A sepse neonatal é uma condição que acomete recém-nascidos, potencialmente fatal, gerada por uma infecção. É uma das principais causas de mortalidade entre neonatos, especialmente em países de baixa renda. É diagnosticada em aproximadamente 7% a 13% de todos os neonatos.
Neste post iremos abordar o que é sepse neonatal, como identificar e como tratar!
O que é sepse neonatal?
A sepse neonatal é caracterizada por uma infecção que apresenta sinais sistêmicos ou hemocultura positiva em recém-nascidos com menos de 28 dias de vida. Tem incidência maior em bebês prematuros e naqueles com muito baixo peso ao nascer (<1.000 gramas). É uma condição potencialmente fatal, responsável por muitos óbitos no período neonatal.
A incidência vem diminuindo com a introdução da triagem universal para estreptococos do grupo B (GBS) e com a profilaxia com antibiótico em rotura de membranas com mais de 18h.
Como ela pode ser classificada?
A sepse neonatal é classificada em dois grupos, quanto ao tempo: a sepse de início precoce (aquela que ocorre antes das 48h de vida) e a sepse de início tardio (aquela que ocorre após 48h de vida). Algumas referências utilizam 72 horas como ponto de corte.
O que causa a sepse neonatal?
Sepse de início precoce
A sepse de início precoce é geralmente causada pela transmissão de patógenos do sistema geniturinário feminino para o recém-nascido ou feto. Esses patógenos ascendem pela vagina, colo do útero e útero, até a placenta ou ocorre a infecção durante o parto.
Os patógenos típicos são estreptococos do grupo B , Escherichia coli, Staphylococcus coagulase-negativa, Haemophilus influenza e Listeria monocytogenes. Os fatores de risco maternos que aumentam o risco de sepse precoce incluem corioamnionite, colonização por GBS, parto antes de 37 semanas e ruptura prolongada de membranas por mais de 18 horas.
Sepse de início tardio
A sepse de início tardio normalmente ocorre através da transmissão de patógenos do ambiente circundante após o parto, sendo uma minoria por manifestação tardia de infecção transmitida verticalmente. Os neonatos que precisam da realização de algum procedimento invasivo estão em maior risco. Os estafilococos coagulase-negativas, especialmente Staphylococcus epidermidis, são a principal causa, responsáveis por mais de 50% dos casos.
Além disso, os recém-nascidos prematuros estão em maior risco de desenvolver os dois tipos de sepse, isso se deve principalmente devido ao sistema imunológico deficiente e o aumento da necessidade de dispositivos invasivos.
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Sintomas da sepse neonatal
Os sintomas de sepse neonatal podem variar de inespecíficos até choque hemodinâmico. Os primeiros sintomas são irritabilidade, letargia e recusa alimentar. Pode aparecer também febre, hipotermia e hipotensão. Pode apresentar sinais de desconforto respiratório, como gemência, batimento de asa de nariz, tiragem intercostal, taquipnéia e cianose. Em caso de acometimento neurológico, pode ter hipotonia, convulsões, irritabilidade e letargia.
Além disso, podem ocorrer sintomas gastrointestinais, como vômitos, distensão abdominal e icterícia. Muitas vezes, a hipótese de sepse é levantada devido a alterações laboratoriais, como alterações na glicemia, acidose e hiperbilirrubinemia. Portanto, é importante estar atento e suspeitar de forma precoce, de acordo com fatores de risco e clínica.
Diagnóstico
O diagnóstico da sepse neonatal é baseado em três pilares: fatores de risco maternos e neonatais, manifestações clínicas do RN e achados em exames complementares, principalmente os laboratoriais. Em um recém-nascido com suspeita de sepse, a hemocultura deve ser colhida imediatamente.
As culturas também devem ser coletadas do local do cateter, se houver algum colocado. As uroculturas geralmente não são recomendadas para avaliação de sepse precoce, mas devem ser consideradas para avaliação de sepse tardia. A punção lombar com análise e cultura do líquido cefalorraquidiano (LCR) deve ser avaliada em qualquer bebê com hemocultura positiva ou se o neonato tiver uma apresentação clínica que sugira envolvimento do sistema nervoso central.
O hemograma e a PCR são outros exames importantes. Eles não são bons para identificar sepse neonatal, mas são mais bem usados para descartá-la. Os níveis de PCR começam a aumentar dentro de 6 a 8 horas durante um episódio infeccioso em neonatos e atingem o pico em cerca de 24 horas. Níveis persistentemente normais de PCR fornecem fortes evidências contra a sepse bacteriana.
Outros marcadores inflamatórios, incluindo procalcitonina, haptoglobina e citocinas, também podem ser obtidos para apoiar o diagnóstico ou avaliar a eficácia do tratamento. A radiografia de tórax pode ser realizada para procurar quaisquer achados pulmonares em um neonato com sintomas ou sinais respiratórios.
Qual o tratamento para a sepse neonatal?
O tratamento empírico com antibióticos deve ser iniciado assim que houver suspeita clínica de sepse. Os padrões de resistência antimicrobiana de bactérias comuns na unidade de terapia intensiva neonatal devem orientar a utilização de antibióticos na escolha inicial.
Os regimes de tratamento típicos incluem ampicilina intravenosa (IV) e aminoglicosídeos na sepse precoce e vancomicina e um aminoglicosídeo na sepse tardia. Os aminoglicosídeos têm baixa penetração no SNC, por esse motivo, uma cefalosporina de terceira geração deve ser considerada se houver suspeita de infecção do SNC, de preferência cefotaxima.
Conclusão
A sepse neonatal é uma infecção sistêmica que acomete recém-nascidos, podendo ser precoce (com menos de 48h) ou tardia. Pode se apresentar com sintomas inespecíficos, hipotermia ou hipertermia, desconforto respiratório, etc. O diagnóstico é feito por meio de exames laboratoriais, principalmente hemocultura. O tratamento é feito com antibioticoterapia.
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FONTE:
- SINGH, Meenakshi; et. Al. Neonatal Sepsis - StatPearls - NCBI Bookshelf
- FIGUEIRA, Fernando. Pediatria – IMIP.