O câncer de mama é o segundo câncer mais comum entre as mulheres, atrás apenas dos tumores de pele não melanoma. Representam cerca de 25% de todos os cânceres nessa população, sendo o câncer que mais causa óbito. Vem em crescente aumento de incidência, porém queda de mortalidade, graças às estratégias de detecção precoce.
O Outubro Rosa é uma campanha de conscientização que ocorre durante o mês de outubro visando alertar a sociedade acerca da importância da prevenção e do diagnóstico precoce do câncer de mama. É importante ressaltar que, além dos impactos na saúde, o câncer de mama apresenta grande impacto no processo de simbolização da mulher enquanto ser feminino, na sua autoimagem e sexualidade.
Neste post abordaremos o câncer de mama, seus fatores de risco, tipos, como diagnosticar precocemente e como tratar!
O que é o Câncer de Mama?
O câncer de mama ocorre quando há uma multiplicação desordenada de células anormais (malignas) da mama, formando um tumor com potencial de invadir outros órgãos. Há diversos tipos de câncer de mama, com diferentes velocidades de desenvolvimento e potencial de invasão. Também acomete homens, porém é raro, sendo apenas 1% dos casos.
Subtipos histológicos
Existem dois principais tipos de câncer de mama do ponto de vista histológico: o carcinoma ductal e o carcinoma lobular. O carcinoma ductal infiltrante representa de 70 a 80% dos casos. Existem outros subtipos, encontrados em menor frequência, como o tubular, cribiforme, secretor, metaplásico, micropapilar, entre outros.
Fatores de risco
Diversos fatores podem contribuir para o aumento do risco de incidência do câncer de mama. São alguns deles:
- Idade avançada (risco aumentado a partir dos 50 anos);
- História familiar de câncer de mama em mulheres jovens (especialmente se for parente de primeiro grau);
- Menarca precoce e/ou menopausa tardia;
- Primeira gravidez tardia ou nuliparidade;
- Uso prolongado de exposição hormonal;
- Exposição prévia a radioterapia em região torácica;
- Mutações genéticas (mutação nos genes BRCA1 e BRCA2 aumenta o risco de 50 a 80%);
- Estilo de vida e dieta (consumo de álcool, tabagismo, obesidade, sedentarismo).
Estudos demonstram que a amamentação e um estilo de vida saudável são fatores protetores ao câncer de mama.
As mulheres com indicação de teste genético são aquelas com 4 ou mais parentes afetados com câncer de mama, ou câncer de ovário em 3 gerações e um parente vivo afetado.
Rastreio
Nas mulheres de maior risco, pode ser indicado um rastreio mais frequente. Para isso, existem critérios para ajudar a identificá-las.
Para a população de baixo risco, o Ministério da Saúde recomenda rastreio com mamografia a cada 2 anos para todas as mulheres dos 50 a 69 anos.
Apresentação clínica
A apresentação clínica do câncer de mama é variada. Alguns casos podem ser assintomáticos, outros com alterações palpáveis por meio do exame físico e outros, normalmente mais avançados, podem apresentar sintomas, como derrame papilar e dor.
Algumas anormalidades sugestivas podem aparecer, como nódulos e tumorações palpáveis na mama ou na axila, assimetria de mamas, pele enrugada, vermelhidão, edema, ulceração, abaulamentos, saída de sangue ou secreção pelo mamilo (derrame papilar), mudança no formato do mamilo e lesão eczematosa. O relato de dor não é comum, mas pode aparecer.
Diagnóstico
O diagnóstico do câncer de mama é suspeitado por meio da clínica, buscando fatores de risco, sinais e sintomas e exames de imagem, sendo confirmado por meio de biópsia.
São considerados sinais e sintomas suspeitos e de referência urgente para confirmação diagnóstica:
- Qualquer nódulo mamário em mulheres com mais de 50 anos.
- Nódulo mamário em mulheres com mais de 30 anos, que persistem por mais de um ciclo menstrual.
- Nódulo mamário de consistência endurecida e fixo ou que vem aumentando de tamanho, em mulheres adultas de qualquer idade.
- Descarga papilar unilateral sanguinolenta.
- Lesão eczematosa da pele que não responde a tratamentos tópicos.
- Homens com mais de 50 anos com tumoração palpável unilateral.
- Presença de linfadenopatia axilar.
- Aumento progressivo do tamanho da mama com a presença de sinais de edema, como pele com aspecto de casca de laranja.
- Retração na pele da mama.
- Mudança no formato do mamilo.
Exame clínico das mamas
O exame físico das mamas, realizado por um profissional, pode reconhecer tumores não visíveis de até 1 cm. Inclui inspeção estática, inspeção dinâmica, palpação da região cervical e axilar e palpação das mamas.
Inicia-se com inspeção estática. Com a paciente sentada, tórax desnudo e braços em repouso, o profissional realiza a inspeção, avaliando número, forma, volume e simetria das mamas. Em seguida, é feita a inspeção dinâmica, onde observam-se alterações com a realização de manobras.
