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29/7/22

Hipertireoidismo: entenda o que é, seus sintomas e tratamento

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Hipertireoidismo: entenda o que é, seus sintomas e tratamento

O hipertireoidismo é um distúrbio da tireoide comum, especialmente entre as mulheres. A prevalência é de 1,3% na população, aumentando para 5% em mulheres mais velhas.

Ele pode ser causado por diferentes distúrbios, tendo como principal causa a Doença de Graves. É essencial que a causa correta seja identificada para que seja tratada de forma apropriada.

Nesse post iremos abordar o que é, suas causas, o quadro clínico e tratamentos!

O que é o hipertireoidismo?

Este é o termo reservado para designar um estado metabólico causado pelo aumento na função da glândula tireoide, com consequente aumento dos níveis circulantes dos hormônios tireoidianos: T3 e T4.

Ele pode levar a um quadro de tireotoxicose, uma síndrome clínica caracterizada pelo excesso de hormônios tireoidianos, com uma apresentação típica de sintomas.

Tireotoxicose X Hipertireoidismo

Todo caso de aumento na função da glândula tireoide leva a um quadro de tireotoxicose, mas nem todo quadro de tireotoxicose é causado por hipertireoidismo.

Sendo assim, existem causas de tireotoxicose sem hipertireoidismo. Elas indicam inflamação e destruição do tecido tireoidiano, com liberação de hormônio pré-formado na circulação ou de fonte extratireoidiana de hormônio tireoidiano.

Pode ser causado por tireoidite, ingestão exógena de hormônio tireoidiano ou produção ectópica de hormônio tireoidiano.

A tireotoxicose sem e com hipertireoidismo pode ser diferenciada pelos achados da captação de radioiodo em 24 horas.

Nos casos onde não há um aumento na função da glândula tireoide, a captação de radioiodo é quase ausente, enquanto naqueles casos onde há um aumento, a captação está normal/aumentada.

Etiologia

As causas primárias são variadas, podendo ter captação normal ou alta de radioiodo, o que indica síntese de novo hormônio. São elas:

Doença de Graves

A Doença de Graves é a causa mais comum nesse disfunção, representando quase 80% dos casos. Ela ocorre mais frequentemente em mulheres, principalmente entre 20 e 50 anos.

É uma doença autoimune, na qual anticorpos do receptor do TSH (hormônio estimulante de tireoide) - sendo o TRAb o principal - estimulam o crescimento da tireoide e a síntese e liberação de T3 e T4.

Alguns fatores de risco para desenvolvimento da doença são eventos estressantes, ingestão alta de iodo, tabagismo e alguns medicamentos, como o lítio. 

Adenoma tóxico e bócio multinodular tóxico

O adenoma tóxico e bócio multinodular tóxico são causas que surgem devido a hiperplasia focal ou difusa das células foliculares da tireoide, causada por mutações somáticas de genes do receptor do TSH.

Essa hiperplasia forma nódulos. Assim, no caso do adenoma tóxico, é um nódulo solitário capaz de produzir hormônios tireoidianos em excesso. Já o bócio multinodular tóxico, apresenta pelo menos 2 nódulos autônomos hiperfuncionantes

Tireotoxicose por tireoidite de Hashimoto 

A doença de Hashimoto é autoimune, e normalmente causa hipotireoidismo, por mecanismos semelhantes à Doença de Graves.

Em alguns casos raros, os pacientes podem apresentar inicialmente  o hipertireoidismo e alta captação de radioiodo.

Em seguida, evolui com hipotireoidismo, devido à infiltração da glândula por linfócitos e destruição autoimune do tecido tireoidiano.

Hipertireoidismo induzido por iodo

Embora incomum, um consumo excessivo de iodo pode causar esse aumento na função da glândula tireoide, como por exemplo após administração de contraste para tomografia ou uso de drogas como amiodarona.

Doença trofoblástica e tumores de células germinativas

Níveis elevados de hCG geram uma ativação dos receptores de TSH, devido a semelhança estrutural das moléculas (mimetismo), gerando esta disfunção na tireoide. 

Quais os sintomas do hipertireoidismo?

Os sinais e sintomas clássicos comuns a todas as etiologias são:

  • Intolerância ao calor;
  • Tremores;
  • Palpitações e taquicardia;
  • Ansiedade;
  • Perda de peso, apesar de apetite normal ou aumentado;
  • Aumento da frequência de evacuações;
  • Dispneia;
  • Insônia;
  • Sudorese abundante;
  • Olhar fixo e atraso da pálpebra;
  • Polidipsia;
  • Pele quente;
  • Hiperatividade e fala rápida.

Esses sintomas se devem a uma hiperativação do metabolismo, causado pelo aumento de T3 e T4.

