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Publicado em
15/1/25

Oligúria: o que é, etiologias e tratamentos

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Oligúria: o que é, etiologias e tratamentos

A Oligúria é um achado clínico de acometimento renal inespecífico que pode decorrer de diversas patologias. É frequentemente visto em cenário de emergência, nefrologia e urologia. Além disso, precisa ser um indicativo de rápido manejo, visto que pode gerar graves complicações. Vamos revisar suas etiologias, métodos diagnósticos e tratamento?

O que é a Oligúria?

A oligúria é a redução anormal da produção de urina. É definida por: em lactentes, a produção urinária < 1 mL/kg/h; em crianças, < 0,5 mL/kg/h; e em adultos, inferior a 400 mL por dia ou menos de 20 mL por hora. Outro critério adotado pela Iniciativa de Qualidade em Diálise Aguda (ADQI) define oligúria como uma produção de urina inferior a 0,3 mL/kg/h por pelo menos 24 horas.

A oligúria é um dos sinais clínicos marcantes de lesão renal aguda (LRA), anteriormente conhecida como insuficiência renal aguda, e frequentemente é o primeiro indício de comprometimento da função renal

Etiologias

Imagem mostrando a anatomia do trato urinário
Anatomia do trato urinário. Fonte: Nurses Lab

Causas Pré Renais

Essas causas estão relacionadas à diminuição do fluxo sanguíneo para os rins, o que afeta a perfusão renal. Isso pode ocorrer por diversos fatores que reduzem o volume sanguíneo efetivo ou a capacidade do coração de bombear sangue. As principais causas incluem:

Hipovolemia

Perda de volume sanguíneo devido a hemorragias, perdas gastrointestinais, como diarreia ou episódios eméticos,  perdas renais, como no uso de diuréticos ou distúrbios de redistribuição de líquidos, como na ascite e derrames pleurais maciços.

Insuficiência cardíaca

Condições como infarto do miocárdio, embolia pulmonar, tamponamento cardíaco e insuficiência cardíaca congestiva reduzem a capacidade do coração de bombear sangue, levando à redução do fluxo renal.

Causas vasculares

Oclusões nas artérias ou veias renais devido a trombose, tromboembolismo ou estenoses graves. O uso de medicamentos como inibidores da enzima conversora de angiotensina (IECA) pode afetar a auto regulação renal.

Uso de vasodilatadores

Medicamentos ou substâncias que causam dilatação dos vasos sanguíneos e reduzem a perfusão renal.

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Causas Renais ou Intrínsecas

Essas causas envolvem lesões diretas aos tecidos renais, como os túbulos, glomérulos ou vasos sanguíneos. As principais causas incluem: Necrose tubular aguda (NTA), doenças glomerulares, como glomerulonefrite, nefrite intersticial, vasculite, hipertensão maligna e toxinas endógenas, como hemoglobina, mioglobina e ácido úrico.

Causas Pós Renais

As causas pós-renais envolvem obstruções no trato urinário, que impedem o fluxo normal de urina. Essas obstruções podem ocorrer em várias partes do trato urinário. As principais causas incluem:

  • Obstrução do trato urinário superior: obstrução dos ureteres, que pode ser unilateral ou bilateral. Pode ser causada por nefrolitíase, tumores, ou estenoses ureterais.
  • Obstrução do trato urinário inferior: comumente associada a obstruções do colo da bexiga, como na hiperplasia prostática benigna (HPB), tumores ou trauma.
  • Bexiga neurogênica: disfunção do controle nervoso da bexiga, o que leva à disfunção miccional e retenção urinária.

Como realizar o diagnóstico?

O diagnóstico de oligúria envolve uma abordagem para identificar a causa subjacente da diminuição da produção urinária. O primeiro passo é a obtenção da história pessoal e um exame físico completo, seguidos por uma série de exames laboratoriais e de imagem. Entre os exames laboratoriais, o sumário de urina é necessário para distinguir entre as causas pré-renais e renais de oligúria.

A densidade urinária é geralmente maior que 1.02 nas causas pré-renais e menor que 1.01 nas causas renais. A concentração de sódio urinário também varia, ela é inferior a 20 mmol/litro nas causas pré-renais, enquanto nas causas renais é superior a 40 mmol/litro. A excreção fracionada de sódio é menor que 1% em causas pré-renais e superior a 1% nas causas renais. 

Outros índices como a razão urina/plasma de creatinina também são úteis: superior a 40 nas causas pré-renais e inferior a 20 nas renais. A osmolaridade urinária é geralmente superior a 500 nas causas pré-renais e inferior a 350 nas renais. Já a razão urina/plasma de osmolaridade é superior a 1.5 nas causas pré-renais e inferior a 1.1 nas causas renais. 

O índice ureia/creatinina é superior a 20:1 nas causas pré-renais e inferior a 10:1 nas causas renais. Sedimentos urinários podem revelar cilindros hialinos e finos nas causas pré-renais e cilindros granulares escuros com células epiteliais tubulares nas causas renais.

Estudos de imagem também são importantes para elucidar as causas da oligúria. A ultrassonografia renal serve para avaliar a anatomia renal e pode ajudar a identificar obstruções no trato urinário, assim como especificar a topografia de acometimento. A uretrocistografia miccional é indicada caso se suspeite de obstrução do trato urinário inferior, como na obstrução da saída da bexiga.

Ultrassonografia demonstrando tumor de bexiga
Ultrassonografia demonstrando tumor de bexiga. Fonte: Ultrasound Cases

Qual o tratamento para a Oligúria?

O tratamento da oligúria depende da sua etiologia e deve ser feito de maneira sistemática. A primeira etapa é a estabilização hemodinâmica do paciente, com reposição de fluidos ajustada conforme as necessidades, evitando a sobrecarga de volume, que pode agravar a função renal. É essencial que a pressão arterial média seja mantida entre 65-70 mmHg em pacientes não hipertensos. A reposição de líquidos deve ser feita com cristaloides balanceados. 

Caso ocorra sobrecarga de líquidos, pode-se recorrer a diuréticos ou, em situações mais graves, à terapia de substituição renal. Se a hidratação não resolver, diuréticos como a Furosemida podem ser utilizados, e um Teste de Estresse com Furosemida pode servir para avaliar a resposta do paciente aos diuréticos. Caso o paciente não responda, isso pode indicar uma lesão renal mais grave, aumentando a necessidade de monitoramento rigoroso e, possivelmente, de diálise. 

Em casos persistentes de oligúria ou falha dos tratamentos convencionais, a terapia de substituição renal, como a diálise, pode ser necessária para equilibrar os níveis de fluido e eletrólitos. Além disso, é preciso interromper medicamentos nefrotóxicos que possam agravar a lesão renal, como aminoglicosídeos e AINEs, ajustando as doses de medicamentos que são excretados pelos rins conforme a função renal do paciente.

Em situações de obstrução urinária, a consulta com um urologista é necessária para diagnóstico e provável manejo cirúrgico. Durante todo o processo, deve-se também garantir uma ingestão adequada de proteínas e calorias, visto que os pacientes com insuficiência renal aguda podem apresentar altas taxas de catabolismo proteico, o que pode agravar ainda mais a situação clínica. 

Conclusão

Em conclusão, oligúria é um sinal clínico importante que indica possível disfunção renal, necessitando de diagnóstico e tratamento imediatos pelo seu risco de complicação. Sua  classificação ocorre pelo local onde há a etiologia da condição, podendo ser pré-renal, renal ou pós-renal. O diagnóstico conta com métodos laboratoriais e de imagem. Por fim, o manejo vai ser guiado pela causa identificada na investigação diagnóstica. 

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