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Publicado em
10/8/22

Derrame Pleural: o que é, causas e tratamento

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Derrame Pleural: o que é, causas e tratamento

O derrame pleural (DP) é uma manifestação clínica que gera sintomas como falta de ar e dor pleurítica (piora ao respirar) ou até sinais mais graves como tiragens intercostais. 

Pode ocorrer por diversas doenças, tanto as de evolução benigna como maligna. Sendo assim, é muito importante que haja investigação da causa, a partir da avaliação das características do líquido.

O tratamento do derrame pleural é feito com métodos que aliviam os sintomas, no entanto, se não houver correto manejo da etiologia, pode haver recidivas.

O que é derrame pleural?

O derrame pleural é o excesso de líquido no espaço pleural (ocorre quando a produção é maior que a reabsorção), onde normalmente tem apenas uma fina camada de fluido que permite a correta expansão e retração dos pulmões dentro da caixa torácica.

O líquido pleural (LP) surge a partir do extravasamento de plasma de capilares da pleura, dos espaços intersticiais dos pulmões ou pela passagem de líquido peritoneal por pequenos orifícios do diafragma.

Existem duas classificações para o LP, pode ser do tipo transudato (quantidade mínima de proteínas ou celularidade) ou exsudato (mais relacionado a processos inflamatórios, com alta celularidade e quantidade de proteínas).

Diagnóstico

Investigação diagnóstica dos derrames pleurais. LP: líquido pleural; EP: embolia pulmonar; ICC: insuficiência cardíaca congestiva; LDH (desidrogenase láctica); TC: tomografia computadorizada; TB: tuberculose. Fonte: Harrison 20ª edição.
Investigação diagnóstica dos derrames pleurais. LP: líquido pleural; EP: embolia pulmonar; ICC: insuficiência cardíaca congestiva; LDH (desidrogenase láctica); TC: tomografia computadorizada; TB: tuberculose. Fonte: Harrison 20ª edição

Suspeita-se de derrame pleural quando no exame físico houver egofonia, macicez à percussão e frêmito toracovocal alterado. 

O diagnóstico é feito com Raio X (em decúbito lateral) ou USG (mais utilizado, pois permite monitorização durante a toracocentese).

Após confirmar esta manifestação clínica, é necessário prosseguir para o diagnóstico etiológico. O primeiro passo é diferenciar se é do tipo transudato ou exsudato, através dos critérios de Light.

CRITÉRIOS DE LIGHT
Critérios Transudato Exsudato
Relação entre proteína do líquido pleural e sérica ≤ 0,5 > 0,5
Relação entre DHL do líquido pleural e sérica ≤ 0,6 > 0,6
DHL no LP > 2/3 do limite superior no soro Não Sim
Critérios de Light para diferenciação de transudatos e exsudatos. LP: líquido pleural; DHL: desidrogenase láctica; Fonte: Reprodução/EMR/Beatriz Lages Zolin

O derrame pleural de transudato possui causas sistêmicas, que geram hipoalbuminemia (baixa pressão oncótica) ou diminuem o retorno venoso (menor reabsorção), como a cirrose, insuficiência cardíaca ou nefroses.

Enquanto isso, o derrame pleural de exsudato surge a partir de doenças locais, como pneumonias, neoplasias, infecções virais e embolia pulmonar.

Todos LP identificados como exsudato devem prosseguir a investigação etiológica com mais avaliações (citologia, culturas, taxa de glicose e marcadores de tuberculose), já os transudatos irão precisar de mais análises em casos específicos.

Etiologias

Insuficiência Cardíaca (IC)

A insuficiência cardíaca causa uma menor reabsorção do líquido pleural. Normalmente o derrame pleural por IC é transudativo, bilateral, indolor e afebril

Caso alguma dessas características sejam diferentes, suspeitar de outra etiologia associada e realizar toracocentese diagnóstica.

Cirrose

Na cirrose, o derrame pleural ocorre quando o líquido da ascite atravessa orifícios diafragmáticos. Ela é do tipo transudato, volumoso, comumente unilateral (à direita) e o paciente apresenta dispnéia.

