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Publicado em
15/12/22

Esclerose Lateral Amiotrófica: o que é e como tratar

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Esclerose Lateral Amiotrófica: o que é e como tratar

A Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA), também conhecida como Doença de Lou Gehrig, é uma doença neurodegenerativa do neurônio motor, que acarreta paralisia motora irreversível. Ganhou maior notoriedade após o caso do cientista Stephen Hawking, portador de ELA mundialmente famoso, falecido em 2018.

Pode ser causado por diferentes etiologias. Ainda sem cura, pode ter apenas seus sintomas retardados. Estima-se que afeta cerca de 1,6 a cada 100.000 pessoas anualmente pelo mundo, tendo maior prevalência na etnia branca.

Nesse post iremos abordar o que é a Esclerose Lateral Amiotrófica, suas causas, quadro clínico e como tratar!

O que é Esclerose Lateral Amiotrófica

A Esclerose Lateral Amiotrófica é uma doença neurodegenerativa progressiva que afeta o neurônio motor, causando uma paralisia motora irreversível. Os pacientes acometidos pela ELA sofrem paralisia gradual, podendo chegar até a perda de capacidades básicas, como falar, movimentar, engolir e, por fim, respirar.

O óbito, normalmente, ocorre em cerca de 3 a 5 anos, com os tratamentos atuais buscando prolongar a sobrevida, já que não há cura. Seu nome significa endurecimento e cicatrização da porção lateral da medula espinhal, gerando fraqueza, redução de volume e atrofia.

É uma das principais doenças neurodegenerativas, ocorrendo mais entre os 55 e 75 anos de idade. Afeta tanto os neurônios motores superiores (NMS) como inferiores (NMI), com padrões variáveis de início, normalmente iniciando nos membros inferiores.

Neurônios motores. Fonte: Raciocínio Clínico Link: https://raciocinioclinico.com.br/fraqueza-muscular-avaliacao-pratica-e-raciocinio-clinico/
Neurônios motores. Fonte: Raciocínio Clínico 

Etiologia

A ELA pode ser de caráter genético ou esporádico

ELA esporádico

O tipo esporádico é mais comum, sendo responsável por 90 a 95% dos casos. Não se sabe ao certo os mecanismos que levam ao desenvolvimento de ELA, mas acredita-se que pode ser devido a um processamento alterado de RNA que leva à auto agregação, a uma mutação de superóxido dismutase gerando radicais livres tóxicos ou a respostas inflamatórias em cascata e concentrações excessivas de glutamato (tóxico às células nervosas).

ELA genético

Já o ELA genético, muito raro, tem diversos mecanismos genéticos envolvidos, sendo o principal a expansão repetida do gene C9ORF72 e mutações do gene SOD1, ambas de caráter autossômico dominante. Essa mutação gera desdobramento da proteína, que forma agregados levando à lesão celular e apoptose.

Fisiopatologia

A esclerose lateral amiotrófica trata-se de uma doença progressiva que envolve a degeneração do sistema motor em vários níveis: bulbar, cervical, torácico e lombar. Ocorre degeneração e gliose dos axônios nas colunas anterior e lateral da medula espinhal, com perda de neurônio motores no córtex (neurônios motores superiores) e no corno anterior da medula cervical, torácica e lombar (neurônios motores inferiores).

Neurônio acometido por ELA. Fonte: Guia da Fisio link: https://guiadofisio.com.br/esclerose-lateral-amiotrofica/
Neurônio acometido por ELA. Fonte: Guia da Fisio 

Apresentação clínica

O quadro clínico é variável, a depender do nível da medula espinhal mais afetado e acredita-se que mais de 80% dos neurônios motores já tenham sido perdidos quando ocorre a primeira manifestação clínica.

Quando atingido a nível bulbar, os sintomas mais comuns são: incontinência emocional (choro e riso incontroláveis), disartria, disfagia, hiperreflexia e atrofia e fasciculações da língua. Quando a nível espinhal, ocorre hiperreflexia tendinosa, espasticidade, sinal de Babinski positivo, fraqueza, atrofia muscular, redução da agilidade, fasciculações e câimbras

O paciente, então, vai apresentando quadro de perda gradual da força e coordenação muscular, com incapacidade de realizar tarefas rotineiras, engasgos com facilidade, gagueira, cabeça caída, alterações de voz, problemas de dicção, perda de peso, entre outros. Podem aparecer outros achados relacionados à doença, como alterações psicológicas e do sono, constipação, sialorréia, espessamento de secreções mucosas, sintomas de hiperventilação crônica e dor.

Em relação ao exame cognitivo, quadros de demência são incomuns, sendo a mais comum a demência frontotemporal, porém 50% dos pacientes apresentam anormalidades cognitivas.

