A gastrosquise é uma malformação congênita da parede abdominal anterior que requer atenção multidisciplinar desde o diagnóstico pré-natal até o tratamento pós-natal. A incidência global varia, mas tem aumentado nas últimas décadas, sendo mais comum em gestantes jovens e com fatores de risco específicos. Atualmente estima-se que a incidência seja de 1 em cada 2.500 nascidos vivos.
Este texto visa revisar aspectos fundamentais da gastrosquise, incluindo sua diferenciação da onfalocele, diagnóstico e manejo.
O que é a gastrosquise?
A gastrosquise é uma anomalia caracterizada por um defeito congênito na parede abdominal, geralmente à direita do cordão umbilical, pelo qual há herniação de conteúdo abdominal, como alças intestinais, sem um saco protetor. A exposição ao líquido amniótico pode levar à inflamação das alças intestinais (peritonite química), resultando em espessamento da parede intestinal e comprometimento funcional. A anomalia é mais comum de ocorrer em mães jovens e que fizeram uso de aspirina ou bebidas alcoólicas durante a gravidez, por exemplo.
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Qual é a diferença entre a onfalocele e a gastrosquise?
A onfalocele é outro tipo de defeito congênito da parede abdominal, mas com diferenças significativas em relação à gastrosquise:
- Localização: Enquanto a gastrosquise ocorre geralmente à direita do cordão umbilical, a onfalocele ocorre no centro do cordão, comprometendo-o;
- Saco protetor: Na onfalocele, as vísceras estão cobertas por uma membrana amniótica e peritônio, enquanto na gastrosquise estão expostas;
- Associações genéticas: A onfalocele está frequentemente associada a síndromes genéticas e outras anomalias congênitas, o que é menos comum na gastrosquise.
Essa diferenciação é essencial para o prognóstico e manejo, sendo a onfalocele geralmente mais complexa devido às condições associadas.
Diagnóstico
O diagnóstico geralmente é realizado durante o pré-natal por meio de ultrassonografia obstétrica, geralmente no segundo trimestre. Os seguintes achados ultrassonográficos são sugestivos:
- Defeito da parede abdominal à direita do cordão umbilical
- Alças intestinais livres flutuando no líquido amniótico
- Ausência de membrana protetora
Exames complementares podem incluir a dosagem de alfafetoproteína materna elevada, que sugere a presença de defeitos de parede abdominal.
Como fazer o manejo?
O manejo da gastrosquise requer planejamento cuidadoso e envolve:
Manejo pré-natal
- Monitoramento ultrassonográfico: Avaliar o crescimento fetal, o volume do líquido amniótico e o estado das alças intestinais.
- Planejamento do parto: Cesárea pode ser considerada em casos de alças intestinais dilatadas ou sinais de comprometimento fetal.
Cuidados pós-natais imediatos
- Proteção das vísceras expostas: Cobrir com material estéril e plástico para minimizar a perda de calor, líquidos e prevenir infecção.
- Suporte hemodinâmico: Garantir estabilidade com reposição volêmica e cuidados intensivos neonatais. A quantidade de líquidos costuma ser maior que a necessária para um neonato saudável normal.
- Antibióticos IV de amplo espectro: para prevenir infecções ou combater infecções. Costuma-se ser utilizado como opções a ampicilina ou a gentamicina.
Correção cirúrgica
- Fechamento primário: Quando possível, reposicionar as alças intestinais na cavidade abdominal e fechar o defeito.
- Uso de bolsa ou silo: Em casos de grande volume de vísceras expostas, utilizar um silo ou bolsa, cujo tamanho é progressivamente reduzido, para gradualmente posicionar as alças na cavidade abdominal antes do fechamento definitivo.
Manejo pós-operatório
- Suporte nutricional: Nutrição parenteral total até que o intestino recupere sua função.
- Prevenção de complicações: Monitorar para enterocolite necrosante, sepse e síndrome do intestino curto.
Conclusão
A gastrosquise é uma condição que requer uma abordagem integrada para garantir o melhor prognóstico. Diagnóstico precoce, manejo adequado no período pré e pós-natal e correção cirúrgica eficiente são fundamentais. Apesar dos desafios, avanços no manejo perioperatório e neonatal têm melhorado significativamente os desfechos desses pacientes.
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FONTES:
- Videira-Amaral JM (MD, PhD) – Coordenador e autor. Tratado de Clínica Pediátrica. 3ª edição. Lisboa: Círculo Médico, 2022
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