Delirium é uma alteração especialmente frequente entre idosos. Durante o internato, residência médica ou mesmo durante sua prática após graduação, o médico fatalmente se deparará com situações em que o paciente entra em estado confusional agudo, situação que deve ser considerada como emergência psiquiátrica.
Trata-se de condição de difícil manejo, em virtude da pequena quantidade de estudos que norteiem medidas farmacológicas com evidência de qualidade. Estratégias de profilaxia farmacológica eficazes são desconhecidas.
A cirurgia é um conhecido fator precipitante de delirium. Estudos preliminares mostraram que a melatonina sérica se encontra reduzida no pós-operatório de cirurgias cardíacas. Postulou-se que a reposição profilática de melatonina poderia ajudar a prevenir a ocorrência de delirium nos pacientes em pós-operatório de cirurgia cardíaca.
Contudo os ensaios até então produzidos apresentavam resultados conflitantes e estudos permeados por falhas metodológicas.
Foi conduzido um ensaio clínico randomizado, duplo-cego e placebo controlado, intention to treat, com pacientes acima de 50 anos e submetidos a cirurgia cardíaca (valvar ou coronariana).
Os 166 participantes elegíveis foram divididos em dois grupos: placebo e intervenção (melatonina 3mg alguns dias antes da cirurgia). Esses pacientes foram acessados ao longo do internamento e 3 meses depois para a presença/ausência de delirium, usando o CAM (Confusion Assessment Method) como ferramenta de rastreio e confirmação de delirium por geriatra por meio do critério DSM.
Outros desfechos avaliados foram: tempo de delirium, severidade de delirium, tempo de hospital, ansiedade e depressão, cognição.
E o resultado? Não houve diferença entre os grupos!
Para nenhum desfecho, seja primário, seja secundário. Houve um percentual de 20% de delirium no pós-operatório. A impressão dos pesquisadores é de que o delirium vem de situações comumente relacionadas ao ato cirúrgico, como dor, desidratação, uso de sedativos e opioides. A conclusão do estudo foi que melatonina não deve ser usada com intuito de prevenir delirium.
O que podemos tirar desse resultado? Simples. Resolva a causa do problema!
Trate dor, desidratação, infecção, entre outros gatilhos e causas de estado confusional agudo. Além disso, as estratégias não farmacológicas são as que apresentam maior nível de evidência para prevenção do delirium.
Medidas como garantir o uso de óculos e aparelho auditivo (quando o paciente os tiver), orientação de cuidadores e familiares, mobilização precoce e promoção de ambiente tranquilo ajudam na melhor condução do quadro.
Antipsicóticos, frequentemente empregados na prática clínica, devem ter seu uso desestimulado na maioria das situações.
E você? Já se deparou com algum caso de delirium na sua prática? Como ele foi conduzido?
Quer se aprofundar mais no assunto? veja esse artigo
Referência:
- Ford AH, Flicker L, Kelly R, Patel H, Passage J, Wibrow B, et al. The Healthy Heart-Mind Trial: Randomized Controlled Trial of Melatonin for Prevention of Delirium. J Am Geriatr Soc. 2019;1–8