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Publicado em
17/10/22

Molusco Contagioso: etiologia, quadro clínico e tratamento

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Molusco Contagioso: etiologia, quadro clínico e tratamento

O Molusco Contagioso é uma dermatose viral capaz de infectar qualquer parte da pele e tem um curso de doença autolimitada. Sua maior prevalência ocorre entre indivíduos de 2 a 5 anos, além dos adultos sexualmente ativos e imunocomprometidos.

Essa é uma frequente razão de visita ao dermatologista pediátrico, mas deve ser capaz de ser diagnosticada por médicos generalistas da atenção básica!

O que é Molusco Contagioso?

O Molusco Contagioso é uma infecção de pele que leva a uma dermatose, e tem como agente transmissor o Molluscum contagiosum vírus (MCV), que pertence à família dos Poxvírus. Esse microorganismo possui 4 genótipos: MCV 1, MCV 2, MCV 3 e MCV 4. Dentre essa divisão, o MCV 1 é o mais expressivo na quantidade de infecções que provoca, tendo a primeira década de vida como faixa etária alvo. 

Fisiopatologia

O MCV inicia seu ciclo infeccioso com a transmissão, que acontece a partir do toque direto com a pele infectada (sexual, não sexual e autoinoculação) ou através de fômites que estiveram em contato com o agente (toalhas, roupas e piscinas). Logo em seguida, começa a replicação nas células epidérmicas, onde possui um período de incubação bastante variável entre duas semanas e seis meses. 

Apesar de ser possível que o Molusco Contagioso acometa de crianças a adultos, ele é mais frequentemente identificado em pré-escolares de dois a cinco anos, sendo raro antes do primeiro ano de vida. Além disso, não costuma ter preferência de incidência associada ao sexo e, por motivos ainda não esclarecidos, tem uma frequência elevada em locais de clima quente. 

Por fim, outros fatores de risco que devem sempre ser atentado é a imunossupressão pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV) e a dermatite atópica.

Apresentações Clínicas e Complicações

A apresentação clínica da dermatose causada pelo Molusco Contagioso é de lesões que não causam sintomatologia sistêmica e que podem acometer qualquer parte da pele, apesar de serem bem menos frequentes nas mucosas. 

Essas lesões formam pápulas firmes, arredondadas, róseas ou cor da pele, medindo de 2 mm a 3 cm, com superfície brilhante e aspecto "umbilicado" (reentrância central). As erupções podem ser únicas, múltiplas ou em agrupamentos, sendo comum o prurido.

Características da pápula do MCV. Fonte: Reprodução/Shutterstock
Características da pápula do MCV. Fonte: Reprodução/Shutterstock

Em pacientes imunossuprimidos ou com diagnóstico prévio de atopia, as lesões tendem a ser maiores e mais numerosas. Isso acontece devido à perda de funções e características de defesa da barreira cutânea. Outras particularidades que podemos ver é uma eczematização circundante (eczema perimolusco) ou uma infecção bacteriana secundária. Esse quadro de pacientes com dermatite atópica é chamado de "Molluscum dermatitis" ou "Eczema molluscorum".

A duração das lesões é relativa, mas são autolimitadas a períodos de 6 a 9 meses. Entretanto, alguns casos têm uma persistência de até 4 anos. Dentre isso, foi registrado um fenômeno chamado de "começo do fim" (BOTE, beginning of the end) em que o eritema e edema são marcos do início da regressão da doença, isso acontece por uma resposta imune à infecção do MCV.

Formas de Transmissão

A transmissão do Molusco Contagioso pode acontecer de forma direta ou indireta, como foi mencionado no início da fisiopatologia. Apesar disso, existem casos válidos de discussão que mencionaremos abaixo: a transmissão vertical, a autoinoculação, a infecção sexual e a transmissão durante esportes.

