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Publicado em
24/11/22

Câncer de próstata: o que é, rastreio e tratamento

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Câncer de próstata: o que é, rastreio e tratamento

O câncer de próstata é a segunda neoplasia mais frequente em homens, atrás apenas do câncer de pele não melanoma. Estima-se que ocorreram mais de 65 mil novos casos em 2020, segundo o Ministério da Saúde. É mais comum em homens negros e acima dos 65 anos, sendo passível de diagnóstico precoce, por meio do rastreio.

O Novembro Azul é uma campanha mundial que marca o mês de cuidado com a saúde do homem. O câncer de próstata acaba ganhando destaque durante esse mês devido sua grande prevalência na população masculina.

Neste post abordaremos sobre o câncer de próstata, seu diagnóstico e tratamentos!

O que é câncer de próstata?

O câncer de próstata ocorre quando há uma multiplicação desordenada de células anormais (malignas) na próstata, glândula produtora de sêmen encontrada na parte baixa e posterior do abdômen, formando um tumor. Ele costuma ser de evolução lenta, sendo a zona periférica da glândula o local mais afetado.

Zonas da próstata. Fonte: Unicamp; link da fonte: https://drpixel.fcm.unicamp.br/conteudo/intervencao-prostatica 
Zonas da próstata. Fonte: Unicamp

Fatores de risco

Os principais fatores de risco para câncer de próstata são:

  • Idade avançada (> 65 anos);
  • Obesidade;
  • Fatores genéticos (como mutação nos genes BRCA1, BRCA2 e ATM);
  • Etnia negra;
  • Aspectos dietéticos (ingestão de gordura animal, carne vermelha, embutidos).

Já como fatores protetores, encontram-se a vitamina E, o licopeno (tomate), ômega e selênio.

Sintomas do câncer de próstata

A maioria dos cânceres de próstata são assintomáticos, por isso o rastreio se torna ainda mais importante. Quando os casos se tornam sintomáticos, normalmente, a neoplasia já se encontra em estados avançados.

Aqueles sintomas que aparecem podem ser de causa obstrutiva ou irritativa. Sendo assim, costuma ocorrer obstrução urinária infravesical, alterações urinárias como micção frequente, nictúria e hematúria macroscópica, disfunção erétil, dores ósseas e perda de peso. Esses sintomas já indicam doença avançada. Além de anemia, linfadenopatias, uremia, linfedema e trombose venosa de membros inferiores.

Diagnóstico e rastreio

O rastreio do câncer de próstata é feito por meio do toque retal e dosagem de PSA, sendo confirmado, se houver alteração nesses primeiros, por meio da biópsia.

Exame retal

No toque retal, a neoplasia vai se mostrar como região endurecida, por vezes nodular, de consistência lenhosa. Vale salientar que uma próstata normal teria consistência fibroelástica.

Dosagem de PSA

O PSA é o “antígeno específico da próstata”, que, geralmente, se encontra, aumentado (maior que 4 ng/ml) em casos de câncer de próstata. Porém, outras causas também podem gerar seu aumento, como na hiperplasia prostática benigna e na infecção urinária.

Exame de imagem

Em pacientes com exame retal e/ou com dosagem de PSA duvidosos, ou naqueles que se recusarem a realizar o toque retal, pode ser feita a ultrassonografia transretal. Outros exames de imagem como tomografia e ressonância têm baixa sensibilidade.

Pacientes com dosagem de PSA acima de 20 ng/ml indica-se realização de cintilografia óssea para verificar metástases ósseas.

Biópsia 

O diagnóstico de certeza do câncer é feito pelo estudo histopatológico do tecido obtido pela biópsia da próstata. Sendo indicado para pacientes com dosagem do antígeno maior que 4 ng/ml, maior que 2,5 ng/ml em jovens com menos de 55 anos,  naqueles em que a densidade for maior que  0,15 e a velocidade de aumento do valor for maior que 0,75 ng/ml/ano e/ou naqueles pacientes com toque retal alterado. Retira-se de 6 a 12 áreas da próstata, guiado por ultrassom, para análise.

Padrões histológicos

O câncer de próstata pode ser dividido, histologicamente, em 5 graus (graus 1, 2, 3, 4 e 5). Sendo o grau 1 o que se encontra com células mais diferenciadas e no grau 5 as células estão menos diferenciadas. Observe a seguir:

Classificação histológica do câncer de próstata. Fonte: Patognomo; link da fonte:  https://www.patognomo.com/2018/01/score-de-gleason.html 
Classificação histológica do câncer de próstata. Fonte: Patognomo 

O Escore de Gleason foi criado para avaliar o grau histológico do câncer de próstata, por meio da soma do padrão mais prevalente nas amostras de biópsia e o segundo mais prevalente. O resultado pode variar de 2 a 10 pontos.

Pacientes com Gleason de 2 a 4 provavelmente tem um crescimento lento, de 4 a 7 intermediário e de 8 a 10 um crescimento rápido.

