A cirurgia vascular é a especialidade médica responsável pelo sistema circulatório, ou seja, realiza tratamentos de artérias, veias e vasos linfáticos.
Os únicos locais onde o cirurgião vascular não atua são o coração e o cérebro, áreas do cardiologista e neurocirurgião, respectivamente.
Importante lembrar que o cirurgião vascular é encarregado não só de cirurgias, mas também do tratamento clínico dessas enfermidades.
Adiante temos as principais comorbidades tratadas por essa especialidade e os procedimentos mais frequentemente realizados nos diversos tipos de Cirurgia Vascular.
O que é Cirurgia Vascular?
É uma cirurgia que tem como objetivo alcançar os vasos sanguíneos ou linfáticos, promovendo a intervenção de doenças vasculares, por meio de técnicas abertas/invasivas ou não invasivas, a depender da necessidade do paciente.
As doenças vasculares geralmente surgem a partir de outras condições como tabagismo, arritmias, trombofilia, diabetes mellitus, hipertensão arterial e dislipidemias.
Algumas dessas doenças são extremamente comuns, como a insuficiência venosa – que acomete até 15% de toda população mundial – e a trombose venosa profunda – com 80 casos para cada 100.000 habitantes anualmente.
Alguns tipos de Cirurgia Vascular
Insuficiência Venosa
As varizes são veias tortuosas e dilatadas, consequente da insuficiência venosa, que ocorre quando há incompetência das válvulas venosas, assim, tendo refluxo e congestão de sangue no vaso.
Como o fator que mais atua na congestão é a gravidade, o local mais comum de se ter varizes é no membro inferior.
Fatores de risco
Os fatores de risco mais importantes são a idade avançada, obesidade, posição supina prolongada, gestação e a hipertensão arterial.
Além do sedentarismo, sexo feminino, do uso de anticoncepcional oral (ACO) e de trauma nos membros inferiores.
Fisiopatologia e Quadro Clínico
A congestão de sangue leva a hipertensão no capilar e posterior lesão endotelial, então, além de edema e vermelhidão, pode ocasionar, eventualmente, trombose venosa profunda (TVP) e tromboembolismo pulmonar (TEP) nos casos mais graves.
Qual é o tratamento para insuficiência venosa?
O tratamento é essencialmente clínico, com uso de meias de compressão que “empurram” o sangue para cima de forma adequada.
Os pacientes que não tenham melhora clínica ou apresentem complicações – TVP, infecção e úlcera – são indicadas outras opções terapêuticas:
Escleroterapia com espuma
Procedimento realizado em ambulatório, que consiste em uma injeção com substâncias esclerosantes, que oclui totalmente o vaso insuficiente, assim, recanalizando completamente o sangue para veias acessórias e funcionantes.
É recomendado ao paciente que não realize depilação ou aplicação de loções antes do procedimento e após a sessão completa.
Ademais, devem usar a meia de compressão e evitar viagens de avião e exposição ao sol por 2 semanas.
O paciente retorna em até 24h às suas atividades diárias após as sessões. Além de tratar veias varicosas, a escleroterapia pode ser utilizada também para tratar telangiectasias assintomáticas, apenas por motivo estético.
Laser Endovenoso
É a oclusão do vaso varicoso por laser, estimulando o sangue a seguir para veias acessórias competentes.
Safenectomia
É a Cirurgia Vascular de remoção completa da veia safena magna, indicada para indivíduos que apresentam insuficiência isolada nessa veia.
Apesar de ser considerada o padrão ouro, apresenta diversas desvantagens ao paciente: necessidade de anestesia geral, internação e retorno às atividades diárias após muito mais tempo que outras técnicas.
Então é apenas indicada em casos selecionados, onde deve haver alta eficácia.
Ligadura da veia safena magna
É a ligadura na junção safenofemoral. A eficácia é semelhante à safenectomia, apresentando as mesmas desvantagens.
Flebectomia
É a ressecção de todas as veias varicosas superficiais. Por vezes é necessário mais de uma cirurgia.
Além disso, existe o método ambulatorial, com uso de anestésico local, onde é realizado micro incisões com auxílio de um gancho.
Trombose Venosa Profunda
A Trombose Venosa Profunda é a formação de trombos em veias profundas, que ocorre principalmente nos membros inferiores, na maioria das vezes é decorrente de insuficiência venosa.
A tríade de Virchow exibe fatores que facilitam o desenvolvimento de trombos, são estes a hipercoagulabilidade, lesão endotelial e estase sanguínea.
