A histerectomia, atualmente, devido aos avanços científicos, já pode ser realizada por via laparoscópica.
No âmbito do SUS, ela é a segunda cirurgia mais realizada entre mulheres em idade reprodutiva, sendo superada apenas pela cesárea.
O que é histerectomia?
É a remoção do útero através de procedimento cirúrgico, que começou a ser realizada através de incisões abdominais e vaginais, com seu primeiro sucesso documentado no século XIX.
Quais são os tipos de histerectomia?
Existem alguns tipos, por isso traremos aqui os três principais e mais comuns na prática médica:
Histerectomia parcial
Este tipo pode ser chamado de subtotal ou supracervical, e nela será removida apenas a parte superior do útero, poupando o colo uterino.
Os ovários podem ou não ser removidos, dependendo de cada caso.
Histerectomia total
É o tipo mais comum. Sendo caracterizada pela remoção de todo o útero, incluindo o colo. A depender do caso, pode haver também a remoção das tubas uterinas e dos ovários.
Histerectomia radical
Esse procedimento cirúrgico remove todo o útero (incluindo colo). Além do tecido de ambos os lados do colo do útero, removidos de acordo com o subtipo de histerectomia radical.
A parte superior da vagina, também pode ser retirada, sendo mais indicada para tratar certos tipos de câncer.
Indicações
Existem várias razões pelas quais um paciente pode precisar passar pelo procedimento cirúrgico. Sendo assim, aqui estão as indicações mais prevalentes em nossa sociedade:
Miomas uterinos
Os miomas são massas tumorais benignas que crescem na parede do útero. Eles podem cursar com aumento do fluxo menstrual acompanhado de coágulos e aumento do volume abdominal.
Esse aumento do fluxo menstrual pode ser tão intenso a ponto de causar anemia na paciente.
Hemorragias uterinas anômalas
Estes tipos de hemorragias podem ser causadas por alterações nos níveis hormonais, cânceres, infecções ou até pelo próprio mioma.
Além do mais, podem cursar com cólicas e também com anemia.
Outra possível indicação para a realização do procedimento cirúrgico é o prolapso dos órgãos pélvicos, sendo mais comum o prolapso uterino.
Nesse caso, ocorre uma invaginação de parte do útero para o lúmen vaginal. Essa condição é mais comum em mulheres que já passaram por menopausadas, partos vaginais, ou obesas.
O prolapso reduz bastante a qualidade de vida, pois pode levar a problemas tanto urinários como intestinais.
Doenças malignas ou pré-malignas
Nestes casos a cirugia costuma ser a melhor opção, mas também temos outros métodos terapêuticos disponíveis como quimioterapia e radioterapia.
Como é feita a histerectomia?
Primeiramente, é importante que o pré-operatório contenha o consentimento da paciente, histórico médico e comorbidades que podem influenciar no processo cirúrgico.
E ainda, a avaliação do risco de malignidade genital, profilaxia antibiótica e tromboprofilaxia (em caso da técnica laparoscópica).
Ademais, é importante colocar um cateter urinário para evitar interferência do tamanho da bexiga no desempenho da cirurgia.
Com relação à técnica, pode-se realizar uma histerectomia vaginal, abdominal ou laparoscópica.
Como a laparoscópica é a técnica mais moderna e com menos complicações documentadas, vamos focar nela.
Histerectomia laparoscópica
Antes de começar o procedimento, é importante inserir um manipulador uterino na vagina, que será manuseado pelo auxiliar do cirurgião, de forma a ajudar na mobilização e exposição cirúrgica.
Na técnica multiporta (mais de uma incisão), normalmente há uma porta primária no umbigo (que fornece as imagens) e duas portas acessórias nos quadrantes inferiores bilaterais (por onde o cirurgião vai manipular aquela anatomia durante a cirurgia).
Antes de remover o útero de fato é crucial identificar todas as estruturas anatômicas locais, com destaque para as estruturas reprodutivas.
Para não esquecer nada, é possível seguir essa ordem:
- Possíveis aderências (a aderência vesicouterina é bastante comum em pacientes que já realizaram cesárea);
- Útero;
- Ureteres (passam por baixo das artérias uterinas);
- Ovários;
- Tubas uterinas;
- Ligamento redondo; e
- Vasos uterinos.
Visto que o objetivo da cirurgia é cortar tudo que prende o útero à cavidade, após identificar essas estruturas, é preciso coagular e seccionar uma de cada vez (tuba uterina, ligamentos redondos, ligamentos útero-ovarianos, vasos uterinos e paramétrios).
Por fim, será realizada a abertura da cúpula vaginal, com auxílio do manipulador uterino.
Normalmente os ovários são mantidos devido ao seu papel de produção hormonal, mas a remoção das tubas pode ser realizada a fim de evitar que elas fiquem produzindo secreções e sirvam para o surgimento de cânceres.
Após a extração do útero por via vaginal, devemos suturar apropriadamente a cúpula vaginal a fim de evitar possível deiscência. Esta cirurgia costuma levar mais de 30 minutos.
Quais as possíveis complicações de uma histerectomia?
Dentre as diversas complicações da histerectomia, as mais comuns são uma conversão para laparotomia, lesão do trato urinário, deiscência da cúpula vaginal, lesão intestinal e hemorragia.
Essas complicações são decorrentes de iatrogenia. Então é muito importante seguir o passo a passo correto dessa cirurgia, identificando todas as estruturas importantes antes de começar o procedimento propriamente dito, e procurar coagular com atenção cada um dos pontos necessários.
Como é a recuperação da cirurgia de histerectomia?
Caso seja utilizada a técnica laparoscópica, a recuperação costuma ser rápida e sem maiores intercorrências, a depender de como foi o período perioperatório.
A paciente geralmente tem alta hospitalar no mesmo dia ou permanece no hospital por apenas uma noite, caso não haja complicação ou comorbidade. Uma consulta deve ser agendada dentro de 3 a 4 semanas após a cirurgia.
Durante o período pós-operatório, é indicado que a paciente fique em repouso, evitando levantamentos e esforços pesados durante o período cicatricial, voltando com suas atividades diárias entre 2 a 4 semanas.
O descanso pélvico, com a ausência de relações sexuais e uso de tampões é recomendado por 6 a 8 semanas após a histerectomia total e por 3 a 4 semanas após a cirurgia parcial, reduzindo o risco de deiscência da cúpula vaginal.
O que muda na vida da mulher após a cirurgia?
Dependendo da situação que tornou essa cirurgia propícia para mulher, pode haver vários ganhos.
No geral, há aumento da qualidade de vida e desaparecimento de sintomas que estavam trazendo um mal para a paciente.
Como há nenhuma ou pouquíssima remoção do canal vaginal, é possível que a paciente tenha relações sexuais normalmente, bem como fazer uso de vibradores, da forma como era a sua vida antes da cirurgia.
Conclusão
A histerectomia é a remoção do útero através de procedimento cirúrgico, sendo realizada em sua grande maioria através de procedimento laparoscópico, devido aos avanços científicos.
Suas principais indicações são a presença de miomas uterinos, hemorragias uterinas anômalas, prolapso dos órgãos pélvicos e doenças malignas e pré-malignas.
O pós-operatório é bastante tranquilo, e há melhoria significativa na qualidade de vida da paciente.
Leia mais:
- A dismenorreia pode ser incapacitante para muitas mulheres
- Sangramento Uterino Anormal: Definição, Causa e Tratamento
- Endometriose acomete 10% das mulheres em idade fértil
Fontes:
- Tratado de Ginecologia, Sebastião Piato