As infecções de via aérea inferior representam uma grande carga para os sistemas de saúde em todo o mundo. A pneumonia, por exemplo, afeta anualmente cerca de 450 milhões de pessoas, resultando em aproximadamente 4 milhões de mortes. Esses dados destacam a relevância e o impacto do estudo desse tema. Vamos sobrevoar as principais condições dentro desse tema?
O que é a infecção de via aérea inferior?
A Infecção de Via Aérea Inferior é um termo amplo que engloba bronquite aguda, pneumonia, bronquiolite, exacerbações agudas da doença pulmonar obstrutiva crônica/bronquite crônica (EAPC), tuberculose, abscessos pulmonares e exacerbação aguda de bronquiectasia. Essas são, dentre outras, algumas das infecções mais comuns em ambientes comunitários e hospitalares.
Por definição, a via aérea inferior é o lúmen de fluxo respiratório com localização intratorácica, abaixo da via aérea superior localizada na cabeça e pescoço. É composta de traquéia, brônquios, bronquíolos e alvéolos. É o local de acontecimento das trocas gasosas (hematose) responsável pela excreção de gás carbônico e captação de oxigênio e, por isso, é uma área extremamente vascularizada. Consequentemente, torna-se propensa à disseminação de microrganismos.
Quais são as infecções?
Sinais e sintomas das infecções de via aérea inferior
Pneumonia
Os sintomas comuns incluem tosse persistente e produtiva, febre, dispneia e dor torácica à inspiração. Esses sinais podem ser mais graves do que os observados em condições como bronquite aguda ou bronquiolite, além disso, a pneumonia frequentemente causa infiltrados pulmonares, visíveis em exames de imagem. Esta diferenciação, juntamente com a gravidade dos sintomas respiratórios são úteis no diagnóstico diferencial. Veja alguns tipos a seguir:
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Bronquite
O principal sintoma é a tosse persistente, muitas vezes acompanhada de produção de muco. Na bronquite aguda, essa tosse pode durar algumas semanas, enquanto na forma crônica, ela é recorrente e persiste por meses, especialmente pela manhã. Essa característica da duração dos sintomas é típica de bronquite, auxiliando no diagnóstico diferencial.
Bronquiolite
A bronquiolite, comumente vista na pediatria, tem como seus principais sintomas: tosse, gemido expiratório, taquipneia e dispneia, especialmente em bebês. Ela é frequentemente causada por vírus respiratórios, como o vírus sincicial respiratório (VSR), e tende a afetar mais fortemente bebês e crianças pequenas.
Exacerbação de DPOC
Os principais sintomas incluem piora da dispnéia pré-existente, tosse persistente com ou sem produção de muco, sibilância e aumento da produção do escarro habitual. O que diferencia a exacerbação da DPOC de outras infecções é o histórico do paciente, especialmente se ele já foi diagnosticado. Além disso, a presença de fatores desencadeantes, como exposição a poluentes ou infecções respiratórias, pode falar a favor dessa condição.
Abscesso Pulmonar
O quadro clínico inclui tosse persistente, muitas vezes com hemoptise, dor torácica intensa, febre e perda de peso não intencional. O que diferencia o abscesso pulmonar é a presença de uma cavidade cheia de pus nos pulmões, visível em exames de imagem como radiografias ou tomografias computadorizadas. Esta cavidade é uma característica marcante e pode ocorrer como complicação de uma infecção pulmonar prévia.
Tuberculose
Abrange tosse persistente por mais de duas semanas, muitas vezes acompanhada de hemoptise, febre, sudorese noturna, perda de peso e fadiga. O que diferencia a tuberculose é a duração dos sintomas, especialmente a tosse persistente e a presença de expectoração com sangue, além de sintomas sistêmicos como sudorese noturna e perda de peso não intencional. Veja alguns tipos a seguir:
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Como fazer o diagnóstico?
Os métodos diagnósticos das infecções do trato respiratório inferior são multifacetados, combinando a avaliação clínica, exames laboratoriais e de imagem para identificar a condição em curso. O exame físico desempenha um papel crucial, com achados como sibilância, que pode sugerir bronquite, bronquiolite ou exacerbações da DPOC. Outras anormalidades na ausculta pulmonar podem ser estertores ou crepitações, que podem indicar pneumonia ou abscesso pulmonar.
