O intestino é considerado por muitos o nosso segundo cérebro. A sua homeostase é de extrema importância, sobretudo, para os recém-nascidos (RN’s). Assunto levantado por Corintio Mariani Neto, num artigo publicado na revista feminina, da Febrasgo.
As bactérias intestinais são influenciadas pelo tipo de parto e pelo aleitamento materno, por exemplo. Assim como, pode prevenir doenças alérgicas e a obesidade infantil.
Na comunidade científica não se sabe ao certo se o microbioma intestinal do feto é mais parecido com o microbioma intestinal ou oral da mãe. No entanto, estão de acordo que ele pode se formar ainda no útero.
Por isso, alguns estudos tratam do uso de probióticos no período pré-natal e neonatal. Essa suplementação com probiótico é utilizada para manter a eubiose, reequilibrando a flora intestinal. O que dificulta o aparecimento de inúmeras doenças. No entanto, é preciso ficar atento ao tipo de cepa utilizada.
Suplementação probiótica no período pré-natal e neonatal
Na revisão da Biblioteca Cochrane, em 2014, foram revisados seis estudos, envolvendo 256 gestantes. Eles mostraram que o risco de desenvolver diabetes gestacional foi reduzido com o uso de probióticos. Mas, à época, a revisão deixou claro que eram necessários mais resultados, de outras pesquisas em andamento.
Assim, atualizada em 2021, para observar os desfechos do diabetes gestacional, ela mostrou que as bactérias utilizadas aumentaram a incidência de pré-eclâmpsia.
Por isso, os autores afirmam que é preciso tomar cuidado com a suplementação probiótica precoce na gravidez. Isso porque, na maioria dos estudos revisados, o produto foi administrado antes da 20ª semana. Em um deles, até mesmo antes da 16ª semana.
Redução da incidência de doenças alérgicas
Estudos mostram que o uso de lactobacilos específicos no último trimestre de gravidez, sobretudo, para os bebês com pais atópicos, pode reduzir a manifestação de doenças alérgicas.
É tanto que, uma pesquisa mostrou que a frequência de eczema tópico nas crianças estudadas diminuiu pela metade, em comparação ao grupo placebo.
Ela foi feita com a administração do Lactobacillus rhamnosus GG em mães com parentes de primeiro grau ou com parceiros alérgicos. E ainda, a suplementação também foi feita no RN, durante os seis primeiros meses de vida.
Como essa cepa agiu na prevenção da doença atópica, os pesquisadores resolveram avaliar o potencial de prevenção do eczema atópico. Para isso, fizeram uma avaliação aos quatro e aos sete anos, através de um questionário e de exame clínico.
Assim, aos quatro anos, das 53 crianças que utilizaram o probiótico, 14 haviam desenvolvido a doença. Quando no grupo placebo, das 54 crianças, 25 manifestaram a doença atópica. Na análise feita aos setes anos, o risco de desenvolver o eczema no grupo do probiótico continuou mais baixo.
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Prevenção da obesidade infantil
O artigo traz uma outra pesquisa cujo objetivo foi avaliar o impacto da intervenção probiótica perinatal no desenvolvimento infantil e no sobrepeso.
Os pesquisadores tinham o objetivo de prevenir e controlar os efeitos da obesidade materna sobre as crianças.
Estudo randomizado, controlado e duplo-cego, contou com a participação de 159 mulheres. Elas receberam probiótico ou placebo das quatro últimas semanas antes do parto até seis meses depois do nascimento dos seus filhos.
Os resultados apontaram que o uso do produto pareceu atenuar a fase inicial do ganho de peso. Tendo um maior impacto aos 4 anos de idade. Isso mostra que, ao conter o ganho de peso nos primeiros anos de vida, os probióticos podem alterar o padrão de crescimento das crianças.
Fatores que influenciam a microbiota intestinal do bebê
Tipo de parto
O tipo de parto influencia na diversidade das bactérias intestinais. Então, a microbiota do bebê de parto normal é mais diversificada, ao contrário daqueles que nasceram pelo parto cesárea. Aqui essa colonização é menor, o que pode resultar em alterações na formação do sistema imune e num maior risco de desenvolver doenças atópicas.
Já existem pesquisas voltadas para aumentar essa microbiota intestinal em recém-nascidos, fazendo isso através da semeadura vaginal. Ela consiste em passar uma gaze com a secreção vaginal na boca, nariz e na pele do recém-nascido. Contudo, os dados sobre a segurança e os benefícios não são contundentes.
Trabalho de parto
O estresse causado durante o nascimento do bebê causa a produção de substâncias anti-inflamatórias e pró-inflamatórias e de interleucinas. Com isso, elas também modulam a microbiota intestinal do RN.
Tempo de gestação
A microbiota vaginal muda bastante ao longo da gravidez. Sendo assim, os micro-organismos encontrados no parto prematuro são diferentes daqueles encontrados se a gestação tivesse seguido o tempo normal. O que interfere diretamente na diversidade bacteriana. Sendo ela menor nesses bebês.
Além disso, como os prematuros permanecem mais tempo no hospital, tendem a não ser alimentados com leite materno e a fazer uso de medicamentos, como os antibióticos. O que pode explicar o maior risco de enterocolite necrotizante nesses recém-nascidos.
Aleitamento materno
O aleitamento materno também interfere diretamente na diversidade da microbiota intestinal do RN. Por causa da presença exclusiva de compostos bioativos como: interleucinas, citocinas e imunoglobulinas. Assim como, devido a presença de microorganismos específicos: bifidobactérias, lactobacilos e estreptococos.
O que torna a nutrição mais completa e a colonização mais saudável. Ademais, os oligossacarídeos são açúcares de extrema importantes encontrados no leite materno. Dentre outras coisas, eles funcionam como probióticos - estimulando o crescimento de uma microbiota mais saudável – e protegem as crianças de infecções intestinais.
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