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20/5/24

Osteoartrite: o que é, fisiopatologia, sintomas e tratamento

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Osteoartrite: o que é, fisiopatologia, sintomas e tratamento

A osteoartrite é uma condição debilitante que pode causar significativo prejuízo à qualidade de vida dos pacientes, afetando sua capacidade de realizar atividades diárias e comprometendo sua independência funcional. Além disso, é uma preocupação global de saúde pública, com uma crescente prevalência em todo o mundo, especialmente devido ao envelhecimento da população e aos fatores de estilo de vida. Vamos revisar aspectos chave dessa condição abrangente.

O que é osteoartrite?

A osteoartrite (OA) é uma condição musculoesquelética prevalente na população brasileira, sendo a forma mais comum de artrite (inflamação articular) em todo o mundo. Ela engloba duas classificações principais: osteoartrite primária e osteoartrite secundária. A forma secundária surge de condições predisponentes que afetam as articulações, enquanto a forma primária é menos compreendida e associada ao envelhecimento sem um fator de gatilho aparente.

CAUSAS DE OSTEOARTRITE SECUNDÁRIA
Alteração anatômica
Trauma
Malformação congênita
Artrite inflamatória
Artrite infecciosa
Osteoporose
Necrose avascular
Osteocondrite dissecante
Doença de Paget
Distúrbio metabólico
Hemoglobinopatia
Síndrome de Marfan
Síndrome de Ehlers-Danlos
Condições que podem precipitar a Osteoartrite. Fonte: Fernanda/EMR

No entanto, a classificação de osteoartrite primária e secundária vem perdendo a relevância clínica e epidemiológica, especialmente com a descoberta de novas causas subjacentes menos pronunciadas, como defeitos congênitos ou do desenvolvimento, os quais antes eram apenas associados ao desgaste tecidual decorrente da idade.

O problema é descrito como uma patologia degenerativa com componentes inflamatórios, principalmente advindos da quebra da cartilagem articular dentro das articulações sinoviais. A partir disso, entende-se que a OA afeta todo o órgão articular, incluindo não só a cartilagem articular, mas também o osso subcondral e a sinóvia. 

Imagem mostrando a anatomia da articulação sinovial
Anatomia da articulação sinovial. Fonte: Blog Dr. Emerson Gimenez 

O que causa osteoartrite?

A etiologia da osteoartrite é multifatorial, influenciada por componentes genéticos, biomecânicos e ambientais. O desenvolvimento dela está ligado ao envelhecimento, com a idade sendo um dos principais fatores de risco. À medida que há o envelhecimento celular, ocorrem reduções no volume de cartilagem, conteúdo de proteínas, vascularização e perfusão cartilaginosa. 

Além do envelhecimento, a obesidade é um grande influenciador na etiologia dessa doença, aumentando o estresse mecânico nas articulações, principalmente naquelas dos joelhos. A obesidade também está associada a níveis elevados de adipocinas (interleucinas advindas de células adiposas), que podem gerar inflamação crônica de baixo grau nas articulações. 

Trauma ou cirurgia com manipulação da cartilagem articular, ligamentos e meniscos também podem levar a alterar a funcionalidade e biomecânica normal nas articulações, acelerando a osteoartrite. A predisposição genética, junto aos fatores já mencionados, é um grande influenciador etiológico, principalmente em apresentações de OA envolvendo múltiplas articulações.

Fisiopatologia da Osteoartrite

A fisiopatologia da osteoartrite é complexa e envolve muitos fatores de risco, como os citados anteriormente. Inicialmente, era considerada uma doença apenas de cartilagem articular das articulações sinoviais, mas mudanças fisiopatológicas também ocorrem no fluido sinovial, no osso subcondral, na cápsula articular e em outras estruturas articulares. 

As alterações ocorrem na cartilagem da articulação, que desenvolve fibroses, irregularidades e erosões. Essas erosões se estendem até o osso e o restante da superfície da articulação. Em nível histológico, as alterações causam danos à matriz de colágeno, proliferação de condrócitos e formação de osteófitos e cistos. Dessa maneira o espaço articular é deteriorado e se torna mais fino.

Com o tempo, ocorre uma diminuição na quantidade de proteoglicanos na cartilagem, levando à sua deterioração, flacidez e perda de elasticidade. A osteoartrite também pode afetar o osso subcondral, causando espessamento e osteosclerose óssea em áreas de maior pressão. A dor, principal sintoma da condição, pode resultar de deformidades articulares, compressão de nervos, inflamação sinovial, espasmos musculares e fatores psicológicos. Quando a coluna está envolvida, há eventual dor radicular devido à estenose espinhal e estreitamento foraminal. 

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Sintomas de osteoartrite

A apresentação clínica da osteoartrite (OA) varia de acordo com o paciente, além de sofrer mudanças ao longo dos anos no indivíduo. Os sintomas típicos incluem dor articular, rigidez e restrição de mobilidade. A dor geralmente é exacerbada durante o esforço físico e melhora com o repouso, mas à medida que a doença progride, a dor pode ter como fator de piora atividades simples de atividades básicas de vida diária.