Dica de prova
Vamos relembrar o significado de cada achado na ausculta pulmonar:
Alterações nos sinais vitais, como febre e taquipneia, são frequentemente associadas a infecções como pneumonia ou exacerbações da DPOC. Os testes laboratoriais são utilizados para identificar leucocitose e marcadores inflamatórios, frequentemente observados em condições como pneumonia, tuberculose ou abscesso pulmonar. Além disso, testes de função pulmonar podem revelar obstrução das vias aéreas, comum na DPOC.
Os exames de escarro são válidos para identificar agentes infecciosos, como bactérias em pneumonias bacterianas ou na tuberculose. Os exames de imagem, como radiografias de tórax, revelam infiltrados nos pulmões, característicos de pneumonias, enquanto cavidades podem sugerir tuberculose ou abscesso pulmonar. As tomografias computadorizadas (TC) oferecem detalhes mais específicos, mostrando padrões de inflamação, lesões ou extensão da infecção.
Quais os tratamentos das infecções de via aérea inferior?
Pneumonia
Para pacientes não-graves e sem fatores de risco para Staphylococcus aureus resistente à meticilina (MRSA) ou Pseudomonas aeruginosa, as opções de primeira linha incluem terapia combinada com um beta-lactâmico como ampicilina/sulbactam, cefotaxima, ceftriaxona, ceftarolina, associado a um macrolídeo como azitromicina ou claritromicina.
Alternativamente, pode-se optar por monoterapia com uma fluoroquinolona respiratória como levofloxacino ou moxifloxacino. Para pacientes com contraindicações para macrolídeos e fluoroquinolonas, a opção é uma combinação de um beta-lactâmico mais doxiciclina.
Bronquite
Para este tipo de infecção de via aérea inferior, tratamentos frequentemente usados para tosse, apesar de pouca evidência científica de benefício, incluem expectorantes anti-histamínicos de primeira geração como Bronfeniramina ou clorfeniramina; descongestionantes como pseudoefedrina e benzonatato; tratamentos inalatórios como broncodilatadores (Salbutamol ou agentes antimuscarínicos).
O tratamento antibiótico rotineiro não é recomendado para bronquite aguda não complicada, a menos que haja suspeita de pneumonia. A eficácia dos antibióticos para reduzir a tosse ou sintomas gerais parece ser limitada, além de estarem associados a efeitos adversos.
Bronquiolite
O cuidado de suporte na bronquiolite é a principal parte do manejo, com metas principais de garantir oxigenação e hidratação adequadas. O tratamento pode ocorrer no hospital ou em casa, dependendo da condição clínica, presença de fatores de risco e capacidade dos cuidadores de fornecerem cuidados adequados. A solução salina hipertônica nebulizada não é recomendada, assim como o Salbutamol em lactentes e crianças com bronquiolite.
Exacerbação de DPOC
Em todos os pacientes com este tipo de infecção de via aérea inferior, são utilizados: agonistas beta-2 de ação rápida (SABAs) com ou sem anticolinérgicos como broncodilatadores iniciais preferenciais; corticosteróides (oral ou IV), como prednisolona para reduzir o tempo de recuperação e melhorar a função pulmonar e a hipoxemia; e antibióticos em pacientes selecionados.
Antibióticos são administrados a pacientes na UTI ou hospitalizados com exacerbações graves de DPOC e geralmente consistem em aminopenicilinas com ácido clavulânico, macrolídeos ou Tetraciclinas. Medicamentos como amoxicilina-clavulanato, levofloxacino, azitromicina, doxiciclina, claritromicina e moxifloxacino são comumente utilizados.
Abscesso pulmonar
O tratamento com antibióticos é a primeira linha de abordagem, escolhendo-se Clindamicina. Regimes alternativos incluem penicilina com metronidazol, penicilina com um inibidor de beta-lactamase, carbapenêmicos ou quinolonas com atividade anaeróbica, como moxifloxacino. A terapia é direcionada ao patógeno específico, se identificado. Pacientes que não respondem ao tratamento medicamentoso podem necessitar de cirurgia ou drenagem.
Conclusão
As infecções de via aérea inferior apresentam uma variedade de sintomas e demandam abordagens específicas para diagnóstico e tratamento. É necessário reconhecer suas características distintas para oferecer os cuidados devidos, destacando a importância da avaliação clínica associada aos exames complementares. O manejo adequado dessas condições visa não apenas aliviar os sintomas, mas também prevenir complicações potencialmente graves.
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