No exame físico, pode-se encontrar um bócio, que pode causar disfagia e dispneia. Na Doença de Graves, esse bócio costuma ser difuso.

Bócio difuso. Fonte: Blog Ler e Aprender
Bócio difuso. Fonte: Blog Ler e Aprender 

Algumas doenças podem aparecer como complicação, dentre eles fibrilação atrial (10 a 20% dos pacientes) e osteoporose.

Doença de Graves

Alguns sintomas são mais específicos quando o aumento na função da glândula tireoide ocorre por Doença de Graves, como prurido, urticária e edema em “casca-de-laranja” (mixedema pretibial), devido desenvolvimento de dermopatia infiltrativa

Pode aparecer uma orbitopatia caracterizada por inflamação músculos extraoculares e da gordura orbital e do tecido conjuntivo, que resulta em exoftalmia

Além disso, pode ter a sensação de areia, dor nos olhos e diplopia.

Vermelhidão, retração de pálpebra, protusão ocular. Fácies típica de hipertireoidismo. Fonte: Semioblog Humanitas 
Vermelhidão, retração de pálpebra, protusão ocular. Fácies típica de hipertireoidismo. Fonte: Semioblog Humanitas 

É comum a associação de doença de Graves com doença celíaca e outras condições autoimunes.

Os idosos podem não ter os sintomas clássicos, apresentando o chamado hipertireoidismo apático, apenas com alterações cardiovasculares e sintomas inespecíficos.

Diagnóstico

Com a suspeita guiada pelos sinais e sintomas, podem ser solicitados testes laboratoriais.

Os testes de função da tireoide (TSH sérico, T3 e T4 livres) são essenciais. Isso porque, o TSH sérico está diminuído em todos os casos de hipertireoidismo primário, sendo a maioria com valores < 0,05 mU/L

Já o T3 e T4 séricos costumam estar em concentrações aumentadas.

Existem outros achados inespecíficos que podem sugerir aumento na função da glândula tireoide, são eles

  • Concentrações séricas de colesterol total e HDL diminuídas;
  • Concentrações séricas de LDL aumentadas; e
  • Anemia normocrômica e normocítica, fosfatase alcalina e osteocalcina altas.
CLASSIFICAÇÃO DO HIPERTIREOIDISMO
Hipertireoidismo primário ↑ T3 e/ou T4 ↓ TSH
Hipertireoidismo secundário ↑ T3 e/ou T4 ↑ TSH ou normal
Hipertireoidismo subclínico T3 e T4 normais ↓ TSH
Classificação do hipertireoidismo. Fonte: EMR

Tratamento para o hipertireoidismo

O tratamento ideal vai depender da etiologia e do caso. As opções incluem drogas antitireoidianas, iodo radioativo e cirurgia.

Drogas antitireoidianas

Elas são indicadas como terapia de primeira escolha para remissão da doença, controle antes do radioiodo ou cirurgia, crianças e jovens com bócio pequeno e gestantes. 

As drogas antitireoidianas são as tionamidas, que agem inibindo síntese dos hormônios tireoidianos e a conversão periférica de T4 em T3. As opções são metimazol (MMZ)  e propilitouracil (PTU).  

Iodo radioativo

O iodo radioativo é uma opção eficaz, segura e de baixo custo, indicado para idosos, recidiva após tionamidas, cardiopatas.

Ele é responsável por causar a destruição do tecido tireoidiano. 

Cirurgia

A cirurgia é outra opção, podendo ser tireoidectomia parcial ou total. A subtotal tem menos complicações, porém é mais recidivante.

Ela tem indicação para bócios grandes com sintomas compressivos, nódulos suspeitos e após crise tireotóxica

Antes da sua realização, é preciso realizar os preparativos pré-operatório com tionamidas e iodo.

Crise tireotóxica

A crise tireotóxica é um estado de exacerbação da tireotoxicose, com evidências de descompensação de um ou mais sistemas.

Podemos encontrar:

  • Alteração no estado mental, variando de agitação e psicose a estupor e coma.
  • Hipertermia e sudorese intensa.
  • Taquicardia acentuada, FA aguda e insuficiência cardíaca de alto débito.
  • Disfunção hepática e gastrointestinal, com diarreia, náusea, vômitos, dor abdominal e icterícia.

O tratamento é realizado com PTU de altas doses, iodo (1h após PTU), propranolol e dexametasona.

Conclusão

O hipertireoidismo é uma condição comum, com quadro clássico, que pode, porém, causar complicações importantes.

O reconhecimento dos sintomas clássicos e saber como diagnosticar é essencial para a remissão dos sintomas.

Para tratar a condição, existem diversas opções com diferentes indicações. 

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