A doença celíaca, também chamada de enteropatia induzida pelo glúten, é uma doença autoimune caracterizada por intolerância ao glúten. É uma condição com elevada incidência e prevalência na população em geral de cerca de 0,5% a 1%, com o diagnóstico aumentando nos últimos anos.
Neste post iremos abordar a doença celíaca, como diagnosticar e tratar!
O que é doença celíaca?
A doença celíaca é uma doença autoimune crônica, caracterizada por intolerância ao glúten na dieta, uma proteína encontrada no trigo, aveia, cevada, centeio e seus derivados, como massas, pizzas, bolos, pães, biscoitos, cerveja e alguns doces. Essa intolerância gera uma resposta inflamatória e danos ao intestino delgado. A suscetibilidade é determinada geneticamente.
Pessoas com doenças autoimunes, como diabetes tipo 1, e parentes de primeiro grau de pacientes com doença celíaca têm maior risco de desenvolvê-la. Além disso, observa-se que é mais comum em brancos caucasianos e em portadores de síndrome de Down, Turner e Williams.
Fisiopatologia
O glúten, uma proteína presente no trigo e, em menor quantidade, na cevada e no centeio, estimula a produção de certos anticorpos pelo sistema imunológico, devido a um peptídeo derivado do glúten chamado gliadina. Esse peptídeo causa danos ao intestino delgado, causando inflamação local levando à destruição das vilosidades do intestino delgado. Essa destruição, por sua vez, leva à diminuição da funcionalidade da superfície intestinal e à má absorção de nutrientes.
O problema envolve apenas a mucosa do intestino delgado. As vilosidades podem estar ausentes ou atróficas e a hiperplasia das criptas está presente. Uma proliferação aumentada de linfócitos e células plasmáticas é observada na lâmina própria.
Quais as causas da doença celíaca?
A doença celíaca é de causa genética, tendo relação com os genes HLA-DQ2 e HLA-DQ8, presente em 40% da população e em 100% dos pacientes celíacos.
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Sintomas da doença celíaca
Os sintomas mais comuns são diarreia e letargia. Outros sintomas gastrointestinais são distensão abdominal, desconforto ou dor, vômitos, prisão de ventre e esteatorreia. Na infância, o atraso no crescimento é um aspecto importante da história, enquanto na idade adulta o sintoma correspondente seria a perda de peso inexplicável.
Os sintomas extra-intestinais incluem dermatite herpetiforme, úlceras aftosas recorrentes na boca, anemia por deficiência de ferro, B12 ou folato refratária, ataxia, parestesia, fraqueza muscular, cefaleia, osteoporose, coagulopatia por deficiência de vitamina K, depressão e menarca retardada.
Formas clínicas
Clinicamente, a doença celíaca pode ser dividida em 3 tipos: clássica, atípica e silenciosa. A forma clássica é caracterizada por diarreia crônica, distensão abdominal, perda de peso e o chamado “bumbum celíaco” (atrofia dos músculos do glúteo). A forma atípica é caracterizada por manifestações intestinais menos importantes e maior relevância da dermatite herpetiforme. Por fim, a forma silenciosa é assintomática, onde o diagnóstico veio das alterações sorológicas e/ou histopatológicas de grupos de risco.
Diagnóstico
A investigação diagnóstica geralmente começa com testes sorológicos. Os anticorpos medidos são o anticorpo anti transglutaminase tecidual IgA, o anticorpo anti-endomísio e o anticorpo anti-gliadina. O principal é a anti transglutaminase tecidual IgA, que tem sensibilidade e especificidade em torno de 95%.
Junto a esse anticorpo, deve ser solicitado dosagem de IgA, já que 3% dos pacientes podem ter deficiência de IgA, causando diminuição também do anticorpo. A anti gliadina e o anti-endomísio são menos usados e menos específicos, porém são indicados nos pacientes com deficiência de IgA, já que o uso da anti transglutaminase tecidual IgA torna-se impossibilitado.
O padrão-ouro para o diagnóstico é a biópsia da mucosa duodenal por endoscopia digestiva alta. Ela tem sensibilidade de 40% a 60% e especificidade de 80% a 100%. Nos pacientes com doença celíaca, é vista atrofia das vilosidades e hiperplasia de criptas. É importante que esses testes sejam realizados enquanto o paciente segue uma dieta regular contendo glúten, já que as alterações se tornam indetectáveis de 3 a 12 meses sem glúten.
Outro teste útil é o antígeno leucocitário humano (HLA). Pode ser feito em caso de dúvida diagnóstica, por exemplo com teste sorológico positivo e EDA negativa. Outra opção é fazer uma dieta rica em glúten e reavaliar EDA para ver se surgiram alterações típicas.
Outras alterações laboratoriais não específicas incluem: eletrólitos, que podem revelar hipocalcemia, hipocalemia e acidose metabólica, anemia por deficiência de folato, ferro ou vitamina B12 e tempo de protrombina pode ser prolongado.
Classificação histológica
Histologicamente, segundo MARSH, os achados da doença celíaca podem ser divididos em 5 estágios:
- Estágio 0 🡪 Padrão pré-infiltrativo. Fragmentos sem alterações.
- Estágio 1 🡪 Padrão infiltrativo. Mucosa normal, com aumento de infiltrado linfocitário intraepitelial.
- Estágio 2 🡪 Lesão hiperplásica. Alargamento de criptas e com aumento de infiltrado linfocitário intraepitelial.
- Estágio 3 🡪 Padrão destrutivo. Atrofia vilositária, alargamento de criptas e com aumento de infiltrado linfocitário intraepitelial.
- Estágio 4 🡪 Padrão hipoplásico. Atrofia total e hipoplasia de cripta.
Tratamento para a doença celíaca
O único tratamento efetivo até o momento para todas as pessoas com o diagnóstico é uma dieta rigorosa sem glúten. Essa adesão é melhor realizada sob a supervisão de especialistas, incluindo um nutricionista e psicólogo, já que isso tem um impacto significativo na vida das pessoas afetadas e pode ser difícil de manter.
Em geral, os sintomas melhoram com a dieta sem glúten dentro de dias a semanas. Além disso, é importante se preocupar com a contaminação cruzada, com cuidado por exemplo com o uso exclusivo de panelas.
Outras abordagens, como imunizações ou ingestão de substâncias que alterariam a toxicidade do glúten também estão sendo exploradas. No entanto, nenhum atingiu o estágio de recomendação ou aprovação para tal terapia.
Conclusão
A doença celíaca é uma doença autoimune caracterizada por intolerância ao glúten, que gera danos ao intestino delgado e má absorção. Clinicamente, pode ser variável, mas costuma ser acompanhada de diarreia, dor abdominal, anemia e outros sinais de má absorção. O diagnóstico é feito por meio de testes sorológicos e EDA e o tratamento é dieta sem glúten.
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FONTES:
- POSNER, Ewa; HASEEB, Muhammad. Celiac Disease - StatPearls - NCBI Bookshelf
- LIU, Shinfay; et. al. RMMG - Revista Médica de Minas Gerais - Doença celíaca