A alopecia é considerada a perda capilar, seja no couro cabeludo ou em outras partes do corpo.
Os pelos não exercem função vital para o ser humano, mas possuem importante papel estético, e essa condição pode influenciar psicologicamente os indivíduos.
Existem diversos tipos, que podem ser classificados em dois grandes grupos, não cicatriciais (não permanentes) e cicatriciais.
Existe também a divisão entre as alopecias difusas ou circunscritas.
Cada vez mais as técnicas diagnósticas de doenças pilares estão sendo apuradas e novas terapias para cada tipo de alopecia estão surgindo no mercado.
Como é feito o diagnóstico?
O exame físico é a etapa mais importante para se obter o diagnóstico, podendo ter auxílio da tricoscopia (lupa que pode ampliar em até 200 vezes) para melhor inspeção.
A histopatologia pode ser necessária em casos complexos de alopecia não cicatricial e cicatricial. Para isso, deve-se colher material para biópsia, um “punch” de 4mm.
Quais são as principais alopecias?
Alopecias não cicatriciais
Alopecia androgenética (AAG)
A alopecia androgenética é a “calvície” comum. É uma patologia hereditária, mas que varia de acordo com o sexo, a etnia e a idade.
Ela surge a partir de hormônios androgênicos, especialmente a Di-hidrotestosterona (DHT), um produto da testosterona, quando esta é clivada pela enzima 5-alfa-redutase tipo 2.
Por causa disso, a inibição dessa enzima impede a progressão da AAG. Para mais, estima-se que 80% dos homens irão desenvolvê-la até os 70 anos.
Características Clínicas
Nos homens a perda capilar costuma ser simétrica e em regiões temporais, vértix e frontoparietais.
Alguns podem ter prurido, dor e alteração da sensibilidade. Com o tempo, a "calvície" comum segue um padrão, descrito na escala de Hamilton-Norwood.
Nas mulheres costuma haver preservação dos pelos na região frontal e há redução pilosa de forma mais difusa na região superior do couro cabeludo.
Pode aparecer na menopausa ou em idades mais avançadas e a sua classificação pode ocorrer pela escala de Ludwig.
Como funciona o diagnóstico?
A história clínica e exame físico são suficientes para realizar o diagnóstico. Na tricoscopia visualiza-se a miniaturização dos fios e redução da pigmentação nos locais da alopecia.
O tricograma (exame microscópico com uma amostra de 50 fios) pode ser solicitado em casos de difícil diferenciação entre a AAG, alopecia areata e outros tipos.
Tratamento
O tratamento pode ser tópico, sistêmico ou cirúrgico. A solução de Minoxidil é muito utilizada e obtém resultados em 3 meses com o uso da solução duas vezes ao dia. Para que o efeito continue, é necessária a manutenção do uso.
A terapia sistêmica é com a finasterida (inibidor da 5-alfa-redutase tipo 2), mas é mais recomendada para homens.
Em mulheres, prefere-se a terapia tópica por alcançar resultados mais uniformes no couro cabeludo.
O tratamento cirúrgico com microimplantes capilares é uma opção permanente e que traz aos pacientes uma melhor autoestima.
Futuramente pode haver também tratamento com aplicação de células tronco no couro cabeludo, trazendo ótimos resultados permanentes.
Alopecia Areata (AA)
A alopecia areata está em 0,1% da população e possui origem autoimune.
Ela possui forte impacto na autoestima dos pacientes, já que possui efeito profundo na aparência e tem caráter recidivante.
Ocorre devido a presença de infiltrado linfocitário no bulbo do folículo piloso. As células-tronco permanecem viáveis apesar da existência do infiltrado inflamatório.
Características clínicas
Geralmente a perda do cabelo é em placas ovais ou circulares, com poucos fios nas margens das placas (pelos em “ponto de exclamação” – possuem maior largura na parte distal).
A alopecia areata difusa é uma forma rara e acomete todo couro cabeludo, trazendo mais prejuízos estéticos. Apesar de ser incomum, pode haver melhora espontânea nos locais das placas.
Como funciona o diagnóstico?
O diagnóstico é feito com exame físico, incluindo tricoscopia. Em alguns casos, para diferenciar de outras afecções pilosas, pode ser necessária a biópsia e histopatologia.
Tratamento
O tratamento é feito com uma combinação terapêutica. Uso de Minoxidil tópico, corticosteroides tópicos e injeções intradérmicas de corticosteroides (que devem ser repetidas a cada 1-2 meses).
