A esquistossomose, também conhecida como “xistose”, “barriga d’água” e “doença dos caramujos”, é uma doença parasitária de evolução crônica. O agente etiológico responsável pela doença é o Schistosoma mansoni, e tem como seu hospedeiro definitivo o homem. Esse elimina os ovos do verme através das fezes, contaminando coleções hídricas.
Já o hospedeiro intermediário é o caramujo do gênero Biomphalaria, que possibilita o verme completar seu ciclo reprodutivo. Assim, após terem se desenvolvido no organismo do caramujo, as cercárias (formas jovens do S. mansoni)infectam o homem através da penetração ativa na pele.
O período de incubação se dá de 1 a 2 meses, e o homem passa a eliminar fezes com os ovos a partir da 5ªsemana de infecção. Podendo eliminá-los por mais de 20 anos após o contato como verme.
Ademais, qualquer pessoa é suscetível a desenvolver a esquistossomose. Entretanto, existem evidências deque residentes de áreas endêmicas mostram uma certa resistência imunológica ao parasita e, por isso, não apresentam grande carga parasitária.
Para estudar a fisiopatologia e os achados no exame de imagem da esquistossomose, confira no texto exclusivo feito pela equipe de redação do Eu Médico Residente.
Quadro clínico da esquistossomose
Há duas fases da manifestação clínica: inicial e crônica. Sendo elas correspondentes ao estágio de desenvolvimento do parasita no organismo do hospedeiro.
Fase inicial
Ocorre com a penetração das cercárias na pele do hospedeiro. Nessa fase, em que são comuns as manifestações alérgicas, predominam as formas agudas da doença. Assim, há possibilidade de apresentação sintomática e, também, ocorrem as formas assintomáticas.
Quadro assintomático
Corresponde a maioria dos portadores da esquistossomose. Todavia, esses pacientes podem ser diagnosticados através de achados de exame laboratoriais de rotina, como no exame de fezes e na presença de eosinofilia no leucograma.
Quadro sintomático
Surge com a dermatite cercariana, uma manifestação pruriginosa na pele muito semelhante a picadas de inseto. Podendo durar até 5 dias após a infecção.
Além disso, também pode surgira febre de Katayama após 3 a 7 semanas da exposição. Nesse caso, é comumo surgimento de linfadenopatia, febre e cefalia. E ainda, de anorexia,dor abdominal e diarreia. No exame físico do paciente com a febre deKatayama, há presença de hepatoesplenomegalia.
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Além disso, também pode surgir a febre de Katayama após 3 a 7 semanas da exposição. Nesse caso, é comum o surgimento de linfadenopatia, febre e cefaléia. E ainda, de anorexia, dor abdominal e diarreia. No exame físico do paciente com a febre de Katayama, há presença de hepatoesplenomegalia.
Fase Tardia
A fase tardia da doença tem início a partir do 6º mês após a exposição ao verme, e pode durar anos. A progressão da doença pode levar à hipertensão pulmonar e portal, ascite e à ruptura de varizes de esôfago.
Para mais, pode ser classificada em 4 formas: hepatointestinal, hepática, hepatoesplênica compensada e hepatoesplênica descompensada.
Forma hepatointestinal
Caracteriza-se pela presença de diarreia e epigastralgia. O paciente apresenta fígado palpável e com nodulações ao exame físico, sendo essas características da fibrose decorrente das formas mais avançadas da doença: a fibrose de Symmers.
Forma hepática
A apresentação do paciente com a forma hepática pode ser assintomática, ou com os sintomas descritos na fase hepatointestinal. Assim, como a forma anteriormente descrita, o fígado apresenta-se palpável e endurecido ao exame físico.
Entretanto, ao ser visualizado com o ultrassom (USG), verifica-se achado de fibrose moderada ou intensa, característico da progressão da doença.
Forma hepatoesplênica compensada
Nessa forma, há presença de hipertensão portal, que leva à esplenomegalia e ao surgimento das varizes de esôfago. O indivíduo apresenta sintomas inespecíficos, como dores abdominais atípicas.
E ainda, sensação de peso/desconforto no hipocôndrio esquerdo, devido à esplenomegalia. Essa forma predomina em adolescentes e adultos jovens.
Forma hepatoesplênica descompensada
São as formas graves da doença, responsáveis por levar o paciente à óbito. Exemplo disso são hemorragias digestivas altas, devido à ruptura das varizes de esôfago. E mais, há diminuição acentuada do estado funcional do fígado.
Como realizar o diagnóstico da ‘barriga d’água’?
Devido ao quadro inespecífico, o diagnóstico de certeza apenas pode ser dado através de exames laboratoriais. No entanto, a história clínica do paciente, sua procedência e residência são dados que auxiliam muito no diagnóstico da esquistossomose.
O exame coproscópico é o mais utilizado para diagnosticar a doença. Sendo a técnica mais utilizada a de Kato-Katz, por realizar a contagem de ovos por grama de fezes e, assim, avaliar a intensidade da infecção e a eficácia do tratamento.
O diagnóstico diferencial da dermatite cercariana deve ser feito com doenças exantemáticas, bem como com a dermatite causada por larvas de geo-helmintos. Além do mais, nas formas agudas, o diagnóstico diferencial deve ser feito com a malária e doença de Chagas aguda.
Também deve-se fazer a diferenciação com as hepatites virais e a febre tifoide. Já nas formas crônicas da “barriga d’água”, é preciso diferenciá-la do calazar, leucemia, linfomas e da cirrose.
Qual o tratamento adequado para a ‘doença dos caramujos’?
O tratamento deve ser feito com o prazinquantel, via oral. A dose é única, sendo 50mg/Kg em adultos e 60 mg/Kg em crianças. Por fim, existem algumas contraindicações ao medicamento. Sendo assim, recomenda-se não aplicar essa medicação em gestantes e crianças menores de 2 anos.
Ou em pacientes com insuficiência hepática grave e insuficiência renal. Vale salientar que mulheres em fase de amamentação, se forem medicadas, devem esperar 72 horas para amamentar novamente.
Fonte:
- BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Guia de Vigilância em Saúde. Brasília, 2019.