A Hemorragia no TGI (Trato Gastrointestinal) é um grupo de condições da Gastroenterologia e da cirurgia digestiva que engloba um grande número de patologias com um sinal clínico em comum: sangramento de estruturas gástricas e entéricas. Vamos destrinchar as diversas possibilidades de causa, métodos diagnósticos e tratamento dessas doenças!
O que é a hemorragia no TGI?
A Hemorragia no TGI refere-se a qualquer tipo de sangramento que ocorre em qualquer ponto do sistema digestivo, que se estende desde a boca até o ânus. Isso inclui órgãos como o esôfago, estômago, duodeno, intestinos delgado, grosso e reto. Por ser um termo inespecífico, pode variar em gravidade, desde pequenas perdas de sangue sem relevância clínica até hemorragias graves que podem ser potencialmente fatais.
Tipos
Quanto à localização
Nas hemorragias digestivas, é possível dividir suas formas em dois grandes grupos baseados na estrutura causadora do sangramento, sendo elas a Hemorragia Alta ou Baixa. A hemorragia digestiva alta ocorre na parte superior do sistema digestivo, abrangendo o esôfago, estômago e duodeno. Já a hemorragia digestiva baixa ocorre na porção inferior do TGI, englobando o intestino delgado, cólon e reto. O marco anatômico dessa divisão chama-se Ligamento de Treitz.
DICA DE PROVA
Que tal aprofundar os conceitos de Hemorragia Digestiva Baixa? Aqui está uma aula do professor cirurgião Dr. Amyr Kelner sobre HDB, Sangramento oculto e obscuro:
Quanto à cronologia
Ademais, as hemorragias do TGI também podem ser divididas quanto à duração, podendo ser Aguda ou Crônica. A hemorragia digestiva aguda é caracterizada por sangramentos súbitos e intensos, muitas vezes representando uma emergência médica devido à rápida perda de sangue. Em contrapartida, a hemorragia digestiva crônica envolve sangramento de baixa intensidade que se estende por um período prolongado.
Quais as causas?
Podemos dividir as causas de acordo com a classificação anterior para sistematizar as diversas etiologias da Hemorragia no TGI.
Sinais e sintomas
Como mencionado antes, a Hemorragia no TGI é um termo amplo para agrupar diversas condições. Dessa maneira, vamos falar dos principais sintomas de forma geral, destacando os mais comuns, que frequentemente existem em mais de uma patologia. Nos sangramentos crônicos, é possível observar um quadro clínico característico de anemia ferropriva (fraqueza, fadiga, desmaios, palidez, intolerância a exercícios físicos) secundária a perda contínua de sangue.
Nos casos de hemorragias altas, é comum o surgimento de Melena, ou seja, fezes com uma coloração escura resultado da digestão do sangue extravasado, visto que ele percorre todo o trato digestivo antes de ser eliminado. Já nas hemorragias baixas, quando sangramento ocorre mais próximo à saída retal, não percorre um grande comprimento, sendo digerido. Assim, pode ser visto nas fezes como um sangue vermelho vivo chamado de Hematoquezia.
Em casos mais graves de uma hemorragia em grande volume e aguda, é provável que haja uma queda do estado geral do paciente resultado de um choque hipovolêmico. Assim, temos o quadro de queda de pressão arterial, rebaixamento do nível de consciência - avaliado pela Escala de Coma de Glasgow, pulsos finos e fracos, hipotermia, sudorese e, caso não seja rapidamente manejado, pode levar ao óbito.
Ademais, além da melena, o sangramento digestivo superior também pode se manifestar de forma retrógrada com extravasamento pela boca, caracterizando um episódio emético sanguinolento chamado de Hematêmese. Por fim, é importante ressaltar que diversos outros sinais e sintomas podem estar presentes de acordo com a condição de base, visto que a hemorragia é sempre uma consequência de outra patologia subjacente.
