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Publicado em
1/6/22

Anemia ferropriva: o que é, suas causas, sintomas e tratamento

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Anemia ferropriva: o que é, suas causas, sintomas e tratamento

A anemia ferropriva é um tipo de anemia carencial, sendo a mais comum de todas as anemias.

Ela se deve a diminuição da vida média das hemácias por falta de ferro, podendo ser causada por diversos fatores.

É uma doença comum que pode se tornar grave a depender dos valores da hemoglobina, por isso a importância desse tema para todos os profissionais da saúde.

Este post irá abordar sua fisiopatologia, causas, sintomas, como diagnosticar e tratar!

Fisiopatologia

O ferro é um importante fator para a síntese de hemoglobina, sem ele a síntese fica comprometida. 

Consequentemente, a síntese de hemácias também fica comprometida, já que a hemoglobina é a proteína que capacita o transporte de oxigênio pelas hemácias.

Com a deficiência de ferro, ocorre uma depleção dos estoques, primeiramente. Posteriormente, com o fim dos estoques, reduz-se a síntese de hemoglobina.

Caso não tratado, essa deficiência de ferro causará a anemia ferropriva.

Isso acontece de maneira lenta, em estágios: depleção dos estoques de ferro, eritropoiese deficiente em ferro e, o último estágio, anemia ferropriva.

Na depleção, as reservas de ferro estão diminuídas ou ausentes, porém sem comprometimento da reserva de ferro para eritropoiese.

No segundo estágio, já existe um grau de comprometimento da eritropoiese, porém sem diminuição dos valores da hemoglobina.

Atinge-se a anemia ferropriva quando os valores de hemoglobina passam a se alterar, juntamente com as alterações anteriores, a níveis menores que 13g/dl em homens e 12 g/dl em mulheres.

Causas da anemia ferropriva

As principais causas de deficiência são diminuição da ingestão alimentar e redução da absorção de ferro, e perda de sangue. Vale salientar que pode ocorrer sobreposição dessas causas.

Por baixa ingestão alimentar

A principal causa da deficiência de ferro é a baixa ingesta, por consumo de uma alimentação pouco rica em ferro.

Recomenda-se que o consumo ideal diário seja de 18mg para mulheres e 8mg para homens.

Por má absorção

A absorção do ferro ocorre no trato gastrointestinal superior, sendo o duodeno o local de máxima absorção.

Diversos fatores determinam a eficiência dessa absorção, e algumas doenças e condições podem interferir, como por exemplo alterando a mucosa intestinal.

Essas condições incluem: doença celíaca, gastrite atrófica, infecção por H. pylori e cirurgia bariátrica.

Além disso, o uso de alguns medicamentos também pode alterar a absorção de ferro, principalmente por alterar acidez gástrica, como o uso de IBP. Porém, são causas raras e normalmente associadas a outros fatores de risco.

Por perda sanguínea excessiva

Essa é a principal causa em países ricos e a mais comum em mulheres na pré-menopausa.

As principais causas dessa perda sanguínea são: hemorragia traumática, hematêmese ou melena, hemoptise, sangramento menstrual intenso, gravidez e parto e hematúria.

Algumas dessas causas podem gerar um sangramento pequeno que, de forma crônica, prejudica os estoques de ferro.

Quem tem traço falciforme pode vir a ter a doença?

A anemia ferropriva pode contribuir para o agravamento da anemia falciforme. Assim como, portadores do traço falciforme também podem desenvolver anemia ferropriva, em conjunto com a falciforme ou de forma independente. 

Manifestações clínicas da anemia ferropriva

As manifestações clínicas podem estar presentes em diferentes graus, a depender da gravidade. Muitas vezes a condição só é percebida em graus mais severos.

Sintomas

Os sintomas mais típicos são:

  • Fadiga crônica e desânimo;
  • Pele e mucosas pálidas;
  • Tontura;
  • Queda de cabelo;
  • Pagofagia, ou desejo por gelo;
  • Síndrome das pernas inquietas;
  • Dor de cabeça;
  • Intolerância ao exercício;
  • Dispneia aos esforços;
  • Fraqueza.

Achados do exame físico

O exame físico pode comumente detectar palidez cutânea e de mucosas, pele seca, glossite atrófica, queilose e boca seca e coiloníquia (depressão central da lâmina ungueal e elevação das bordas).

