hormonal, osteoporose, distúrbios neurológicos ou cardíacos.
O primeiro passo após diagnosticar a fratura pélvica é procurar o cirurgião traumatologista e ortopedista.
Fraturas pélvicas estáveis, onde o indivíduo consegue andar sem ajuda, raramente necessitam de cirurgia e opta-se por observar o paciente enquanto realiza-se um tratamento sintomatológico, manejando a dor.
Para fraturas instáveis, a cirurgia é mandatória. Existem diversas técnicas possíveis, mas que devem ser indicadas de maneira individualizada, dependendo do tipo de fratura e da gravidade da lesão.
Pode-se realizar fixação de pinos externos ou uma redução aberta com fixação interna com pinos temporários, e depois planejar uma cirurgia mais eficiente com colocação de placas e parafusos.
Em casos nos quais a hemorragia persistir, é necessária a embolização através de angiografia.
Após a estabilização do quadril, o estímulo à deambulação é feito o quanto antes. Junto com fisioterapia o retorno às atividades diárias pode demorar de 6 meses a 1 ano, até mais tempo se o caso e a cirurgia realizada tiverem sido mais complexos.
O prognóstico depois da cirurgia costuma ser bom, mas casos graves podem manter sequelas como dor, artrose, dificuldade de deambulação e lesões neurológicas, podendo diminuir significativamente a qualidade de vida da pessoa.
Conclusão
Uma fratura pélvica é uma condição que geralmente ocorre por eventos graves e podem resultar em complicações importantes, como choque hipovolêmico.
Ela é diagnosticada com exames de imagem e o tratamento é variável, com ou sem cirurgia, a depender do caso.
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FONTES:
- Clinical Orthopaedics and Related Research
- Moore Anatomia, 2019
- mdsmanuals
- Lecturio