Entrevista
Publicado em
28/7/23

Saiba como é o internato de medicina da Universidade de Pernambuco (UPE)

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Saiba como é o internato de medicina da Universidade de Pernambuco (UPE)

O internato é sem dúvida a fase mais importante da graduação em medicina. Nele o estudante terá contato prático diário com casos clínicos reais em postos, clínicas e hospitais vinculados a sua faculdade. No Eu Medico Residente entrevista de hoje, falamos com Ester Reis, a médica tem 23 anos e se formou em medicina na Universidade de Pernambuco (UPE) no mês de julho deste ano. Neste texto, te contaremos tudo sobre é o internato lá, vem conferir!

Como são os estágios durante o internato de medicina na UPE?

No primeiro ano do internato Ester conta que os estudantes passam por rodízios direcionados para as áreas básicas da medicina (Clínica Médica, Ginecologia e Obstetrícia, Pediatria, Cirurgia Geral e Medicina Preventiva e Social).  É importante pontuar que apesar de todos os estudantes terem as mesmas especialidades existe normalmente mais de uma opção de instituição por especialidade - assim por exemplo, enquanto uma estudante está fazendo GO na Maternidade Bandeira Filho, outro pode estar na Professor Barros Lima.

Confira abaixo como são divididos os rodízios durante o internato na UPE.

Primeiro ano

  • Atenção primária -3 meses;
  • Materno-Infantil -  1 mês na Neonatologia, 1 mês na Obstetrícia baixo risco e 1 mês de emergência pediátrica;
  • Clínico-Cirúrgico - 2 meses em Clínica Médica e um mês de Cirurgia Geral;
  • Emergência - 1 mês de emergências cardiológicas, 1 mês de emergência clínica em Unidades de Pronto Atendimento (UPA) e 1 mês de emergência hospitalar.

Segundo ano

  • Clínica Médica - 1 mês de enfermaria, 15 dias na Infectologia e 15 dias na Geriatria;
  • Cirurgia - 2 meses;
  • Ginecologia e Obstetrícia - 2 meses ao todo com mini rodízios com tempo médio de duas semanas em áreas como: cirurgia ginecologia, ambulatório de alto risco, enfermaria de alto risco, obstetrícia, sala de parto e enfermaria do puerpério;
  • Pediatria - 2 meses;
  • Gestão em saúde - 1 mês;
  • Saúde mental - 1 mês;
  • Dois meses de opcional - 1 mês em cada lugar escolhido pelo estudante;

No último ano, aparte pelo estágio em Clínica Médica, o interno de medicina na UPE passa cada estágio em apenas um lugar. Além disso, os estudantes possuem o chamado estágio opcional, nele cada doutorando pode escolher dois lugares para fazer um mês de rodízio cada. A UPE possui algumas instituições com vagas já preconcebidas aqueles que desejarem, mas, é possível fazer em uma instituição não conveniada também. “Você pode solicitar uma vaga extra em qualquer hospital, praticamente, do Brasil e do mundo”, contou Ester.

A médica optou por fazer 1 mês na Unidade de tratamento Intensivo (UTI) adulto do Hospital Metropolitano Norte Miguel Arraes e um mês na UTI pediátrica do Hospital Barão de Lucena. Sobre isso, ela conta: “O Miguel Arraes já tinha vaga concedida para a UPE, mas o Barão de Lucena não. Tive que ir lá conversar com a chefe do setor, pedir para ela enviar uma mensagem para a coordenação do internato, para que eles solicitassem a vaga à secretaria estadual, mas no final deu tudo certo”.

Instituições de saúde

A maioria dos estágios acontecem em instituições de saúde do sistema público de saúde, mas algumas da rede privada também contam com vagas. Enquanto os do primeiro ano costumam ter vagas em diferentes hospitais, os rodízios do segundo ano costumam se concentrar no complexo hospitalar da própria UPE, principalmente no Hospital Oswaldo Cruz (HUOC). Confira abaixo a lista com algumas instituições que os internos podem rodar:

  • Centro Integrado de Saúde Amaury de Medeiros (CISAM);
  • Hospital Maria Lucinda;
  • Hospital Barão de Lucena;
  • Pronto Socorro Cardiológico de Pernambuco (Procape);
  • Centros de Atenção Psicossocial (Caps);
  • Distrito Sanitário de Recife; 
  • Secretaria Estadual de Saúde;
  • Secretaria Municipal de Saúde;
  • Maternidade professor bandeira filho;
  • Policlínica e Maternidade Professor Barros Lima;
  • Policlínica e Maternidade Professor Arnaldo Marques;
  • Real Hospital Português.

Carga horária  

Sobre os horários Ester recorda: 

“Depende muito do local onde você está. (...) Cada lugar é muito diferente, então, por exemplo, o rodízio de Clínica Médica é diferente do Hospital Getúlio Vargas - que foi onde eu fiz - e do Miguel Arraes, ou ainda do Agamenon [Hospital Agamenon Magalhães]. Via de regra chegamos às 7 horas, mas tem lugares que é antes. Cirurgia normalmente o mais tarde é às 6 horas”. 

