Apesar de ser incomum, o câncer de vesícula biliar apresenta uma alta taxa de malignidade e fatalidade.
Menos de 5.000 casos são registrados por ano nos Estados Unidos, sendo sua incidência estimada em 1 a 2 casos a cada 100.000 habitantes nesse país.
Entretanto, o câncer de vesícula raramente é descoberto em estágio ressecável, tendo como taxa de sobrevida média em 5 anos de 5 a 12%.
Dessa forma, conhecer os fatores de risco dessa doença, bem como seus sinais e sintomas e formas de diagnóstico é imprescindível.
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O que é Câncer de Vesícula Biliar?
O câncer de vesícula biliar é o câncer de trato biliar mais comum do mundo.
Acomete predominantemente mulheres (3:1) e ocorre com mais frequência em pacientes com idade superior a 70 anos. E ainda, é mais comum em brancos do que em negros.
A colelitíase é o principal fator de risco e está associada a este tumor maligno em 95% dos casos. Aumentando assim as chances de incidência em até 34 vezes.
Apesar disso, o câncer de vesícula biliar incide em menos de 1% dos pacientes com colelitíase. Sendo o risco para desenvolver a doença maior em pacientes que apresentam cálculos > 3cm.
Além disso, a obesidade também é um fator de risco para a doença. E ainda, infecções por Salmonella e Helicobacter são também consideradas fatores de risco para a doença.
Causas da doença
Acredita-se que esses fatores de risco promovam o desenvolvimento do câncer através de uma inflamação crônica.
E mais, a maioria dos cânceres de vesícula são adenocarcinomas (90%), e são seguidos pelos carcinomas de células epiteliais.
Além disso, o câncer de vesícula biliar pode apresentar dois padrões de crescimento: infiltrante e exofítico.
Padrão infiltrante
O padrão infiltrante é o mais comum, geralmente surgindo como uma área mal definida, espessa e endurecida difusamente pela parede da vesícula.
Posteriormente, esse padrão tende a invadir as camadas externas da vesícula.
Padrão exofítico
Já o padrão exofítico cresce para o interior do lúmen, como uma massa irregular em formato de couve-flor, invadindo ao mesmo tempo a parede subjacente.
Quais são os sinais e sintomas?
A maioria dos pacientes com câncer de vesícula são assintomáticos, ou apresentam sintomas pouco específicos e que se assemelham a colecistite ou a colelitíase.
Assim, quando presentes, os sintomas mais comuns são a dor abdominal, anorexia, náuseas e vômito.
Entretanto, como esses pacientes comumente têm a colelitíase associada, suspeitar de câncer torna-se desafiador.
Apesar disso, indivíduos com sintomas que mimetizam a colelitíase apresentam melhor prognóstico.
Para mais, são sintomas mais comuns quando a doença já está em estágios mais avançados o mal-estar, a perda de peso e a icterícia. Sendo esses sintomas mais facilmente diferenciados das cólicas biliares.
A icterícia pode ocorrer quando o tumor invade os ductos biliares, ou quando há metástase para o ligamento hepatoduodenal.
E ainda, deve-se elevar a suspeita quando houver icterícia por obstrução do infundíbulo da vesícula ou ducto cístico por cálculo biliar, causando compressão do ducto hepático comum. Isso caracteriza a síndrome de Mirizzi.
E ainda, outro sinal que pode estar presente é o sinal de Courvoisier. Esse corresponde a presença da icterícia associada a uma vesícula palpável no exame físico, e também é sugestivo de neoplasia.
Quais as principais formas de diagnosticar?
A forma mais comum de diagnóstico é de maneira incidental, durante a colecistectomia devido a colelitíase.
O câncer de vesícula biliar é um achado em 1 a 2% dos pacientes que realizam essa cirurgia.
Dessa forma, o diagnóstico pré-operatório é pouco comum, ocorrendo em menos de 20% dos pacientes.
Entretanto, recomenda-se a avaliação de pacientes com a colelitíase sintomática com o ultrassom (USG), sendo comumente o exame de imagem inicial no diagnóstico do câncer de vesícula.
Nesse exame, deve-se estar atento para achados suspeitos. Como a presença de massas projetadas para o lúmen, a perda da interface entre a vesícula e o fígado e a infiltração hepática.
E ainda, aumento da espessura da parede da vesícula que não pode ser explicada pela colelitíase e a presença de pólipos ≥ 10 mm, visto que esses apresentam maior risco de transformação.
Devido a presença de pólipos > 1 cm apresentar maiores chances de serem tumores invasivos, a colecistectomia deve ser considerada nestes casos.
Após o achado suspeito na USG, o paciente deve realizar outro exame de imagem para avaliar o estadiamento do câncer.
Para esses casos, é indicado o estadiamento com ressonância magnética (RM) ou com tomografia computadorizada (TC).
Sendo a técnica mais acurada para definir estadiamento, a invasão vascular e do trato biliar a colangiopancreatografia por ressonância magnética CPRM.
Por fim, a TC e a RM também estão indicados para os pacientes diagnosticados com câncer de vesícula após a colecistectomia.
Estágios do câncer
O estadiamento tem função de descrever aspectos do câncer, bem como sua localização, se há disseminação e se acomete outros órgãos.
Assim, o estadiamento do câncer de vesícula segue a classificação TNM.
Observe a tabela abaixo para classificação do T (tumor primário). Essa tabela indica o tamanho do tumor e se houve disseminação.
Observe agora a tabela para classificação do N (linfonodos). Essa classificação indica se houve disseminação da doença para linfonodos regionais próximos ao tumor.
Para mais, observe a classificação M (metástase). Indica se há ou não presença de metástase em outras regiões do corpo.
Por fim, os fatores prognósticos mais importantes desse câncer são o estado dos linfonodos regionais e a profundidade da invasão tumoral.
Possíveis tratamentos
O tratamento é principalmente cirúrgico.
Assim, indica-se a colecistectomia simples para doença no estágio T1, ou colecistectomia radical (hepatectomia parcial e dissecção de linfonodos regionais) para doença no estágio T2.
A taxa de sobrevida em 5 anos desses pacientes detectados precocemente é de 80 a 90% para estágio T1 e, para estágio T2, de 60 a 90%.
Entretanto, apenas 20% dos pacientes diagnosticados são candidatos à cirurgia com intenção curativa.
Assim, os cânceres de vesícula biliar em estágio T3 e T4 são considerados não ressecáveis, não existindo um tratamento satisfatório para esses casos.
Conclusão
Apesar de ser um tumor pouco frequente na população, o câncer de vesícula biliar é de difícil diagnóstico.
As consequências disso são o achado do tumor em estágios avançados e, consequentemente, sem um tratamento curativo disponível para o paciente.
Por isso, é de fundamental importância reconhecer sua existência, reconhecer seus sintomas e suas formas de diagnóstico. Bem como estar atento aos achados ultrassonográficos de pacientes com colelitíase, a fim de detectar uma lesão suspeita.
Leia mais:
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- Câncer Colorretal: Quais os Sintomas, Diagnóstico e Tratamento
FONTES:
- MEHROTRA, B. Gallblader cancer: Epidemiology, risk factors, clinical features and diagnosis. UpToDate. 2022. Acesso em: 20/05/2022. Disponível em:
- FAUCI, Jameson. et al. Medicina Interna de Harrison. Porto Alegre: AMGH, 2020.
- KUMAR, V. et al. Bases Patológicas das Doenças. Rio de Janeiro: Elsevier, 2021.