O delirium, também conhecido como estado confusional agudo ou sofrimento cerebral agudo, é uma das síndromes neuropsiquiátricas mais comuns nos hospitais gerais. A condição também é frequente em pacientes atendidos em unidades de emergência e UTI’s, especialmente na população idosa.
Nesse post iremos abordar como essa temática é abordada nas provas de residência, dando dicas que vão te ajudar a ter mais facilidade com as questões desse tema!
O que é delirium?
O delirium é uma turvação aguda nos níveis de consciência e cognição de um indivíduo, com particular comprometimento flutuante da atenção. Essa condição é secundária a um quadro orgânico, e ocorre com frequência no ambiente hospitalar, em unidades de cuidados pós-operatórios e paliativos.
A incidência do estado confusional em pacientes que estão em unidade de terapia intensiva pode atingir 80%. Acomete com maior intensidade os idosos, podendo ser inclusive um sintoma de infecções, como ITU.
Quais as etiologias?
Os principais fatores precipitantes são:
- Doenças do SNC: Enxaqueca, acidente vascular cerebral (AVC), lesão cerebral traumática, tumor cerebral, demência (doenças de Parkinson, Alzheimer, corpos de Lewy);
- Agentes farmacológicos: Analgésicos, antibióticos, anestésicos, antihipertensivos, anticolinérgicos;
- Doenças sistêmicas: Infecções (ex: pneumonia, sepse, infecções do trato urinário, doença de Lyme), distúrbios hidroeletrolíticos, traumatismos, desidratação, queimaduras, deficiência nutricional, hepatite.
Acredita-se que essa condição seja resultante da associação entre a baixa reserva cognitiva e a resposta cerebral a fatores externos, que tende a ser mais alarmante de acordo com a intensidade da injúria. Além do comprometimento cognitivo, o envelhecimento e o consumo excessivo de álcool antes da admissão hospitalar são também fatores predisponentes.
DICA DE PROVA
Nas provas, normalmente, o caso vai indicar um fator causal que costuma ser infecção, desidratação, distúrbio hidroeletrolítico e pós-operatório de fratura de fêmur. O paciente costuma ser idoso.
Continue lendo:
- Como escolher a área da residência médica: dicas e orientações
- Dicas para escolher a melhor instituição para realizar a residência médica
- Pró-residência 2023: editais já publicados
Qual a fisiopatologia do delirium?
A fisiopatologia ainda não está completamente elucidada, mas parece ter origem em distúrbios generalizados, em regiões corticais superiores e subcorticais, como notado pelos seus sintomas generalizados.
O neurotransmissor acetilcolina apresenta papel fundamental no delirium, pois a diminuição da atividade colinérgica parece estar intrinsecamente envolvida em várias das causas já citadas anteriormente. O excesso de dopamina também parece ser uma possível explicação para o quadro.
Quais os sintomas do delirium?
O delirium pode se apresentar de forma diferente em cada paciente. Ele pode ter dificuldade de manter o foco e em se identificar temporalmente e espacialmente. A característica mais marcante é a flutuação dos níveis de atenção e de consciência de instalação aguda.
Além disso, pode haver polarização do humor para depressivo ou hipomaníaco e o pensamento pode estar lentificado ou acelerado, com ideias desorganizadas e conteúdo bizarro. Esse conteúdo bizarro vai desde ideias sobrevalorizadas até distorções da realidade (delírio persecutório/paranóide, de ciúme, de autorreferência, de controle, etc).
Outras características psicóticas que podem estar presentes são ilusões e alucinações. As alucinações podem ocorrer em qualquer modalidade sensitiva, mas, quando decorrentes de quadros orgânicos, as visuais são mais comuns. É comum também alterações no ciclo sono-vigília.
Uma outra forma de agrupar as manifestações clínicas do delirium é entre os subtipos hiperativo, hipoativo e misto. Pacientes com o subtipo hiperativo possuem sintomatologia exuberante e são diagnosticados mais rapidamente, a agitação é a característica mais marcante e podem ter heteroagressividade ou autoagressividade.
Aqueles com o subtipo hipoativo costumam apresentar lentificação e sonolência, com diagnóstico tardio ou, às vezes, nunca feito, o que se associa a um pior prognóstico. O subtipo misto apresenta características dos dois anteriores.
Como fazer o diagnóstico?
O diagnóstico do estado confusional agudo é essencialmente clínico. Os exames complementares são importantes na investigação pela causa base, porém os resultados negativos não necessariamente irão excluir o diagnóstico.
Exames laboratoriais
Os exames laboratoriais ajudam a definir a etiologia. Alguns exames que podem ser pedidos são hemograma completo, eletrólitos, função renal e hepática, glicose, testes de função da tireoide, testes sorológicos para sífilis e HIV. E ainda, sumário de urina, eletrocardiograma, eletroencefalograma e radiografia de tórax.
E ainda, culturas (sangue, urina e LCR), concentrações de B12 e ácido fólico, tomografia ou ressonância cerebral, punção lombar e exame do LCR podem ser úteis.
Quais os possíveis tratamentos?
O tratamento geral do sofrimento cerebral agudo inclui o tratamento da causa subjacente e medidas gerais de apoio físico, sensorial e ambiental para o paciente e para a sua família. Devem ser removidos, sempre que possível, excessos nas prescrições e drogas com potencial efeito predisponente. Buscar colocar relógios, aparelho auditivo, óculos e paciente numa sala com janela sempre que possível.
O haloperidol, popularmente conhecido como haldol, costuma ter boas respostas nos tipos hiperativo e misto, podendo ser indicado nessas situações. É feito de 0,5 mg a 1 mg, VO, a cada 30 minutos até o controle da agitação. Em caso de contraindicação, podemos lançar mão de antipsicóticos atípicos. Não é recomendado o uso de benzodiazepínicos, nem contenção física.
DICA DE PROVA
O benzodiazepínico no geral não é recomendado, mas pode ser usado em dois casos: abstinência alcóolica e dependência de benzodiazepínicos.
Conclusão
É de fundamental importância que o estudante e o profissional médico tenham em mente os principais fatores de risco para o delirium. Sendo necessário recordar desse diagnóstico diferencial toda vez que atenderem um paciente na emergência, especialmente os idosos. Um rápido diagnóstico possibilita pronta intervenção e menores complicações para o paciente.
Vamos ver uma questão NA PRÁTICA? Abaixo está o link de uma questão explicada pelo Dr. André Lafayette sobre Delirium.
Leia mais:
- Entenda o que é a doença de Parkinson, quais seus tipos, sintomas e possíveis tratamentos
- Residência em Psiquiatria: O que é, residência médica e mercado de trabalho
- Sepse: etiologias, como identificar, diagnóstico e tratamento
- Transtorno Depressivo Maior: você domina o manejo?
- Enxaqueca: diagnóstico, fisiopatologia e tratamento
FONTE:
- Compêndio de psiquiatria, 11a edição;
- HUMES, Eduardo; et. al. Clínica Psiquiátrica – Guia Prático. Instituto de Psiquiatria da USP. 1ª Ed. 2019;
- Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-V. American Psychiatric Association. 5ª Ed. 2014.