A palpação é a segunda parte do exame. Busca-se linfonodos palpáveis na região cervical e axilar, avaliando tamanho, mobilidade, consistência e número. Depois, com paciente deitada, realiza-se palpação das mamas, superficial e profunda, buscando nódulos. Os cânceres de mama localizam-se, principalmente, no quadrante superior externo, e, em geral, são indolores, fixos e com bordas irregulares.
O autoexame pode ser feito, mas não substitui exame por profissional.
Exames de imagem
Os exames de imagem utilizados para o diagnóstico são a mamografia, ressonância magnética ou ultrassonografia.
A mamografia é o exame de escolha, com maior acurácia. Não deve ser realizado em mulheres com menos de 30 anos. Mostra nódulos, sendo capaz de caracterizá-lo com localização, tamanho, contorno, limite e ecogenicidade. Lesões malignas costumam se mostrar como nódulo irregular, hipoecogênico, com contornos irregulares e limites mal delimitados.
Para facilitar o diagnóstico, o sistema BI-RADS ajuda na classificação da lesão achada, classificando a lesão de normal a lesão com comprovação maligna.
A ressonância magnética é utilizada principalmente em mulheres que já foram diagnosticadas com câncer de mama para determinar, com mais precisão, o tamanho do tumor e a existência (ou não) de outros tumores na mama ou em mulheres com mamografia inconclusiva. Deve ser considerada também em mulheres de alto risco. Lesões de margem irregular e com realce anelar são sugestivas de câncer de mama.
A USG de mamas é um bom complemento para mamografias inconclusivas, sendo indicado em mulheres com menos de 30 anos ou com mamas densas, mulheres impossibilitadas de realizar ressonância e para monitorização de punções. Lesões malignas costumam ter bordas largas e irregulares, densidade heterogênea, pequena atenuação sônica posterior, maior diâmetro vertical do que horizontal e pode ter desarranjos e microcalcificações. O sistema BI-RADS também é utilizado para classificar os achados.
Biópsia
Os nódulos sugestivos de malignidade devem ser investigados por meio de biópsia. O método de escolha para biópsia é a biópsia percutânea por agulha grossa. São métodos pouco invasivos, de boa acurácia e que permitem análise histopatológica e imuno-histoquímica. A biópsia cirúrgica é indicada quando não é possível, por questões técnicas, realizar a biópsia por agulha. A punção aspirativa por agulha fina é indicada para avaliação de linfonodo axilar.
Estadiamento
Ao ser diagnosticado, o câncer de mama deve ser estadiado. Para isso, é usado o sistema TNM de estadiamento de câncer.
O estádio I não precisa de exames complementares para estadiamento. O estádio IIA é indicado realização de cintilografia óssea, radiografia de tórax e USG de abdome e pelve. A partir do estádio IIB, deve ser feito tomografia de tórax, abdome e pelve e cintilografia óssea, todos visando buscar metástases.
Os locais mais comuns de metástases por câncer de mama são os ossos, fígado, pulmões, linfonodos à distância e cérebro.
Tratamentos
O tratamento é feito conforme o estadiamento da doença, suas características biológicas e condições clínicas do paciente. Pode ser local (cirurgia e radioterapia) ou sistêmico (quimioterapia, hormonioterapia e terapia biológica).
A hormonioterapia e terapia biológica entram como opção em casos específicos de cânceres de mama. A hormonioterapia pode ser feita em mulheres que expressam receptores hormonais, por meio de medicamentos como o tamoxifeno. A terapia biológica, que usa medicamentos como trastuzumabe e pertuzumabe, pode ser indicada em tumores de alto risco.
Estádios I e II
A conduta habitual é cirurgia, podendo ser feita a quadrantectomia (retirada de um dos quadrantes da mama) ou mastectomia (retirada completa da mama), a depender do tamanho e características do tumor. Em alguns casos de maior risco, pode ainda associar quimioterapia neoadjuvante, anterior à cirurgia, para facilitar a realização da cirurgia. Após a cirurgia, radioterapia pode ser indicada em algumas situações.
Estádio III
Realiza-se quimioterapia neoadjuvante, buscando diminuir o tamanho do tumor, associado a tratamento local com cirurgia e/ou radioterapia.
Estádio IV
Esse estádio indica presença de metástase, o que apresenta pior prognóstico. Deve ser analisado individualmente os riscos e benefícios dos tratamentos. A modalidade principal nessa fase é sistêmica.
Conclusão
O câncer de mama é uma das neoplasias mais comuns, além de alta mortalidade e impacto social na vida das mulheres acometidas. É, porém, passível de prevenção e de diagnóstico precoce, por meio do exame das mamas e da mamografia. A mamografia serve tanto como rastreio como exame diagnóstico, podendo ser complementada por outros exames de imagem ou biópsia. O tratamento pode ser feito por meio de cirurgia, quimioterapia, radioterapia, hormonioterapia e terapia biológica.
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FONTES:
- MARQUES, Cristiana; et.al. Oncologia Uma Abordagem Multidisciplinar. 2015.
- Câncer de Mama. Ministério da Saúde. 2022.
- SILVA, Ana; COSTA, Letícia. Importância do diagnóstico por imagem no câncer de mama. 2021.