A paralisia de Bell é uma condição muito comum que afeta homens e mulheres igualmente, podendo ocorrer em todas as idades, mas com uma incidência um pouco maior em adultos e idosos.
Verifica-se também que indivíduos com hipertensão arterial sistêmica, diabetes mellitus, infecção de vias aéreas recente e gestantes possuem um maior risco de adquirir esta enfermidade.
Em casos em que o diagnóstico é tardio ou o tratamento é refratário, pode haver sequelas duradouras para os indivíduos e, provavelmente, irão necessitar de acompanhamento multidisciplinar para uma reabilitação das atividades convencionais.
Caso Fernanda Gentil
A jornalista Fernanda Gentil foi diagnosticada com Paralisia de Bell. Em seu canal no YouTube, ela relatou que ao buscar o filho no aeroporto e beijá-lo, sentiu a boca ficar um pouco dormente, e no dia seguinte, ao visitar os afilhados, não foi diferente. Ao tentar fazer o movimento de “soltar” beijo sozinha, em algumas vezes ela não conseguia completar o movimento.
Fernanda então foi a banheiro tentar fazer outros movimentos no espelho: “ fiz careta, abri a boca, pisquei o olho... E percebi que este lado da esquerda, que era justamente onde estava incomodando a minha boca, não estava correspondendo como o lado da direita. Os movimentos que o meu lado direito fazia, o esquerdo não acompanhava”.
Ela também disse que dias antes da paralisia aparecer, sentiu dor de cabeça do lado esquerdo, na parte occiptal. Quando foram realizados exames, Gentil teve como diagnóstico a paralisia de Bell. Saiba mais sobre o que é essa doença, quais as suas causas e como tratar a seguir.
O que é a paralisia de Bell?
É a causa de paralisia facial mais comum e é idiopática. Ela corre por lesão periférica, ou seja, no nervo facial. A origem do nome se dá por causa do Sir Charles Bell (1774-1842), um cirurgião anatomista que se dedicou aos estudos da inervação da face.
Apesar de mecanismos imunes, infecciosos e isquêmicos serem considerados potenciais contribuintes, a causa da paralisia de Bell ainda é incerta.
Avanços no entendimento de moléculas que enviam sinais intra-axonais, degeneração Walleriana (degeneração após injúria traumática ou isquêmica) e interações vírus-axônio podem auxiliar futuramente no delineamento da verdadeira patogênese.
Fisiopatologia
O nervo facial possui 3 elementos: motor, sensitivo e parassimpático. Seu componente motor é responsável pela inervação dos músculos da mímica facial, o sensitivo atua na gustação dos 2/3 anteriores da língua e o parassimpático estimula as glândulas lacrimais e salivares.
A lesão periférica “corta” todas as fibras do nervo facial, ao contrário de uma lesão central. Isso ocorre porque o 1/3 superior da face recebe fibras nervosas advindas dos 2 hemisférios cerebrais.
Na lesão central, geralmente, um único hemisfério é acometido. Logo, na paralisia facial central a testa “enruga”, consegue-se fechar a pálpebra bem, mas a musculatura labial fica incapaz de se movimentar, fazendo com que a boca se desvie para o lado contrário da lesão.
Já na paralisia periférica, toda a hemiface é acometida. O olho não fecha (lagoftalmia), a testa não enruga e a boca é desviada para o lado contrário da lesão, com apagamento do sulco nasolabial.
Qual é a causa da paralisia de Bell?
Apesar de haver fatores de risco relacionados à paralisia de Bell, os conhecimentos que temos não são suficientes para determinar como uma etiologia direta. Há uma crença popular que “choques térmicos” podem causar, mas não há comprovações científicas.
Atualmente, a teoria mais aceita é a de que seja desencadeada por infecções virais, principalmente o herpes simples (o que causa herpes labial ou genital), pois o vírus herpes possui neurotropismo.
Diagnóstico e sintomas da paralisia de Bell
O diagnóstico é clínico e realizado quando há presença dos sinais e sintomas típicos. Tem início agudo/repentino de fraqueza na musculatura da face unilateralmente, que vai progredindo e atingindo o pico da paralisia em 72h. Consegue-se verificar um desvio de rima labial, lagoftalmia (incapacidade de fechar a pálpebra) e fronte sem contração.
Pelo acometimento da inervação de algumas glândulas, juntamente com a impossibilidade de oclusão ocular, os olhos podem ficar muito ressecados.
Em 50% a 60% dos casos, nota-se também perda da sensibilidade facial, hiperacusia, dor periauricular e perda do paladar (nos 2/3 anteriores da língua). Isso ocorre porque o 7º nervo craniano faz conexões com os nervos adjacentes, principalmente o 5º e o 8º. Com a presença desses achados, não há necessidade de solicitação de exames complementares (apenas casos de paralisia central ou quando há demora de resolução espontânea).
O diagnóstico diferencial é bem amplo, mas importante de ser recordado, pois é muito comum que se diagnostique a paralisia de Bell erroneamente. É essencial se atentar para o vírus varicela-zoster. Se a paralisia for bilateral, pensar em síndrome de Guillain-Barré ou linfoma. Caso seja um evento muito recorrente, suspeita-se de neuroma.
Em raros os casos um acidente vascular cerebral isquêmico lacunar pode acometer o núcleo facial e algum outro nervo próximo. A disfunção do nervo abducente ipsilateral é um sinal particularmente útil. A avaliação da paralisia em diferentes graus é feita a partir da escala de House-Brackmann para paralisia facial. Veja a seguir:
Tratamento
O tratamento para a paralisia de Bell não gera a resolução do quadro, mas auxilia na resolução espontânea mais rápida. A monoterapia com esteróide é a terapia estabelecida atualmente, com uso de prednisona 60-80mg/dia por 7 dias. Em casos severos, há uma controvérsia acerca da monoterapia. É questionado se realmente deve-se associar mais de um corticosteróide e administrar antivirais de forma empírica.
Além disso, é importante que seja feito o uso de colírio para os olhos e sua oclusão manual se possível, principalmente ao dormir. A resolução total costuma ocorrer de 3 semanas a alguns meses, podendo necessitar de fisioterapia e fonoaudiólogos nos casos em que o acometimento for mais severo.
Conclusão
A paralisia de Bell é uma paralisia facial muito comum, mas que a causa não foi ainda identificada, sendo classificada então como idiopática. Seu diagnóstico é feito clinicamente, a partir dos sinais encontrados no exame físico.
Seu tratamento é com corticosteróide, que leva a uma resolução do quadro de forma mais rápida. Importante se atentar ao ressecamento da córnea e aplicar colírio.
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FONTES:
- Bell’s palsy: aetiology, clinical features and multidisciplinary care - Eviston TJ, et al. J Neurol Neurosurg Psychiatry 2015;86: 1356–1361.
- Bell’s Palsy – Donald H. Milden MD, The New England Journal of Medicine
- University Iowa Health Care - House-Brackmann Facial Paralysis Scale
- Hospital Israelita Albert Einstein - Paralisia facial periférica ou Paralisia de Bell