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Publicado em
11/9/22

Gastrite: o que é, quais as causas e como tratar

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Gastrite: o que é, quais as causas e como tratar

A gastrite é uma condição muito confundida com a dispepsia mas, além dos sintomas dispépticos, achados histológicos e endoscópicos específicos são encontrados.

A gastrite tem muitas etiologias, infecciosas ou autoimune, no entanto, a maioria dos casos está relacionada com a alta proliferação da Helicobacter pylori na mucosa gástrica. O que ocorre principalmente em idosos, etilistas e tabagistas.

O que é gastrite?

A gastrite é definida como uma inflamação do revestimento gástrico, com presença de infiltrado leucocitário na camada mucosa. Pode ser uma inflamação aguda ou crônica e tem como complicações a formação de úlceras e hemorragias.

Já a dispepsia é um conjunto de sintomas que podem ocorrer por diversas causas, como uso excessivo de AINEs (anti-inflamatórios não esteroidais) ou álcool, doença ulcerosa péptica, cólica biliar e câncer. 

A dispepsia é caracterizada por uma dor epigástrica em queimação, acompanhada de náuseas, vômitos e empachamento, que pioram no período pós-prandial. 

Apesar de a dispepsia equivocadamente ser trocada com o termo gastrite, a maioria dos pacientes com dispepsia sem ulcerações não possuem gastrite e a maioria das gastrites são assintomáticas.

A “gastrite nervosa” é uma dispepsia causada por estresse ou ansiedade, no entanto é uma gastrite de fato, pois há ausência de achados inflamatórios na mucosa gástrica.

Essas lesões gástricas não acompanhadas de infiltrado leucocitário recebem a classificação de gastropatia, como a gastropatia por AINE e gastropatia alcóolica.

Etiologias

As etiologias da gastrite aguda são essencialmente infecciosas, principalmente pela H. pylori, mas pode ser também fúngica, sifilítica, viral, parasitária ou outras bacterianas (E. coli, Haemophilus, estreptocócica ou estafilocócica).

A H. pylori produz urease, uma enzima que transforma ureia em amônia. A amônia é um composto alcalino, que neutraliza o ácido gástrico, permitindo assim, a sobrevivência desta bactéria externa.

A gastrite flegmonosa (por infecção bacteriana) é um distúrbio raro, mas potencialmente ameaçador e ocorre principalmente em idosos, etilistas e indivíduos com AIDS. Imunodeprimidos podem também ter infecção gástrica aguda por citomegalovírus ou herpes.

A gastrite crônica pode ser autoimune ou consequência de uma gastrite aguda por H. pylori não tratada.

Além das gastrites infecciosas, existem a granulomatosa (por Doença de Crohn, sarcoidose), eosinofílica (causa imune idiopática), erosiva/hemorrágica (por AINE ou etilismo), entre outras.

Classificação

Como visto anteriormente, a gastrite pode ser aguda (com infiltrado inflamatório predominantemente por neutrófilos) ou crônica (infiltrado predominantemente linfocitário).

A gastrite crônica pode ser classificada em 2 tipos:

Gastrite Crônica Tipo A 

É uma gastrite menos comum, do tipo autoimune, onde há presença de anticorpos contra as células parietais do estômago e anti-FI (fator intrínseco). Devido a isso, pode haver desenvolvimento de anemia perniciosa (o FI facilita a absorção de vitamina B12).

Como as células parietais são as glândulas produtoras de ácido gástrico, na gastrite autoimune há acloridria (ausência do ácido) e em contrapartida há hipertrofia de células produtoras de gastrina, levando a hipergastrinemia ( >500pg/ml).

Costuma preservar o antro pilórico, acometendo apenas o corpo gástrico geralmente. 

A gastrite autoimune é encontrada em 20% das pessoas com vitiligo e Doença de Addison e em 30% dos indivíduos com doenças da tireoide.

Como há presença de acloridria, esse tipo de gastrite não é tratado com inibidores de bomba de prótons.

Gastrite Crônica Tipo B

É a gastrite mais comum, relacionada com a infecção por H. pylori. Está presente em praticamente 100% dos indivíduos maiores de 70 anos.

A lesão direta pela H. pylori e pela inflamação crônica está muito relacionada com o câncer gástrico (adenocarcinomas, linfomas de células B ou de MALT), pela evolução de metaplasias e displasias.

Apesar disso, a erradicação da H. pylori como medida preventiva de câncer gástrico ainda está sendo estudada e até este momento não é recomendada.

Como diagnosticar?

A confirmação diagnóstica de gastrite é feita apenas com achados histológicos compatíveis com inflamação da mucosa gástrica, sendo necessária a endoscopia digestiva alta para a coleta de material.

Endoscopia Digestiva Alta (EDA) para diagnóstico etiológico e visualização de possíveis complicações da gastrite (principalmente doença ulcerosa péptica e câncer). Foto: Reprodução/Adobe Stock
Endoscopia Digestiva Alta (EDA) para diagnóstico etiológico e visualização de possíveis complicações da gastrite (principalmente doença ulcerosa péptica e câncer). Foto: Reprodução/Adobe Stock

Tratamento 

O tratamento da gastrite depende da sua etiologia e manifestações clínicas

Para indivíduos com dispepsia (que não seja pela gastrite autoimune) é recomendado o uso de inibidores de bomba de prótons, como o omeprazol ou pantoprazol.

Para pessoas que desenvolveram anemia perniciosa pela presença de anticorpos anti-FI, é necessária a monitorização dos níveis de vitamina B12 (e sua suplementação parenteral) e ferro

No Brasil não há recomendação para realizar a erradicação do H. pylori como manejo inicial para o tratamento da dispepsia ou doença do refluxo, tampouco realizar tratamento empírico da infecção. As principais indicações são:

  • Dispepsia com confirmação de associação com H. pylori;
  • Úlcera péptica ativa ou prévia que não foi tratada;
  • Linfoma gástrico MALT de baixo grau;
  • Câncer gástrico precoce;
  • Uso crônico de AAS;

A erradicação da H. pylori é feita principalmente com o uso combinado de amoxicilina e claritromicina.

Conclusão

A gastrite é caracterizada pela inflamação da mucosa gástrica, sendo causada principalmente pela infecção de Helicobacter pylori, podendo evoluir para uma forma crônica. Existem diversas outras causas infecciosas, mas menos comuns. 

Além de causas infecciosas, há também a autoimune com menor frequência mas importante de ser diferenciada, pois o tratamento não é feito com o usual inibidor de bomba de prótons.

A gastrite crônica por H. pylori é muito associada com o desenvolvimento de câncer, então é necessária a erradicação da bactéria quando houver confirmação de sua colonização na mucosa gástrica (não recomendada de forma empírica ou preventiva).

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