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Publicado em
7/1/25

Síndrome de Morris: o que é, fatores de risco e sintomas

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Síndrome de Morris: o que é, fatores de risco e sintomas

A Síndrome de Morris, também conhecida como Síndrome de Insensibilidade Androgênica (SIA), é uma condição genética rara que desafia paradigmas tradicionais de classificação sexual. Sua compreensão é essencial para médicos que trabalham com Endocrinologia, Ginecologia, Urologia e outras especialidades relacionadas ao sistema reprodutor e endócrino. Este artigo visa apresentar uma revisão abrangente sobre a Síndrome, abordando desde seus aspectos fisiopatológicos até as estratégias de manejo e tratamento.

O que é a Síndrome de Morris?

A Síndrome de Morris é uma forma de insensibilidade parcial ou completa aos andrógenos causada por mutações no gene receptor de andrógenos (AR), localizado no cromossomo X. Indivíduos com a forma completa da síndrome (CAIS, do inglês Complete Androgen Insensitivity Syndrome) possuem cariótipo 46, XY, testículos funcionantes e níveis normais ou elevados de andrógenos, mas apresentam fenótipo feminino completo devido à incapacidade de suas células responderem a esses hormônios.

Fisiopatologia

A síndrome resulta de alterações no gene AR, que codifica o receptor de andrógenos. Esse receptor é essencial para a medição dos efeitos dos andrógenos, incluindo o desenvolvimento dos caracteres sexuais masculinos durante a embriogênese. A insensibilidade ocorre em graus variáveis, dependendo do tipo e localização da mutação:

  • CAIS: A resposta ao androgêno é completamente abolida, levando a fenótipo feminino completo.
  • PAIS (Partial Androgen Insensitivity Syndrome): O fenótipo varia de ambiguidade genital até leves alterações na diferenciação sexual masculina.
  • MAIS (Mild Androgen Insensitivity Syndrome): Caracterizado por infertilidade masculina e ginecomastia leve.

Nos casos de CAIS, a ausência de sensibilidade aos androgênios resulta em uma diferenciação incompleta ou ausente dos ductos de Wolff e a subsequente formação incompleta de estruturas masculinas internas e externas.

Fatores de risco

A Síndrome de Morris é uma condição hereditária ligada ao cromossomo X, o que significa que pode ser transmitida por mulheres portadoras do gene mutado. Um histórico familiar de infertilidade masculina, ginecomastia ou desenvolvimento genital atípico são fatores de risco relevantes.

Sintomas da Síndrome de Morris

Os sinais clínicos variam conforme o grau de insensibilidade aos andrógenos. No CAIS, os principais sintomas incluem:

  • Desenvolvimento fenotípico feminino completo com cariótipo 46,XY.
  • Presença de testículos intra abdominais ou inguinais.
  • Amenorreia primária.
  • Ausência de útero e trompas de Falópio.
  • Vagina de comprimento reduzido.
  • Desenvolvimento normal de mamas.

No PAIS, pode haver ambiguidade genital, microfalo, hipospádia e gônadas palpáveis na região inguinal.

Escala Quigley de avaliação da diferenciação genital. Fonte: Wikipédia

Como diagnosticar?

O diagnóstico da Síndrome de Morris envolve uma combinação de história clínica, exame físico e investigações laboratoriais/genéticas:

História clínica

Amenorreia primária, atraso puberal ou ambiguidade genital ao nascimento são os sinais mais comuns que levam à suspeita clínica.

Exames físicos

Avaliação detalhada dos caracteres sexuais secundários e identificação de anomalias genitais, como testículos não descidos ou vagina curta.

Exames laboratoriais

Dosagem de gonadotrofinas (FSH e LH)

Geralmente elevadas devido à falta de feedback negativo dos androgênios.

Testosterona

Normal ou elevada, com baixa conversão para diidrotestosterona.

Estradiol

Pode ser normal ou ligeiramente elevado.

Exames de imagem

Ultrassonografia ou ressonância magnética pélvica 

Para verificar a presença de estruturas reprodutivas internas (ex.: útero e ovários ausentes).

Tomografia computadorizada 

Pode ser útil em casos de localização complexa de gônadas.

RMN da pelve mostrando a ausência de estruturas mullerianas. Fontes: Revista Finlay
RMN da pelve mostrando a ausência de estruturas mullerianas. Fontes: Revista Finlay

Teste genético

  • Confirmação por sequenciamento do gene AR para detectar mutações que comprometem a função do receptor de andrógenos.
  • Análise cromossômica para confirmar cariótipo 46,XY.

Esses passos diagnósticos devem ser realizados com acompanhamento especializado para garantir a precisão e auxiliar na formulação do plano terapêutico.

Veja também:

Qual o tratamento para a Síndrome de Morris?

O manejo varia de acordo com o fenótipo e as necessidades do paciente. As principais abordagens incluem:

Retirada dos testículos

Em casos de CAIS, os testículos ectópicos devem ser removidos devido ao risco aumentado de neoplasias gonadais. A orquiectomia é geralmente realizada após o desenvolvimento puberal para preservar os efeitos androgênicos sobre a densidade óssea.

Terapia de reposição hormonal (TRH)

Estrogênios são utilizados após a orquiectomia para manter caracteres sexuais secundários e prevenir osteoporose.

Dilatação vaginal

Pode ser indicada para aumentar o comprimento vaginal em pacientes que desejam relações sexuais.

Apoio psicológico

Essencial para ajudar pacientes e familiares a compreenderem a condição e lidar com questões relacionadas à identidade de gênero.

Conclusão

A Síndrome de Morris é uma condição desafiadora que requer uma abordagem multidisciplinar para o manejo adequado. O reconhecimento precoce e o suporte personalizado são fundamentais para promover a qualidade de vida e o bem-estar dos pacientes. Estudos futuros devem continuar a explorar terapias mais eficazes e formas de mitigar os impactos psicológicos e sociais dessa condição.

Leia mais:

FONTES:

  • Hughes, I. A., et al. "Androgen Insensitivity Syndrome." The Lancet, vol. 380, no. 9851, 2012, pp. 1419–1428.
  • Harrison's Principles of Internal Medicine. 21. ed. [S. l.: s. n.], 2022.
  • UHLIG, Rebecca. Androgen Insensitivity Syndrome, 2023.