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Publicado em
30/4/23

Esôfago de Barrett: o que é e como cai na prova de residência?

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Esôfago de Barrett: o que é e como cai na prova de residência?

O Esôfago de Barrett é uma condição médica que ocorre quando as células que normalmente revestem o esôfago são substituídas por células anormais. Essa condição é uma resposta ao refluxo crônico do ácido do estômago para o esôfago, e é considerada um fator de risco para o desenvolvimento do câncer de esôfago. Portanto, o conhecimento sobre essa condição é essencial para os médicos em formação, especialmente aqueles que buscam aprovação em programas de residência médica em especialidades como Gastroenterologia, Cirurgia Gastrointestinal e Oncologia. 

Dica de prova

Dois pontos que você precisa dominar é o mecanismo fisiopatológico e método diagnóstico do Esôfago de Barrett, pois essas são as abordagens mais comuns em prova de residência médica.

Definição do Esôfago de Barrett

A doença é definida pela substituição do epitélio escamoso do esôfago por epitélio colunar metaplásico intestinal. Essa metaplasia ocorre na junção gastroesofágica, uma área de transição do epitélio esofágico com o gástrico. Entretanto, a junção esôfago-gástrica, também chamada de linha Z, é um epitélio de transição entre duas mucosas - gástrica e esofágica – e, por isso, tende a ser irregular

Representação da junção esôfago-gástrica (linha Z). Fonte: Instituto de Gatroenterologia Pediátrica de São Paulo
Representação da junção esôfago-gástrica (linha Z). Fonte: Instituto de Gatroenterologia Pediátrica de São Paulo

Dica de prova

Apesar do nome mais comum para a transição do esôfago para o estômago ser "Junção Gastroesofágica" ou "Linha Z", algumas bancas de prova de residência podem utilizar o nome "Junção Escamocolunar" ou "JEC", fazendo referência à histologia de cada órgão. A mucosa fisiológica do esôfago e do estômago são, respectivamente: epitélio pavimentoso estratificado não queratinizado e epitélio colunar simples.

Devido a linha Z ser irregular, é possível que a presença de epitélio colunar no esôfago distal seja apenas uma variação anatômica normal. Assim, para que a presença deste epitélio seja considerada patológica, deve ter uma extensão ≥ 1cm.

Dica de prova

Epidemiologicamente falando, 2% dos pacientes que realizam endoscopia digestiva alta possuem achado macroscópico de Esôfago de Barrett e quando analisado apenas em pacientes com Doença do Refluxo Gastroesofágico (DRGE) esse número chega a 15%.

O que é trato gastrointestinal superior?

O trato gastrointestinal superior se inicia na cavidade oral e termina no ângulo duodenojejunal, formado pelo ligamento de Treitz, que suspende o duodeno no pilar direito do diafragma. Observe a imagem abaixo:

Representação do ligamento de Treitz. Fonte: JaypeeDigital
Representação do ligamento de Treitz. Fonte: JaypeeDigital


O ligamento de Treitz foi escolhido para diferenciar o trato gastrointestinal superior do inferior porque a hemorragia que ocorre acima deste ligamento é denominada hemorragia digestiva alta (HDA).

Fisiopatologia e Causa do Esôfago de Barrett

A fisiopatologia do esôfago de Barrett está relacionada à exposição crônica ao ácido gástrico e à bile que reflui do estômago para o esôfago, causando lesões no epitélio esofágico. Esse refluxo gastroesofágico (RGE) crônico resulta em inflamação crônica e reparação tecidual anormal, com a substituição do epitélio esofágico por um epitélio colunar especializado.

A transformação do epitélio escamoso para o epitélio colunar é um processo dinâmico e contínuo, que envolve a ativação de vias de sinalização específicas que regulam a proliferação, a diferenciação e a apoptose das células epiteliais. 

Comparação do epitélio normal esofágico (escamoso) com a metaplasia do esôfago de Barrett (células colunares). Fonte: UFRGS
Comparação do epitélio normal esofágico (escamoso) com a metaplasia do esôfago de Barrett (células colunares). Fonte: UFRGS

Dica de prova

Nunca se esqueça que a importância dessa condição não é a transformação do epitélio em si, mas sim o risco oferecido por ele de posterior desenvolvimento de um ADENOCARCINOMA ESOFÁGICO!

Quais são os fatores de risco para a doença do esôfago de Barrett?

  • Doença do refluxo gastroesofágico (DRGE)
  • Outras condições que favorecem o refluxo (hérnia de hiato, obesidade central, incompetência do esfíncter inferior do esôfago)
  • Histórico familiar de EB
  • Histórico familiar de adenocarcinoma esofágico
  • Tabagismo
  • Sexo masculino
  • Idade > 50 anos

Quais os fatores podem reduzir o risco da doença do esôfago de Barrett?

Um fator que reduz o risco da enfermidade é a colonização da mucosa gástrica pela H. pylori. Isso porque essa bactéria provoca diminuição da secreção gástrica e, consequentemente, torna-se um fator protetor contra a doença do refluxo gastroesofágico.