Stephen Hawking, cientista portador de ELA. Fonte: Show da Física link: https://showdafisica.quanta.org.br/2018/03/23/stephen-hawking-e-a-divulgacao-cientifica/
Stephen Hawking, cientista portador de ELA. Fonte: Show da Física 

Diagnóstico

O diagnóstico da Esclerose Lateral Amiotrófica é suspeito, inicialmente, por meio da história clínica e exame físico. Para confirmar, podem ser solicitados: exames laboratoriais, teste respiratório, TC ou RNM de coluna cervical, eletroneuromiografia dos quatro membros, teste genético, estudos de condução nervosa, teste de deglutição e punção lombar, principalmente com o intuito de afastar outras causas.

Com base nos resultados dos exames, o diagnóstico pode ser confirmado por meio dos critérios de El Escorial. Como visto a seguir:

Presença de: - Evidência clínica, eletrofísica ou neuropatológica de degeneração do neurônio motor inferior.- Evidência clínica, eletrofísica ou neuropatológica de degeneração do neurônio motor superior.- Evidência de disseminação progressiva de sintomas ou sinais dentro de uma região ou para outras regiões.
Ausência de: - Evidência eletrofisiológica ou patológica de outros processos patológicos que possam explicar a degeneração do neurônio motor do paciente.- Evidências de neuroimagem de outras doenças que possam explicar os sinais clínicos e eletrofisiológicos observados.
Critérios de El Escorial para o diagnóstico de ELA. Fonte: NCBI NCBI

Em 2019, houve atualização dos critérios diagnósticos da ELA em Gold Coast, possibilitando critérios mais simples e com possibilidade diagnóstica precoce. Inclui 3 parâmetros obrigatórios

  1. Comprometimento motor progressivo pelo histórico ou exame clínico.
  2. Presença de comprometimento dos NMS e NMI em pelo menos um segmento corporal ou do NMI em dois segmentos.
  3. Exclusão de outras condições clínicas de diagnóstico diferencial potencial.

Classificação

De acordo com os resultados dos exames complementares, é possível, ainda, classificar a ELA em 5 tipos: definitiva, provável, provável com suporte laboratorial, possível e suspeita.

ELA DEFINITIVA Sinais de acometimento de NMS e NMI e 3 regiões
ELA PROVÁVEL Sinais de acometimento de NMS e NMI em 2 regiões
ELA PROVÁVEL COM SUPORTE LABORATORIAL Sinais de acometimento de NMS e NMI em 1 região ou de NMS em 2 ou mais regiões + Evidência de desnervação aguda na eletroneuromiografia em 2 ou mais segmentos
ELA POSSÍVEL Sinais de acometimento de NMS e NMI em 1 região
ELA SUSPEITA Sinais de acometimento de NMI ou de NMI em 1 ou mais regiões + Evidência de progressão de doença + Ausência de sinais sensitivos
Categorias da ELA. Fonte: MS MS/a>

Diagnósticos diferenciais

Os principais diagnósticos diferenciais da ELA incluem: doença cerebrovascular, esclerose múltipla, adrenomieloneuropatia, ataxia espinocelular, deficiência de hexosaminidase A, deficiência de B12, infecção por HIV, HTLV e sífilis, miastenia gravis, hipertireoidismo, intoxicação por metais pesados, entre outros.

Tratamento

O tratamento da Esclerose Lateral Amiotrófica é feito por meio da combinação de condutas não medicamentosas com o uso de medicamentos. Como a ELA não tem cura, o tratamento visa amenizar sintomas e prolongar a vida dos pacientes.

Tratamento não medicamentoso

O tratamento não medicamentoso tem como principal modalidade o suporte ventilatório não invasivo, sendo essencial para todos os pacientes com ELA. Além disso, outras práticas benéficas são o treinamento muscular inspiratório e exercícios físicos de leve intensidade.

Também é necessário um bom suporte nutricional, um suporte de mobilidade e acessibilidade, um suporte de comunicação, além de acompanhamento multidisciplinar e atendimento domiciliar para esses pacientes. Fisioterapia, reabilitação, uso de órteses e cadeira de rodas são essenciais para melhor funcionalidade.

Tratamento medicamentoso

O tratamento medicamentoso específico para a Esclerose Lateral Amiotrófica é um medicamento, o riluzol. Ele atua como neuroprotetor e prolonga a vida dos pacientes. O esquema de administração indicado é o de 01 comprimido de 50 mg VO de 12/12h. O acompanhamento deve ser feito pelo neurologista e o tratamento suspenso se as transaminases subirem 5 vezes acima do limite superior ou se ocorre citopenia. 

Além disso, faz-se uso de medicações sintomáticas, como antidepressivos e lactulose, de acordo com o quadro do paciente, visando melhorar a qualidade de vida.

Conclusão

A Esclerose Lateral Amiotrófica é uma doença neurodegenerativa de causa ainda não totalmente compreendida, que afeta os neurônios motores, causando perda progressiva da motricidade e uma série de sinais e sintomas, afetando até menos a capacidade de deglutição e respiração. 

Não há cura para a ELA e, após o diagnóstico feito com base nos critérios de El Escorial, é feito o tratamento específico com Riluzol e sintomático, com o objetivo de prolongar a sobrevida e melhorar a qualidade de vida.

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