Fatores de risco
Os principais fatores de risco são idade maior que 75 anos, trauma, neoplasias malignas, neurocirurgias e cirurgias ortopédicas nas últimas 4 semanas.
E ainda, o uso de ACO ou anabolizantes, trombofilia, viagens longas, gestação e puerpério imediato.
O quadro clínico apresenta os clássicos sinais flogísticos, com calor, rubor, edema, dor e limitação funcional.
Qual é o tratamento para Trombose Venosa Profunda?
O tratamento visa o impedimento de evolução para TEP e geralmente é clínico, com medicações anticoagulantes.
Nos casos de refratariedade à anticoagulação, presença de flegmasia (sinais de gravidade: choque, gangrena e síndrome compartimental) e trombose de veia cava sintomática estão indicados os seguintes métodos cirúrgicos:
Trombectomia endovascular ou aberta
É a remoção direta do trombo através de um cateter. Esse procedimento pode lesionar o vaso e causar maior risco para formação de novos trombos, então deve ser evitado.
Trombólise endovascular direta
Nesse procedimento é feita a medicação trombolítica através de cateter.
Reconstrução endovascular
A reconstrução endovascular é terapia de primeira escolha nos casos de oclusão ilíaca. Nela é feita uma recanalização, seguida de dilatação da veia ilíaca e colocação de stent. Excelentes resultados são obtidos, evitando, assim, um procedimento cirúrgico aberto.
Filtro de veia cava
Consiste em um dispositivo que impede o deslocamento de um trombo através da veia cava, assim evita a ocorrência de TEP.
É indicado nos casos de trombo iliofemoral em propagação, TEV recorrente, contraindicação à anticoagulação, complicações pela anticoagulação e paciente com embolismo pulmonar crônico.
Aneurisma de Aorta Abdominal (AAA)
Aneurisma é definido como um aumento no diâmetro arterial 50% maior que o habitual.
Chamamos de ectasias os casos de dilatação arterial menor que 50%. Enquanto um homem tem maior risco de desenvolver um aneurisma, mulheres que o possuem, têm um maior risco de ruptura.
O principal fator de risco é o tabagismo, sendo os outros fatores a idade maior que 50 anos, história familiar positiva, e doenças como aterosclerose, hipertensão arterial sistêmica e DPOC.
Classificações
Tipos de aneurisma. Fonte: Patologia Robbins
De acordo com a quantidade de camadas acometidas:
- Aneurismas Verdadeiros: dilatação nas três camadas histológicas do vaso;
- Pseudoaneurismas: rompimento de uma parte do folheto, o que faz com que haja um hematoma entre as camadas.
De acordo com a morfologia:
- Fusiforme: dilatação por toda circunferência, são simétricos;
- Sacular: são assimétricos, assim possuem uma pressão diferente entre suas paredes, o que faz com que tenha maior risco de ruptura. Em geral, pseudoaneurismas são mais prováveis de serem saculares.
Não existe um fármaco que possa ser recomendado com a indicação de reduzir o crescimento do AAA.
Essa Cirurgia Vascular é indicada para aqueles com aneurisma roto, aneurisma sacular e aneurisma maior que 5,5 cm de diâmetro. Além dessas ocasiões, designa-se cirurgia para aqueles com aumento de 5mm do vaso em 6 meses ou crescimento de 1 cm em 1 ano.
Cirurgia aberta
Após clampear estruturas adjacentes, corta-se a aorta em sua parte dilatada e realiza-se ressecção de tecido necrótico e excesso de saco aneurismático, com colocação de prótese ou enxerto vascular.
Endovascular
Esta técnica possui menor taxa de morbimortalidade precoce quando comparada à técnica aberta. Não há ressecção de tecidos, apenas colocação de endoprótese.
Por esse motivo, pode ter uma complicação, em que há vazamento de sangue entre a prótese e o saco aneurismático, possibilitando crescimento contínuo do aneurisma e eventual ruptura, mas isso ocorre muito raramente.
Conclusão
Em suma, a Cirurgia Vascular é uma área da medicina cuja função é tratar doenças vasculares, por métodos clínicos ou cirúrgicos.
Para mais, os procedimentos mais realizados são para tratamento de insuficiência venosa, aneurismas aórticos e trombose venosa profunda.
Leia mais:
- Dislipidemia: saiba o que é, tipos, causas, sintomas e tratamentos
- Hipertensão arterial: como fazer o diagnóstico?
- Residência em Cirurgia Cardiovascular: Como É e Rotina
Fontes:
- Tratado de Cirurgia Sabiston 20ª edição
- Cirurgia Vascular Rutherford 9ª edição
- Patologia Robbins 9ª edição