Alopecia pós-operatória
Essa forma de perda capilar ocorre por aplicação de pressão no couro cabeludo por um grande intervalo de tempo, como é verificado em pacientes que passam por procedimentos cirúrgicos longos e a cabeça pressionada contra a mesa cirúrgica.
Pode ser encontrado edema e eritema também na região afetada (geralmente occipital).
Após poucas semanas, a pilosidade costuma retornar, apesar de haver alguns casos de alopecia pós-operatória cicatricial (permanente).
Alopecia por tração
Ocorre devido a hábitos de prender o cabelo, uso repetitivo de energia térmica (alisar o cabelo com secador e chapinhas), uso de apliques e megahair.
Ela acomete mais crianças (pela fragilidade do fio) e mulheres pretas.
A tração no cabelo induz a inflamação do folículo (foliculite), fazendo com que a lesão aguda apresente pústulas.
É necessário que a paciente evite ou diminua esses hábitos para que esse quadro não se torne irreversível.
Alopecia psoriasiforme
Ela surge no contexto da psoríase, e na maioria dos casos é circunferencial (75%), mas também pode ser difusa.
A perda do cabelo é geralmente em tufos que estão aderidos às placas psoriáticas espessas no couro cabeludo.
Apenas em raros casos a alopecia psoriasiforme será cicatricial (permanente), mas pode ocorrer quando seu acometimento for prolongado.
Alopecias Cicatriciais
Cicatricial significa que o epitélio que dá origem ao folículo foi substituído por tecido conjuntivo. Assim, não haverá desenvolvimento de novo fio de cabelo neste local.
Alguns casos demonstram um padrão bifásico, em que a alopecia não cicatricial é vista no curso inicial da doença e a alopecia permanente se torna aparente nos estágios tardios. Exemplos são a AAG, além do tipo areata e por tração.
Alopecia Centrífuga Central (ACCC)
Também chamada de foliculite decalvante ou alopecia por “pente quente”, possui um espectro variado de intensidade e inflamação folicular.
A ACCC é a responsável por mais casos de alopecia cicatricial do que todos os outros tipos combinados.
É mais comum na população negra, mulheres e geralmente os indivíduos possuem doenças crônicas.
A patogênese está frequentemente relacionada ao uso de relaxantes capilares químicos para alisamento.
Características clínicas
A localização é predominantemente no vértex, expandindo de forma gradual e centrífuga.
Acompanhado da perda capilar, os pacientes sentem mudança na sensibilidade local e leve prurido. Na borda da lesão, encontra-se inflamação.
Em uma minoria de pacientes ocorre a foliculite decalvante, com aparecimento de pústulas e crostas, manifestações de infecções bacterianas secundárias.
Como funciona o diagnóstico?
O diagnóstico deve ser feito com biópsia e deve-se coletar uma amostra da borda da lesão, onde há tecido inflamatório e área com menos alopécia.
Tratamento
O tratamento é feito durante muitos anos, com a combinação de tetraciclina oral e corticosteroides tópicos de alta potência (clobetasol ou fluocinonida).
Apesar de não levar a cura, o uso dos medicamentos evita a progressão da doença.
Para casos com foliculite decalvante, é necessário o uso inicial de rifampicina e clindamicina.
Alopecia por Lúpus Eritematoso Discoide
O lúpus eritematoso discoide é uma forma de lúpus eritematoso cutâneo (maioria dos casos) ou sistêmico.
Apenas uma pequena parcela destes pacientes com lesões discoides no couro cabeludo irá desenvolver a forma sistêmica do lúpus.
Características Clínicas
Além da alopecia, visualiza-se eritema, atrofia dérmica, óstios foliculares dilatados. Prurido e hipersensibilidade local são comuns.
Para mais, em pacientes negros pode haver hipopigmentação central.
Como funciona o diagnóstico?
Requer avaliação histopatológica, necessário biopsiar o couro cabeludo do paciente.
Tratamento
As lesões discoides geralmente respondem ao uso de corticosteroides e hidroxicloroquina.
Se for tratado precocemente, há grande chance de ocorrer novo nascimento capilar em região anteriormente lesada.
Conclusão
Há diversos tipos de alopecias existentes, alguns com mais intensidade que outros.
Para diferenciar o tipo pode-se utilizar como auxílio diagnóstico a tricoscopia (dermatoscópio), mas algumas classificações exigem biópsia para confirmação.
O tratamento para cada uma das formas da doença é individual, e muitas vezes é necessário controle crônico da doença.
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FONTE:
- Dermatologia Bolognia – 3ª edição, 2015
- Dermatologia Azulay – 6ª edição, 2013