No artigo de hoje iremos falar um pouco mais sobre a endocardite infecciosa. No post anterior falamos sobre outros aspectos a fisiopatologia e o tratamento. Dá uma olhada nele para não perder nada e ficar por dentro de tudo que acontece nessa doença.
Quadro Clínico
As principais manifestações clínicas da endocardite infecciosa são a febre (90%), a presença de sopros cardíacos (85%), os calafrios e sudorese (75%). Em pacientes com endocardite subaguda, a febre raramente excede 39,4 °C, em contraste com a endocardite aguda, que pode variar entre 39,4°C e 40 °C. Entretanto, é fundamental recordar que a febre pode ser baixa em idosos, pacientes debilitados e com insuficiência renal.
Com a evolução da doença, a presença de vegetações pode provocar lesões valvares. Isso justifica o surgimento de novos sopros à ausculta cardíaca, em pacientes com valvas previamente normais. Desses indivíduos, 40% podem evoluir para uma Insuficiência Cardíaca Congestiva (ICC). Ademais, a infecção pode progredir para regiões perivalvares, cursando com abcessos e fístulas. Quando acometem a valva aórtica, os abcessos podem progredir pelo septo interventricular e cursar com graus variados de bloqueios atrioventriculares.
À medida em que a vegetação aumenta de tamanho, podem desprender-se “pedaços” e provocar embolizações, como com a oclusão das artérias coronárias -provocando infarto agudo do miocárdio - e AVCs embólicos. Além disso, podem levar a outras complicações, como abcessos cerebrais, osteomielite vertebral, meningite asséptica e hemorragias intracranianas causadas por infartos hemorrágicos.
As manifestações clássicas da endocardite infecciosa - lesões de Janeway, nódulos de Osler e manchas de Roth - são consequências de uma infecção prolongada. Com o tratamento precoce, essas lesões tornaram-se menos frequentes. Entretanto, são lesões mais específicas da doença e, se estão presentes, levantam uma suspeita maior para a endocardite infecciosa.
Devido às lesões pela endocardite infecciosa em usuários de drogas injetáveis normalmente serem limitadas à valva tricúspide, a clínica será um pouco diferenciada. Assim, como a lesão está localizada nas câmaras direitas do coração, os êmbolos que se desprendem da vegetação adentram o tronco pulmonar e podem provocar tosse, dor pleurítica e infiltrados pulmonares.
Diagnóstico
O diagnóstico definitivo da endocardite infecciosa apenas pode ser dado com o exame histopatológico das vegetações. Entretanto, para facilitar o diagnóstico, foram criados os critérios de Duke. Sendo eles um conjunto de critérios clínicos, laboratoriais e ecocardiográficos que são comumente encontrados em pacientes com endocardite infecciosa.
Os critérios de Duke estão expostos na tabela abaixo. Ao utilizá-lo para fechar o diagnóstico, é preciso que o paciente tenha pelo menos 2 critérios maiores. Ou ainda, 1 critério maior e 3 menores ou 5 critérios menores.
A hemocultura positiva ao longo do tempo é condizente com o padrão de bacteremia prolongada e de baixa densidade da endocardite infecciosa. É por isso que devem ser realizadas três coletas, cada uma com dois frascos, com intervalo mínimo de duas horas entre elas. Essa punção deve ser feita em diferentes locais, ao longo de 24 horas. É importante lembrar que a antibioticoterapia empírica não deve ser empregada se o paciente estiver hemodinamicamente estável, para não alterar os resultados da hemocultura. A ecocardiografia transtorácica é um excelente exame para confirmar a presença de vegetações e avaliar a função das valvas cardíacas. Entretanto, não é capaz de visualizar lesões menores de 2mm, e não é adequada para avaliar valvas protéticas. Nesses casos, utiliza-se a ecocardiografia transesofágica, que detecta a presença de vegetações em mais de 90% dos pacientes.
A ecocardiografia transesofágica ideal para avaliar a endocardite de valva protética, a endocardite envolvendo dispositivos eletrônicos implantáveis cardiovasculares e presença de abcessos miocárdios. Por fim, também é mais sensível que a ecocardiografia transtorácica para avaliar perfurações valvares e fístulas
FONTE:
- FAUCI, Jameson. et al. Medicina Interna de Harrison. Porto Alegre: AMGH, 2020