E continua:

Tem vezes que você sai muito tarde, mas é exceção. Os rodízios mais pesados costumam ser os de cirurgia mesmo, que costumam tomar mais da gente e também dos residentes. É um rodízio que você estranha menos se ouvir que alguém chegou às cinco da manhã e saiu às oito da noite, o que é relativamente comum. Mas a grande maioria dos lugares vamos sair antes das 19 horas da noite. Então, normalmente, não passamos de 12 horas por dia”. 

A médica Ester cita ainda a Lei Federal nº 11.788, responsável por entre outras coisas, regulamentar o internato da medicina. Ela determina que a carga horária máxima para os internos de medicina seja de 40 horas semanais, mas que normalmente passa disso. Nos rodízios de cirurgia, inclusive, já teve que chegar até às 4 horas da manhã.

Em relação a ir em fim de semana ou feriado a doutoranda conta que “acontece também, mas depende do rodízio”.  Em estágios como atenção primária à saúde, gestão hospitalar e saúde mental seguia o horário de funcionamento dos locais em que estava, funcionando apenas em dias úteis. Sendo assim, ela conta que os plantões de final de semana ou feriado acontecem, geralmente, nos rodízios de enfermaria ou de emergência, já que é preciso evoluir os pacientes. 

Rotina

“Em rodízios de enfermaria passamos de manhã, evoluímos pacientes e discutimos com os chefes a conduta deles. A rotina de forma geral é essa, que costuma durar a manhã inteira. Mas ainda tem coisas que precisa fazer, como a admissão de novos pacientes. Em rodízios de cirurgia, por exemplo, ainda tem outras coisas para fazer, como ir ao centro cirúrgico”, relata a médica. 

Ester Reis continua: “Já à tarde costumamos fazer permanência, que é quando um grupo de pessoas é escalado para estar lá e resolver o que precisar fazer, como as admissões, por exemplo”.

Sobre a rotina nos fins de semana, a estudante conta que costuma ser mais complicada que os dias de semana, pois a equipe é bem menor. “A gente geralmente se divide, vemos quantos precisam para realizar o serviço. Então se no dia a dia tenho 3 pacientes sob a minha responsabilidade, no fim de semana fico com até 8”, falou. 

Quais procedimentos feitos pelo interno de medicina?

Os procedimentos que os internos de medicina podem ou não fazer são fonte de grande curiosidade por quem está no aguardo do internato, apesar de poder realizá-los todos os internos são sempre acompanhados e monitorados na realização destes, visto que ainda são estudantes e não possuem CRM. 

Apesar disso, no internato da UPE Ester relata que tinha bastante liberdade:Principalmente dependendo do serviço e dependendo das pessoas que estão com você. Se for um residente que gosta, que quer te dar oportunidade, você vai fazer. Se for um residente ‘fominha’, que quer fazer tudo ele mesmo, aí você não vai ganhar nada. [Além disso] depende do lugar também”. 

A ex-interna contou ainda que o estágio em que mais teve oportunidade de realizar procedimentos foi no Hospital Miguel Arraes, onde rodou emergência e UTI. Já sobre o que mais faziam, relatou que vai desde os mais simples como gasometria e sutura, até as mais complicadas como intubação e acesso venoso central, “que normalmente a gente gosta de fazer e ter a oportunidade, porque é muito útil”, disse ela.

A recém-formada relatou ainda: “no Procape, a gente consegue fazer implante de marcapasso, na GO [conseguimos] colocar DIU, implante de concepcional e várias coisinhas assim. Mas o que todo mundo quer e precisa fazer é intubação, acesso venoso central, dreno de tórax, toracocentese e paracentese, porque é o que na emergência a mais usa”.

Além disso, nos estágios de Cirurgia Geral todos têm a oportunidade de entrar no bloco cirúrgico:

“Então normalmente o que fazemos é instrumentalizar, que é deixar os instrumentos cirúrgicos organizados e ir dando para o cirurgião, ou então auxiliar, que é basicamente oferecer nossas mãos para segurar um órgão, puxar uma pele etc. É isso que a gente faz, a não ser que você já tenha experiência e seja desenrolado, e pegue um staff que queria muito te dar essa oportunidade (...) mas assim, são exceções. De uma forma geral, o que o doutorando faz é auxiliar e instrumentalizar, e toda cirurgia tem oportunidade”.

Como é a carga teórica?

Sobre a carga teórica, na UPE existe, mas em pouquíssima quantidade. Além disso, os internos costumam ter aulas em rodízios específicos, que ocorrem de forma independente. “O  que acontece é que os serviços em si costumam ter atividades teóricas, porque têm residente e (...) a gente costuma participar das atividades do serviço. Mas é independente sabe, se o serviço não tiver a gente também não vai ter”, revelou. 

“Tem algumas exceções. Alguns rodízios tem aula teórica mesmo. Por exemplo, gestão em saúde é a professora da faculdade da UPE, atenção primária também, mas são raridades. A maioria não tem e também não tem prova, o único que tem que me lembro é a Clínica Médica, no Oswaldo Cruz. No grosso não tem nem prova, nem aula”, continuou.