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Como realizar o diagnóstico de hemorragia no TGI?
O diagnóstico da hemorragia no TGI é um processo complexo que envolve a identificação da causa subjacente e da localização do sangramento no trato digestivo. Inicialmente, é coletada uma história clínica detalhada e um exame físico para agrupar informações sobre os sintomas, histórico médico e familiar, e uso de medicamentos do paciente. O exame físico pode fornecer dados sobre a causa da hemorragia, ajudando a guiar os próximos passos do diagnóstico.
Um dos procedimentos mais comuns usados no diagnóstico da hemorragia digestiva é a endoscopia, na qual uma câmera tubular é inserida na boca (EDA) ou no ânus (Colonoscopia) para visualizar o interior do lúmen digestivo. A endoscopia permite a visualização de áreas afetadas, coletar amostras de tecido para biópsia e, em alguns casos, realizar tratamentos terapêuticos no local, como a ligadura de varizes ou a injeção de substâncias coagulantes.
Além da endoscopia, outros exames de imagem, como a radiografia com contraste de bário, tomografia computadorizada (TC) e ressonância magnética (RM), podem ser usados para localizar a fonte da hemorragia e avaliar a extensão do problema. A angiografia, que envolve a injeção de contraste nas artérias, é usada para identificar e, às vezes, tratar sangramentos vasculares, além de evidenciar neovascularização em casos de neoplasia.
A cintilografia de sangramento é outra técnica que utiliza substâncias radioativas para rastrear o local da hemorragia no trato digestivo. Exames laboratoriais, como análises de sangue para verificar níveis de hemoglobina e coagulação, e estudos de fezes para detectar sangue oculto, também desempenham um papel importante no diagnóstico.
DICA DE PROVA
Você se recorda da Política Brasileira de Rastreio de Neoplasias Colorretais? Nela, temos que o início deve ocorrer aos 50 anos e ser mantido até os 75 anos (na população sem fatores de risco importantes), sendo composto de Colonoscopia a cada 10 anos, Colonografia CT a cada 5 anos ou Retossigmoidoscopia a cada 5 anos. Não é mais indicado a pesquisa de sangue oculto nas fezes como forma de rastreio para o CCR.
Qual o tratamento para a hemorragia no TGI?
Em casos de hemorragia aguda, a prioridade é estabilizar o paciente e controlar o sangramento. Isso envolve a administração de fluidos para restaurar a pressão arterial e a transfusão de concentrados de hemácias para substituir a perda sanguínea. A depender da causa, a endoscopia terapêutica pode ser realizada para interromper o sangramento, como a ligadura de varizes ou a injeção de substâncias coagulantes diretamente na área afetada.
Por outro lado, no tratamento da hemorragia digestiva crônica a abordagem depende da causa subjacente. Identificar e tratar a causa raiz é a base terapêutica. Isso pode envolver cirurgia para remover pólipos, tratamento de doença inflamatória intestinal com medicamentos, remoção de fatores de gatilho de gastrite, tratamento de câncer colorretal por meio de cirurgia, quimioterapia ou radioterapia, dependendo do estágio da doença, entre diversos outros de cada patologia.
Conclusão
A hemorragia no TGI envolve sangramentos no sistema digestivo, podendo ser alta ou baixa, aguda ou crônica. Causas incluem úlceras, varizes e câncer. Os sintomas variam e incluem formas de sangramento e suas consequências. O diagnóstico exige exames como a endoscopia, e o tratamento varia com a causa e gravidade, muitas vezes envolvendo procedimentos para controlar o sangramento. Detecção precoce e intervenção são cruciais para o prognóstico.
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FONTES:
- Saiba como são prevenção, diagnóstico e tratamento do câncer colorretal — Ministério da Saúde
- Paterson-Brown, Simon. Tópicos Essenciais em Cirurgia Geral e de Emergência. Disponível em: Minha Biblioteca, (5th edição). Grupo GEN, 2016.