Mão de uma pessoa com anemia (esquerda) em comparação a uma pessoa sem anemia (direita). Fonte: Biomedicina padrão
Mão de uma pessoa com anemia (esquerda) em comparação a uma pessoa sem anemia (direita). Fonte: Biomedicina padrão

Diagnóstico

O diagnóstico da anemia ferropriva é por meio de exames laboratoriais. Nos indivíduos com suspeita, pede-se um hemograma completo e um estudo do ferro.

Os achados do hemograma são: hemoglobina, hematócrito, reticulócitos, VCM, HCM baixos, enquanto RDW aumenta. As hemácias apresentam aspecto hipocrômico e microcítico.

Os resultados esperados são ferro sérico baixo, enquanto há um aumento da transferrina sérica.

Muitas vezes, exames complementares são necessários para identificar a causa dessa deficiência.

A depender do sugerido pela anamnese, pode-se pedir: endoscopia digestiva alta, colonoscopia, parasitológico de fezes e pesquisa de sangue oculto nas fezes, esfregaço de medula óssea e sumário de urina.

Como funciona o tratamento para anemia ferropriva?

Independente da presença ou não de sintomas, todos os pacientes com anemia ferropriva devem ser tratados.

A causa da deficiência de ferro deve ser identificada e o manejo individualizado. 

Além disso, deve ser estimulada uma alimentação mais baseada em alimentos ricos em ferro, associados a alimentos ricos em vitamina C, que ajudam na absorção.

Suplementação de ferro

A suplementação de ferro, no geral por via oral, é feita em todos os pacientes.

Existem diversas opções de fórmulas disponíveis, com diferentes medidas de ferro elementar: maltol férrico, fumarato ferroso, gluconato de ferro, sulfato ferroso e complexo polissacarídeo-ferro.

O tratamento costuma durar cerca de 3 a 6 meses, podendo ser tomado uma dose diária ou em dias alternados.

A dose terapêutica costuma variar de 2 a 5mg/kg/dia, ou seja, cerca de 150 a 200 mg de ferro elementar por dia.

Composto com ferro Peso em mg do sal de ferro por comprimido Quantidade em mg de ferro elementar por comprimido Observação
Ferripolimaltose 333 100 1 mL (20 gotas) contém 50 mg de ferro elementar;10 mL de xarope  contém 100 mg de ferro elementar
Sulfato ferroso 300 40 a 60 1 mL  (20 gotas) contém 25 mg de ferro elementar;10 mL de xarope contém 80 mg de ferro elementar
Fumarato ferroso 200 30 a 60 -
Gluconato ferroso 300 36 -
Ferro quelato glicinato 150 a 300 30 a 100 Flaconete de 5 mL com 50 mg de ferro elementar
Principais compostos de ferro e sua quantidade de ferro elementar. Fonte: Revista Brasileira de Hematologia e Hemoterapia

Cuidados para prescrição

Mais de 70% dos pacientes prescritos com suplementação oral de ferro, especialmente de sulfato ferroso, podem vir a ter sintomas gastrointestinais como efeito colateral.

Para isso, pode-se optar pela suplementação endovenosa ou aumentar dias de intervalos entre doses.

Efeitos colaterais 

Os efeitos colaterais incluem: gosto metálico, náusea, flatulência, constipação, diarréia, distensão epigástrica e vômito.

Transfusão de sangue

A transfusão sanguínea é uma opção restrita àqueles pacientes com anemia grave (Hb<7), com risco de vida. Eles devem ser tratados com transfusão associada à reposição de ferro. 

Em geral, se transfunde 300ml de sangue, com 200mg de ferro, sendo capaz de causar um aumento de 1g/dl de hemoglobina.

Conclusão

A anemia ferropriva é a anemia mais comum no dia a dia do profissional de saúde. Em geral, causada por uma deficiência na ingestão de ferro, deve ser muito bem rastreada e tratada. 

Para isso, atentar-se ao diagnóstico, já que o quadro muitas vezes pode ser inespecífico, e para a necessidade de suplementação de ferro!

Leia mais:

FONTES:

  • AUERBACH, Michael. Causes and diagnosis of iron deficiency and iron deficiency anemia in adults. UpToDate, 2022.
  • AUERBACH, Michael. Treatment of iron deficiency anemia in adults. UpToDate, 2022.