Diagnóstico e Endoscopia Digestiva Alta

A Endoscopia Digestiva Alta (EDA) é o principal exame utilizado para diagnosticar o esôfago de Barrett. As características endoscópicas incluem a presença de uma zona de transição entre o esôfago e o estômago que se estende por mais de 3 cm, uma mucosa de cor pálida, listras longitudinais e uma aparência em forma de colmeia. O diagnóstico é confirmado por meio de uma biópsia das áreas suspeitas.

Na EDA, o problema pode ser evidenciado com uma “cor de salmão” característica, que contrasta com a mucosa pálida e rosada da mucosa esofágica não patológica. Fonte: UpToDate
Na EDA, o problema pode ser evidenciado com uma “cor de salmão” característica, que contrasta com a mucosa pálida e rosada da mucosa esofágica não patológica. Fonte: UpToDate

Após biópsia, classifica-se os achados histológicos de acordo com o grau de displasia na chamada "Classificação de Viena". Veja abaixo:

CLASSIFICAÇÃO DE VIENA PARA A DISPLASIA NO ESÔFAGO DE BARRETT
Negativo para displasia Caracterizado pela presença de alterações reativas ou regenerativas do epitélio metaplásico
Indefinido para displasias Quando os achados morfológicos não são definitivos para estabelecer o diagnóstico de alteração regenerativas ou atipias celulares
Displasia de baixo grau Caracterizado pela presença de arquitetura glandular preservada e presença de atipia celular
Displasia de alto grau (carcinoma in situ) São observadas alterações da arquitetura glandular e atipia celular mais acentuada
Classificação de Viena para a displasia no esôfago de Barrett. Fonte: Tratado de gastroenterologia: da graduação à pós-graduação

Dica de prova

O achado macroscópico do Esôfago de Barrett é tão específico que caso a biópsia seja negativa, repete-se o processo de EDA com biópsia para reavaliação.

Como tratar o Esôfago de Barrett?

O manejo do paciente com esôfago de Barrett dependerá dos achados da biópsia. Assim, há uma conduta para os pacientes com displasia indefinida ou de baixo grau, e para os pacientes com displasia de alto grau.

Conduta para displasia indefinida ou de baixo grau

Manejo da displasia indefinida ou de baixo grau. Fonte: Tratado de gastroenterologia: da graduação à pós-graduação, 2016
Manejo da displasia indefinida ou de baixo grau. Fonte: Tratado de gastroenterologia: da graduação à pós-graduação, 2016


Neste caso, deve-se iniciar ou otimizar o tratamento com antissecretores, e fazer a reavaliação endoscópica após 6 a 12 meses. São exemplos de antissecretores - inibidores da bomba protônica - o omeprazol, cuja dose inicial é de 20 mg. E mais, o pantoprazol, que comumente é utilizado com dose inicial de 40 mg.

A endoscopia deve ser repetida até que dois exames consecutivos demonstrem ausência de displasia. Caso isso ocorra, o paciente deve ser acompanhado por protocolo de portador de esôfago de Barrett sem displasia.

Conduta para displasia de alto grau

Em caso de presença de displasia de alto grau, a ressecção endoscópica é o tratamento de primeira escolha. Contudo, caso a biópsia indique invasão da mucosa, a esofagectomia é o melhor tratamento, devido ao risco aumentado de metástases linfonodais.

Rastreio do Esôfago de Barrett

O rastreio do EB na população geral não é indicado, devido a baixa incidência de adenocarcinoma. Todavia, é recomendado em homens com idade superior a 60 anos e sintomas crônicos de DRGE (perfil mais observado em portadores de adenocarcinoma esofágico), ou em indivíduos com múltiplos fatores de risco.

Conclusão

Vamos retomar o que acabamos de discutir com perguntas frequentes durante o estudo para a residência:

A doença do refluxo gastroesofágico é a principal causa do esôfago de Barrett?

Sim. O dano do ácido gástrico ao epitélio escamoso é o principal responsável pela metaplasia do epitélio escamoso esofágico.

No esôfago de Barrett ocorre uma mutação dos tecidos?

Não. A mutação é definida como uma alteração - natural ou induzida - do material genético. No entanto, nesta doença, ocorre uma metaplasia. Ou seja, há uma substituição adaptativa do epitélio escamoso esofágico pelo epitélio colunar intestinal. Nesse processo, não há mutação dessas células.

O esôfago de Barrett é uma condição pré-cancerosa?

Sim, ele é precursor do adenocarcinoma de esôfago, já que cerca de 10% dos pacientes desenvolvem o adenocarcinoma no terço inferior do esôfago. 

Vamos ver uma questão NA PRÁTICA? Abaixo está o link de uma questão explicada pelo Dr. Amyr Kelner sobre ESÔFAGO DE BARRETT:

Leia mais:

FONTES:

  • DynaMed. Barrett Esophagus. EBSCO Information Services. Accessed March 2023. 
  • Martins, Mílton de, A. et al. Clínica Médica, Volume 4: Doenças do Aparelho Digestivo, Nutrição e Doenças Nutricionais. Disponível em: Minha Biblioteca, (2nd edição). Editora Manole, 2016.