Saber identificar a dismenorreia é de extrema importância, pois essa condição afeta significativamente a qualidade de vida das mulheres, principalmente em idade reprodutiva. A dor menstrual, tanto na forma primária quanto na secundária, pode causar desconforto físico, impactar as atividades diárias e até mesmo levar a ausências no trabalho ou na escola. Portanto, vamos conhecer suas causas e seus manejos!
O que é dismenorreia?
A dismenorreia é definida como um fluxo menstrual doloroso e é uma queixa ginecológica comum entre mulheres jovens. Epidemiologicamente, é a queixa ginecológica mais comum em todo o mundo, independente de idade ou etnia. O pico de incidência dessa condição é no final da adolescência e início da vida adulta, com queda de prevalência após os 30 anos.
Os fatores de risco incluem menarca antes dos 12 anos de idade, aumento da duração e quantidade do fluxo menstrual, baixo índice de massa corporal, esterilização tubária, abuso sexual e histórico familiar de endometriose. Pode ser primária, ocorrendo sem patologia pélvica, geralmente começando após a menarca, ou secundária, associada a problemas anatômicos ou patológicos que podem ser identificados pela clínica ou por exames complementares.
Etiologia da dismenorreia
A dismenorreia apresenta uma complexa etiologia envolvendo fatores anatômicos, bioquímicos e psicológicos.
Dismenorreia primária
Na dismenorreia primária, a principal causa é a atividade do miométrio que resulta em contrações uterinas dolorosas. Isso ocorre pela ação das prostaglandinas, especialmente PGF2α, que está associada à intensidade da dor. Além disso, leucotrienos e o hormônio vasopressina também podem contribuir para a hipersensibilidade e a dor.
Dismenorreia secundária
A dismenorreia secundária pode resultar devido a diversas condições subjacentes, incluindo endometriose, adenomiose, miomas uterinos, pólipos endometriais, cistos ovarianos, entre outras. Essas condições podem levar à liberação de mediadores inflamatórios, como prostaglandinas, assim como causar distorções anatômicas que contribuem para a dor menstrual.
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Como avaliar?
A avaliação da dismenorreia envolve uma coleta de história clínica detalhada e um exame físico completo.
Dismenorreia primária
Geralmente é descrita a dor abdominal ou pélvica em cólica, com ou sem irradiação, começando até 12 meses após a menarca. A dor geralmente dura de 8 a 12 horas após o início do sangramento e pode vir com lombalgia, cefaleia, diarreia, fadiga, náuseas ou vômitos. Não são achadas alterações significativas no exame físico.
Dismenorreia secundária
No tipo secundário podem ocorrer alterações progressivas na dor pélvica, sangramento uterino anormal, corrimento vaginal e dispareunia. O início dos sintomas pode ocorrer imediatamente após a menarca ou mais tarde na vida. Para estabelecer um diagnóstico diferencial, deve-se considerar critérios diagnósticos de condições como endometriose, cistos ovarianos, pólipos uterinos, miomas, adenomiose, doença inflamatória pélvica e anomalias congênitas do trato reprodutivo feminino.
Exame físico
O exame físico da dismenorreia secundária pode revelar achados como aumento do volume uterino, corrimento vaginal anormal, massa pélvica palpável, dor abdominal ou pélvica à palpação e achados específicos dependendo da etiologia. A avaliação inicial inclui dosagem de gonadotrofina coriônica humana (beta-hCG) para excluir gravidez e sorologias para infecções sexualmente transmissíveis de ambas as classes de dismenorreia.
Exames de imagem
Os exames de imagem, como ultrassonografia pélvica, podem ser úteis para diferenciar a causa, enquanto a ressonância magnética (RM) pode ser indicada em casos suspeitos de endometriose profunda, adenomiose ou anomalias mullerianas. A laparoscopia pode ser necessária para confirmar o diagnóstico em casos de dismenorreia secundária refratária ao tratamento inicial.
Tratamento para a dismenorreia
O tratamento da dismenorreia envolve abordagens variadas dependendo da gravidade dos sintomas e das necessidades individuais da paciente. Anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs), como ibuprofeno e naproxeno, são recomendados como tratamento de primeira linha para dismenorreia primária, sendo eficazes no controle da dor ao inibir a síntese de prostaglandinas.
Além disso, contraceptivos hormonais são considerados uma opção de médio a longo prazo. Eles podem ser usados em conjunto com AINEs ou como alternativa para pacientes que desejam contracepção. Os contraceptivos hormonais ajudam a suprimir a ovulação e reduzir a produção de prostaglandinas, aliviando o problema. Esse grupo de anticoncepcionais inclui a pílula oral, dispositivo intrauterino hormonal e injetáveis mensal ou trimestral.
Terapia não medicamentosa
Outras opções incluem terapias alternativas não-medicamentosas, como exercícios regulares e termoterapia local, que são recomendados para aliviar os sintomas. Suplementos vitamínicos, minerais e à base de plantas podem ajudar, embora a evidência sobre sua eficácia seja limitada. Além disso, a estimulação elétrica nervosa transcutânea (TENS) e a acupuntura ou acupressão podem gerar alívio da dor em algumas mulheres.
Também é importante tratar a dismenorreia secundária corrigindo a causa subjacente, como endometriose, adenomiose, miomas uterinos, entre outras patologias. As pacientes devem ser encaminhadas para acompanhamento ginecológico continuado, especialmente se os sintomas forem refratários. O acompanhamento médico regular é essencial para monitorar o sucesso do tratamento e fazer ajustes conforme necessário.
Conclusão
O diagnóstico e tratamento adequados da dismenorreia são necessários para atenuar o impacto negativo dessa condição na vida das mulheres, proporcionando alívio da dor e melhorando sua qualidade de vida.
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