O transtorno de personalidade borderline é um transtorno psiquiátrico comum, sendo o transtorno de personalidade mais comum e estudado.
É mais prevalente em mulheres, sendo caracterizado por um comportamento instável, emocional e impulsivo.
Tem prevalência de cerca de 25% em pacientes internados em hospitais psiquiátricos e de 15% em pacientes atendidos ambulatoriamente, com a incidência aumentando a cada ano.
Neste post vamos entender o que é o transtorno de personalidade borderline, seus critérios diagnósticos e como tratar!
O que é o Transtorno de Personalidade Borderline?
O Transtorno de Personalidade Borderline é caracterizado por um humor instável, dramático e impulsivo, devido a uma desregulação emocional intensa.
“Borderline” é um termo em inglês que significa na fronteira, no limite. A disfunção recebe esse nome devido a característica de instabilidade dos pacientes, como se vivessem no limite, podendo a qualquer momento mudar bruscamente de humor.
Os transtornos de personalidade são entidades nosológicas compreendidos como padrões de funcionamento interpessoal, cognitivo e afetivo disfuncionais, causando dificuldades e sofrimento ao indivíduo ou pessoas próximas a ele.
As características são notáveis desde muito cedo, tornando- se mais claras e intensas na adolescência.
A personalidade Borderline é a mais comum e a mais bem entendida pela psiquiatria.
Está classificado no Cluster B dos transtornos de personalidade, no qual estão incluídas suas principais características: a dramatização excessiva, o comportamento errático, impulsivo e emocional.
Etiologia
A etiologia e fisiopatologia do transtorno de personalidade borderline ainda é pouco compreendida, porém ainda é a mais conhecida entre os transtornos de personalidade.
Foi visto elevação crônica do nível de cortisol e maior ativação da amígdala nos pacientes borderline, além de diminuição da ativação do córtex cingulado anterior dorsal, do giro frontal inferior e do córtex pré-frontal dorsolateral e ventromedial.
Todas essas regiões cerebrais têm relação com o funcionamento cognitivo e à regulação de emoções, o que explicaria a desregulação emocional.
Fatores de risco
História de abuso físico e sexual, negligência e separação dos pais são comuns, porém existem diversos pacientes sem esses antecedentes.
Alguns outros fatores de risco são: pobreza, abandono e problemas familiares, trauma, sexo feminino e situações estressoras.
Apresentação clínica
Também chamado de transtorno de personalidade instável, os indivíduos apresentam desregulação emocional acentuada, instabilidade afetiva, relacionamentos conturbados, sensação de vazio crônico, impulsividade, podendo chegar à psicose e sintomas dissociativos fugazes.
Os gatilhos desse transtorno são estressores interpessoais. Os borderlines são pessoas que têm grande medo do abandono (sendo esse medo muitas vezes irracional) e reações desproporcionais a determinadas situações.
É um distúrbio que tem grande relação com o comportamento suicida e automutilador, devido à sua natureza de impulsividade.
Confira o caso clínico abaixo para entender melhor quais são essas apresentações clínicas:
Diagnóstico
O diagnóstico do transtorno de personalidade borderline é clínico. O DSM-V propôs critérios para facilitar o diagnóstico. Veja a seguir:
Comorbidades
Nos transtornos psiquiátricos é comum a associação de outras comorbidades psiquiátricas.
No caso do transtorno de personalidade borderline, as principais comorbidades são: transtorno depressivo maior, dependência química, transtornos alimentares (principalmente bulimia nervosa), transtorno do estresse pós-traumático e TDAH.
Entre os transtornos de personalidade comórbidos, encontram-se principalmente os do Cluster C, sendo o dependente e o evitativo os mais característicos.
Tratamento
O tratamento do transtorno de personalidade borderline pode ser feito por meio da psicoterapia e, se necessário, associação com fármacos.
Psicoterapia
A psicoterapia é a primeira linha para o transtorno de personalidade borderline. Abordagens como terapia comportamental dialética (TCD) e terapia baseada na mentalização (TBM) são algumas com comprovação científica de efetividade.
Medicamentoso
Os psicofármacos devem ser usados para tratar as comorbidades ou podem ser focados no controle dos sintomas.
Para diminuição da desregulação afetiva e controle da impulsividade e agressividade, podem ser utilizados estabilizadores de humor, como o lítio, ou antipsicóticos de 2ª geração, como aripiprazol, podem ser úteis.
Para sintomas psicóticos, pode-se utilizar antipsicóticos atípicos.
O uso de benzodiazepínicos deve ser evitado, pelo risco de aumento da impulsividade e de abuso.
Conclusão
O transtorno de personalidade borderline é o mais estudado, com sua prevalência aumentando com os anos.
Ele é caracterizado por uma grande instabilidade de humor e afetiva, em que o paciente vai de extremos de raiva, a felicidade em pouco tempo.
Pode ser diagnosticado clinicamente por meio dos critérios propostos pelo DSM-V e tratado por meio de psicoterapia com associação de fármacos se necessário.
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FONTES:
- HUMES, Eduardo; et. al. Clínica Psiquiátrica – Guia Prático. Instituto de Psiquiatria da USP. 1ª Ed. 2019.
- Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-V. American Psychiatric Association. 5ª Ed. 2014.
- KAPLAN & SADOCK. Compêndio de Psiquiatria. 11ª Ed. 2017.