Derrame Pleural Parapneumônico (DPP)

O DPP é a causa mais comum de DP exsudativo, ocorrendo por pneumonias bacterianas, abscessos ou bronquiectasias. 

Os sintomas são dor torácica (pleurítica, piora quando respira, tosse ou espirra), febre, expectoração, leucocitose, anemia e perda de peso.

Esta disfunção pode ser simples, complicada ou evoluir para um empiema. 

DPP simples

O simples corresponde a maioria dos casos e pode passar despercebido, sendo tratado com a terapia habitual para pneumonia (antibiótico). 

DPP complicado

O DPP complicado é constituído por um exsudato mais turvo, DHL aumentado, tem pH < 7,2, e glicose menor que 60 mg/dl, podendo conter bactérias. 

Este tipo tende a não ter resolução espontânea, precisando de toracocentese ou drenagem torácica.

OBS: a toracocentese é indicada quando houver >10 mm de DP entre pulmão e caixa torácica e drenagem se tiver pH < 7,2, >1/2 hemitórax ocupado ou glicose <60 mg/dl. Se houver loculações no LP, pode-se administrar agentes fibrinolíticos antes da drenagem.

Empiema

O empiema é a evolução do DPP complicado, em que o líquido é grosseiramente purulento e necessita de drenagem pleural (mais invasiva que a toracocentese).

Fatores de risco e conduta sugerida em pacientes com DPP e empiema. Fonte: Scielo https://www.scielo.br/j/jbpneu/a/JJTM57SJdx8pq4QZMk5yXMw/?lang=pt
Fatores de risco e conduta sugerida em pacientes com DPP e empiema. Fonte: Scielo

Caso o problema persista após as toracocenteses e drenagens, pode-se realizar a pleuroscopia, toracoscopia e decorticação, mas que são muito mais invasivos.

Neoplasias malignas

Os carcinomas de pulmão, mama e linfomas são a segunda maior causa de derrame pleural exsudativo e geralmente o volume é pequeno, apesar de gerar muita dispneia nos pacientes. O LP costuma ter glicose <60 mg/dl.

Vale salientar que, a maioria desses pacientes está com doença muito avançada e não curável por quimioterapia. O tratamento é realizado com toracocenteses de alívio e pode-se até colocar um cateter de demora ou realizar pleurodese (obliteração do espaço pleural).

Mesotelioma

Mesotelioma é um tumor primário de células que revestem as cavidades pleurais, sendo que na maioria dos casos há associação com exposição ao asbesto. 

O diagnóstico é confirmado por biópsia. Acompanha os sintomas de dor e falta de ar.

Embolia Pulmonar (EP)

Essa etiologia costuma ser despercebida na investigação diagnóstica de derrames pleurais. 

A dispneia é comum e o LP quase sempre é exsudato. O diagnóstico é confirmado pela TC helicoidal ou arteriografia pulmonar.

O tratamento de derrame pleural por embolia pulmonar é o mesmo recomendado para todos os pacientes com êmbolos pulmonares. 

Tuberculose (TB)

O derrame pleural da tuberculose é exsudativo e há alta celularidade, com predominância de linfócitos

Os sintomas associados são perda de peso, febre, dispneia e dor. O diagnóstico é confirmado por culturas ou presença de ADA (adenosina desaminase).

O tratamento baseia-se no correto manejo da tuberculose.

Infecções virais

Infecções virais são responsáveis por uma porcentagem expressiva dos DP exsudativos sem etiologia determinada (20%), e não se deve prosseguir com investigação etiológica se o paciente demonstrar melhora clínica (geralmente há resolução espontânea).

Causas diversas

Existem muitas outras causas de DP e algumas possuem características específicas, como na DP por ruptura de esôfago ou doença pancreática, em que a amilase no LP é elevada ou T4 sérico diminuído nos casos de transudato por mixedema.

Conclusão

O derrame pleural é uma manifestação clínica de diversas doenças, sendo ela diagnosticada por exames de imagem. 

Pode ser do tipo transudato ou exsudato, a depender da composição do líquido, podendo se diferenciar com os critérios de Light.

O tratamento vai depender da etiologia e da extensão do derrame pleural, podendo precisar de procedimentos como toracocentese ou drenagem torácica.

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