Atividade sexual e prática esportiva

Em adultos, as duas formas mais comuns de contágio são pela atividade sexual e pela prática de esportes. A primeira não se dá pelos fluidos característicos da relação, mas sim pelo contato da pele hígida com a pele lesionada pelo MCV

Importante ressaltar que essa transmissão via relação sexual acaba sendo facilitada visto que os locais mais afetados pelas pápulas nos adultos são a região inguinal, abdômen inferior, genitais e região perianal. Na prática de esportes, ocorre pelo mesmo mecanismo de contato direto.

Lesões de Molusco Contagioso em região genital. Fonte: Research Gate https://www.researchgate.net/figure/Figura-6-Molusco-contagioso-A-Multiplas-papulas-branco-rosadas-com-umbilicacao_fig3_343775057
Lesões de Molusco Contagioso em região genital. Fonte: Research Gate

Já nas crianças, as formas de contágio mais importantes são a autoinoculação e a transmissão vertical. Essa autoinoculação acontece quando a pele já está infectada em alguma topografia e contamina outra localização no mesmo paciente pelo toque. Dessa forma, a maioria das marcas de MCV vão estar nas partes expostas, como braços, tronco e face.

Ainda nas crianças, nós temos o contato específico ao nascer com o canal vaginal da mãe lesionado como um potencial veículo de transmissão. Nesses casos, as manifestações clínicas vão acontecer no couro cabeludo em forma circular. Outros achados mais raros nessa situação são pápulas periorbitais, orais, labiais, palmares e plantares, mamilares e conjuntivais.

Lesões de Molusco Contagioso em couro cabeludo de neonato. Fonte:  Anales de Pediatria  https://www.analesdepediatria.org/en-molusco-contagioso-por-trasmision-vertical-articulo-resumen-S169540331600014X
Lesões de Molusco Contagioso em couro cabeludo de neonato. Fonte:  Anales de Pediatria

Por fim, um ponto delicado mas muito importante no cuidado dos menores de idade é a atenção às crianças que apresentarem molusco genital. Ela é extramemente incomum e pode ser um indício de abuso sexual infantil. Ressaltando-se que não é um achado patognomônico e deve ser interpretado com muita cautela e histórico de saúde e social do paciente.

Tratamento da Doença

Após o diagnóstico essencialmente clínico, o tratamento deve ser igualmente clínico, com ressalvas dos casos que necessitam de curetagem tanto como forma de terapia quanto para a realização de análise histológica e um diagnóstico diferencial quando há dúvidas. Uma alternativa à curetagem, quando necessária, é a crioterapia com nitrogênio líquido aplicado em jatos sobre a lesão. Apesar de ser um método eficaz, ele é pouco efetivo pelo desconforto e dificuldades técnicas.

Outras opções de manejo são as substâncias cáusticas, como o Hidróxido de Potássio 5%, porém esse método também causa dor e desconforto significativo. Pode-se realizar o tratamento do molusco contagioso com aplicações de imiquimode em creme na concentração de 5% na frequência de três a cinco vezes por semana. 

Lembrando que o tratamento não é mandatório e alguns profissionais contraindicam, por ser uma condição autolimitada com eventual resolução espontânea. Mesmo assim, a conduta expectante não é a mais escolhida, pois as pápulas do MCV são desconfortáveis, estão em constante risco de disseminação e o tratamento é relativamente fácil.

Conclusão

O Molusco Contagioso é uma dermatovirose causada pelo Molluscum contagiosum vírus (MCV) que possui 4 genótipos. Ele tende a afetar mais crianças do que adultos e é uma condição autolimitada à pele, apesar das lesões em pápula causarem desconforto e prurido. Seu diagnóstico é essencialmente clínico, com tratamento de retirada ou terapia com creme tópico.

Leia mais:

FONTES:

  • Meza-Romero R, Navarrete-Dechent C, Downey C. Molluscum contagiosum: an update and review of new perspectives in etiology, diagnosis, and treatment. Clin Cosmet Investig Dermatol. 2019 May 30;12:373-381.
  • Pediatria, Sociedade Brasileira D. Tratado de Pediatria, Volume 1. Disponível em: Minha Biblioteca, (4th edição). Editora Manole, 2017.