Neoplasia intraepitelial prostática (NIP)

A neoplasia intraepitelial prostática é uma proliferação celular que acomete a glândula, de aparência benigna. Pode ser dividida em baixo ou alto grau, sendo a de alto grau a alteração que precede o câncer de próstata. Homens com NIP de alto grau desenvolvem a neoplasia maligna entre 5 e 10 anos.

Estadiamento

O estadiamento do câncer de próstata é feito por meio da classificação TNM, como vemos a seguir:

T - Tumor
TX Tumor primário não pode ser avaliado
T0 Sem evidência de tumor primário

T1

Tumor clinicamente inaparente, não palpável, não visto em exame de imagem
T1a – Achado histológico incidental ou 5% ou menos do tecido ressecado
T1b – Achado histológico incidental em mais de 5% de tecido ressecado
T1c - Tumor identificado por biópsia de agulha (PSA alto)
T2 Tumor confinado à próstata
T2a – Tumor que envolve metade de um dos lobos ou menos
T2b – Tumor que envolve mais da metade de um dos lobos, mas não ambos os lobos.
T2c – Tumor que envolve ambos os lobos
T3 Tumor que se estende pela cápsula prostática
T3a – Extensão extracapsular
T3b – Tumor que invade vesícula seminal
T4 Tumor que está fixo ou invade outras estruturas adjacentes, que não vesículas seminais.
N - Linfonodos regionais
NX Linfonodos regionais não podem ser avaliados
N0 Ausência de metástase em linfonodos regionais
N1 Metástase em linfonodo regional
M - Metástase a distância
M0 Ausência de metástase à distância
M1 Metástase à distância (incluindo linfonodos supraclaviculares)
M1a – Linfonodo não regional.
M1b – Osso
M1c – Outras localizações com ou sem acometimento ósseo
TEstadiamento TNM para câncer de próstata. Fonte: NeoUro

Classificação de risco

O risco do paciente pode ser classificado entre baixo, intermediário e elevado, de acordo com a dosagem de PSA, o Gleason e o estadiamento.

RISCO PARA DESENVOLVER CÂNCER DE PRÓSTATA
Baixo PSA ≤ 10 ng/ml, Gleason ≤ 6 e estadiamento T1c ou T2a
Intermediário PSA 10 - 20 ng/ml, Gleason 7 e estadimento T2b
Alto PSA > 20 ng/ml, Gleason 8 - 10 e estadiamento T2c ou mais
Risco do câncer de próstata. Fonte: NeoUro Scielo

Tratamento do Câncer de Próstata 

O tratamento de escolha varia de acordo com o estadiamento da doença, da idade e do estado geral do paciente. Tem-se como opção a braquiterapia, radioterapia, hormonioterapia, quimioterapia e cirurgia (prostatectomia). A prostatectomia costuma ser radical, com retirada inclusive das vesículas seminais, e pode causar disfunção erétil e incontinência urinária.

Doença localizada

Em pacientes de baixo risco, com doença localizada, pode ser possível apenas a realização da vigilância ativa, por meio da realização periódica de dosagem de PSA e biópsia prostática. Porém, essa estratégia é mais recomendada se o indivíduo já tiver mais de 65 anos, pois adultos-jovens costumam ter tumores de crescimento rápido.

A braquiterapia, que é a implantação de sementes radioativas na próstata, é uma outra opção em quem tem doença localizada e sem indicação de vigilância ativa. Para esses pacientes, pode ser feita também a prostatectomia radical em conjunto com radioterapia externa.

Doença localmente avançada

Para pacientes com risco intermediário, com doença localmente avançada, a melhor opção parece ser a radioterapia externa com ablação androgênica de longa duração. Porém, se ele for jovem com comorbidades, prefere-se prostatectomia radical com radioterapia ou hormonioterapia adjuvante. A hormonioterapia atua inibindo os androgênios, que estimulam o crescimento do câncer. 

Câncer metastático 

Em pacientes com câncer metastático, a prostatectomia deixa de ser uma opção viável. Tornam-se melhores opções a hormonioterapia, a administração de estrogênio ou a ablação androgênica via orquiectomia (retirada dos testículos). Em caráter paliativo, pode ser feita a ressecção transuretral para alívio de sintomas.

A quimioterapia é utilizada apenas nos casos refratários aos hormônios e quando a hormonioterapia sozinha não é capaz de conter a doença.

Seguimento

Após tratamento curativo, recomenda-se seguimento com exames de rotina (dosagem de PSA e toque retal) nos 3, 6 e 12 meses seguintes. Após isso, recomenda-se que o rastreio seja realizado semestralmente por 3 anos. Em seguida, pode ser mantido o rastreio anual.

Conclusão

O câncer de próstata é extremamente comum, principalmente com o avançar da idade. Por muitas vezes ser assintomático, recomenda-se o rastreio nos homens de maior risco, por meio da dosagem do PSA e do exame de toque retal. Se diagnosticado precocemente, o prognóstico é melhor. O tratamento vai variar de acordo com cada caso, podendo variar de apenas vigilância a cirurgia e tratamentos com radiação.

Leia mais:

FONTES:

  • CALADO, Adriano; et. al. Urologia geral para o estudante de medicina. Universidade de Pernambuco.
  • Câncer de próstata. Ministério da Saúde. 2022.