Além disso, a dor pode vir acompanhada de fraqueza muscular, desequilíbrio e instabilidade ao caminhar. O problema pode incidir em várias articulações, como as das mãos, quadris, joelhos, tornozelos e coluna. Os achados típicos no exame físico incluem aumento de calos ósseos, crepitação à mobilização, derrames articulares e limitação da amplitude de movimento associada à dor. 

Nódulos de Heberden e Nódulos de Bouchard são achados clássicos na osteoartrite das mãos, sendo o primeiro localizado nas articulações interfalangeanas distais, enquanto o segundo é visualizado nas articulações interfalangeanas proximais. Ambos são causados pela calcificação das cartilagens nas topografias mencionadas.

Foto mostrando os nódulos de Heberden e Bouchard
Nódulos de Heberden e Bouchard. Fonte: Instituto Coluna Vertebral

A progressão é geralmente lenta e arrastada, ocorrendo ao longo da vida do paciente. Dessa forma, a queda da mobilidade, independência e capacidade de realização de atividades se instalam insidiosamente. Por consequência, outras doenças crônicas tendem a se instalar de acordo com o declínio da funcionalidade do indivíduo, como doenças cardiovasculares.

Diagnóstico

O diagnóstico geralmente é baseado nos achados clínicos e radiográficos, sem alterações marcantes do ponto de vista laboratorial. Testes séricos como hemograma completo, VHS, fator reumatoide e ANA geralmente são normais, mas podem ser solicitados para fazer o diagnóstico diferencial com outras condições reumatológicas, como a artrite inflamatória. Outros testes laboratoriais, como análise do líquido sinovial, também auxiliam nessa diferenciação.

Os exames de imagem, como radiografias e, em casos específicos, ressonância magnética (RM) e ultrassonografia, são necessários para a avaliação da extensão e gravidade. As radiografias das articulações afetadas podem mostrar osteófitos marginais (popularmente chamados de bico de papagaio), afinamento do espaço articular, esclerose subcondral e cistos. Apesar disso, é possível que esses achados não estejam presentes em quadros precoces. 

Achados em radiografia simples de articulação de joelho com Osteoartrite. Fonte: Radiology Masterclass

Visto isso, a RM tem maior sensibilidade na detecção dos quadros precoces que não mostram alterações na radiografia simples. Ademais, a ultrassonografia pode identificar inflamação sinovial, derrame articular e osteófitos relacionados. O diagnóstico diferencial deve incluir outras condições, como artrite reumatoide, artrite psoriásica e artrite cristalina, entre outras anormalidades de partes moles.

Ressonância magnética de articulações da mão com Osteoartrite
Ressonância magnética de articulações da mão com Osteoartrite. Fonte: BioMedCentral (BMC): Imaging modalities in hand osteoarthritis - status and perspectives of conventional radiography, magnetic resonance imaging, and ultrasonography

Como tratar a osteoartrite? 

O tratamento da osteoartrite tem como objetivo minimizar a dor e melhorar a funcionalidade do paciente, com terapias farmacológicas e não farmacológicas. 

Terapias não farmacológicas

As propostas não farmacológicas incluem educação do paciente, termoterapia, perda de peso, exercícios controlados por um profissional de educação física, fisioterapia, terapia ocupacional e diminuição de carga em certas articulações, como joelho e quadril. 

Terapia medicamentosa

A terapia medicamentosa da osteoartrite envolve opções orais, tópicas e intra-articulares. O acetaminofeno (Paracetamol) e os AINEs orais são as opções mais populares e geralmente são a escolha inicial de tratamento farmacológico. Os AINEs orais ou tópicos são prescritos de acordo com a necessidade do paciente, devendo ser utilizados com cautela devido à toxicidade gastrointestinal, renal e cardiovascular. 

As injeções intra-articulares com corticosteroides e ácido hialurônico também podem ser uma boa opção, especialmente em casos de dor aguda, embora a resposta seja variável. Outras alternativas incluem a Duloxetina e opioides em pacientes sem resposta adequada aos tratamentos anteriores ou que não são candidatos à cirurgia.

No caso de falha da terapia médica, o paciente pode ser encaminhado para um cirurgião ortopédico para considerar procedimentos cirúrgicos, como artroscopia, osteotomia e, principalmente no caso de osteoartrite do joelho ou quadril, artroplastia.

Conclusão

Ao compreendermos os mecanismos da osteoartrite, desde sua etiologia até sua apresentação clínica, podemos entender o impacto que essa condição pode ter na saúde física e mental do paciente. A abordagem integrada, combinando intervenções não farmacológicas e farmacológicas, é a melhor opção de manejo para suporte dessa doença que tem como sintoma base a dor crônica.

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