Sobre os rodízios

Qual o mais desafiador?

A médica recém-formada Ester Reis disse que:

“Os de cirurgia foram desafiadores mais pelo cansaço, a correria da rotina. O que achei mais desafiador para mim foram os do Miguel (emergência hospitalar e UTI adulto), porque tinham pacientes complicados, a gente tinha muita responsabilidade. Na época a gente fazia prescrição, não liberava, óbvio, mas fazia e alguém corrigia, e precisava fazer. Tínhamos uma quantidade razoável de pacientes, a emergência sempre estava muito cheia, com um perfil de paciente grave. Foi um rodízio desafiador e muito legal, foi de muito aprendizado mesmo. Gostei tanto que vou trabalhar lá agora dando plantão”. 
Ester se formou em medicina pela Universidade de Pernambuco e atualmente atua trabalhando dando plantões no Hospital Miguel Arraes. Foto: Reprodução/Acervo Pessoal
Ester se formou em medicina pela Universidade de Pernambuco e atualmente atua trabalhando dando plantões no Hospital Miguel Arraes. Foto: Reprodução/Acervo Pessoal
“Tem o da UTI também, tinha pouco doutorando na época que trabalhei lá. Eu e um colega para uma UTI com dez leitos. O normal é o doutorando ter dois leitos, porque paciente de UTI é mais complexo do que de enfermaria, e na minha época eu pegava 5 pacientes todos os dias. Então foi um rodízio que me ajudou muito a manejar várias coisas, foi muito bom o rodízio do Miguel por isso”, relatou a profissional. 

Falando ainda sobre a sua passagem no Miguel Arraes, a médica diz:

Tanto as staffs são muito boas, quanto os diaristas, é uma equipe excelente. Um hospital muito bem estruturado, casos interessantes, plantonistas bons sabe? Deu muito trabalho, eu dava 12 horaas quase todos os dias, menos no fim de semana, não parava um segundo, mas me ajudou a manejar, sabe? Essa rotina, fazer as coisas com velocidade, com dinamismo, foi muito boa. Acho que foi isso, os mais desafiadores foram esses do Miguel, finalizou Ester.

E qual você gostou mais e menos?

Já sobre o rodízio que mais gostou, Ester Reis fala que foi o rodízio de Pediatria:

Eu sempre quis, na verdade, faz muito tempo que quero Pediatria já que venho com isso na cabeça. Deram uma vaga para a gente em pediatria e me agarrei com ela, não deixei ninguém tomar de mim a vaga de IMIP e fui. Ele é o maior centro do estado, a referência maior na área. A referência maior de formação do Pediatra no estado é o IMIP. E eu gostei muito, é a área que gosto (...), quando você tá fazendo o que gosta, com o público e com os assuntos que gosta, lógico que você vai gostar daquele lugar sabe. Foi muito bom, um rodízio que encontrei pessoas fantásticas. Sem palavras para a Pediatria no IMIP”.

Já sobre o que marcou negativamente, a médica recém-formada fala:

O pior de todos foi GO no CISAM. Foi péssimo, mas é porque não gosto, gosto mais de Ginecologia do que de Obstetrícia. Então o ambulatório foi bom e gostei da parte de cirurgia ginecológica também, mas a Obstetrícia realmente não curto. Não foi tão legal porque já é um rodízio pesado e normalmente são dois grupos de 10 pessoas”.

Ester continuou desabafando sobre o rodízio de Ginecologia e Obstetrícia:

Quando rodei em Obstetrícia a turma à minha frente tinha acabado de se formar e a anterior estava de férias, então passamos esse tempo inteiro sem eles, sozinhos. Era metade das pessoas para fazer o mesmo trabalho. Então era muito cansativo, tinha setor lá que pediam para chegarmos às seis da manhã, mesmo sem ser cirurgia. (...) Não é um rodízio leve, todo mundo diz que é pesado, e a gente pegou o dobro.  (...) Juntou minha pouca simpatia pela especialidade com esse fato,então gostei tanto não”.

Turbine sua experiência no internato de medicina e se prepare para a residência médica


Ester quer fazer Pediatria e já tinha entrado no internato sabendo, mas o curso ajudou a solidificar a escolha “e ajudou a escolher a instituição de preferência também. Eu fiquei muito em dúvida antes de rodar em Pediatria, pensava em colocar minha primeira opção no HUOC e a segunda no IMIP, mas depois de rodar eu decidi colocar a primeira opção no IMIP. (...) Mas assim, qualquer lugar que eu passar ‘tô’ feliz, se eu passar no HUOC ‘tô’ felicíssima também, mas [o internato de medicina] me ajudou a tomar essa decisão sim”, deixou claro.

As duas instituições escolhidas fazem parte do processo seletivo da SES-PE. Ester conta que está fazendo o curso preparatório para a residência médica do Eu Medico residente, que está ajudando na sua preparação: “o curso de vocês é excelente, excelente de verdade. Eu adoro o curso de vocês e gostaria inclusive de ter começado antes.

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