A disfagia é uma condição caracterizada pela dificuldade de deglutição, que pode afetar a ingestão de alimentos sólidos e líquidos, comprometendo a nutrição e a hidratação dos pacientes. Pode ter diversas causas e manifestar-se em diferentes graus de gravidade. O diagnóstico dessa condição é frequentemente adiado devido à sua instalação insidiosa. Vamos revisar os principais aspectos clínicos e manejo desse distúrbio!
O que é a disfagia?
A disfagia é uma disfunção da deglutição, seja ela na fase oral, faríngea ou esofágica, resultando em dificuldade real ou referida na formação ou movimentação do bolo alimentar da cavidade oral até o estômago. Essa dificuldade pode levar a sérias complicações, como pneumonia por aspiração, desnutrição, desidratação, perda de peso e obstrução das vias aéreas. A deglutição é um processo em sequência que envolve três fases principais:
- Fase Oral: Inclui a fase preparatória oral, onde o alimento é mastigado e misturado com saliva para formar um bolo alimentar, e a fase de trânsito oral, onde o bolo é movido da boca para a faringe.
- Fase Faríngea: quando o bolo alimentar passa pela faringe.
- Fase Esofágica: quando o bolo alimentar é transportado do esôfago para o estômago.

A disfagia pode ser decorrente de defeitos em qualquer uma dessas fases de deglutição. É importante distinguir a disfagia de outros distúrbios que impedem a transferência de alimentos para a boca ou além do estômago, mas que não são caracterizados por dificuldade em engolir. Por exemplo, um distúrbio de alimentação, que é a incapacidade de levar comida à boca, problemas de dentição ou uma obstrução da saída gástrica.
Tipos de disfagia
A classificação etiológica da disfagia pode incluir uma distinção entre:
- Funcional: Implicando um comprometimento na fisiologia da deglutição.
- Estrutural: Implicando um comprometimento no caminho físico da deglutição.
- Progressiva: tende a agravar o grau de acometimento ao longo do tempo.
- Não progressiva: permanecem estáveis ao longo do tempo.
Causas da disfagia
Disfagia Funcional
A disfagia funcional está relacionada a problemas na fisiologia da deglutição. As etiologias incluem:
Disfagia Estrutural
A disfagia estrutural está relacionada a alterações físicas ou anatômicas no caminho da deglutição. As etiologias incluem:
Progressivas vs. Não Progressivas
Além de serem funcionais ou estruturais, as condições que causam disfagia podem ser classificadas como progressivas ou não progressivas:
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Quais os sinais e sintomas da disfagia?
Os sinais e sintomas da disfagia incluem tosse ou engasgos ao engolir, frequentemente ocorrendo durante os momentos de alimentação. Pode haver dificuldade para iniciar a deglutição, percebida como um atraso ou ausência na iniciação do processo. Os pacientes podem sentir que o alimento fica preso na parte posterior da garganta, um sintoma conhecido como globus faríngeo. A sialorreia também é comum, visto a dificuldade do clearance oral de saliva.
Além disso, a disfagia pode levar à perda de peso sem causa aparente, devido à redução de ingesta e a mudanças no hábito alimentar, como redução do consumo de certos alimentos ou texturas. Pneumonia recorrente pode ocorrer devido à aspiração de alimentos ou líquidos pela via aérea, uma vez que ambas compartilham o espaço anatômico da faringe para sua posterior bifurcação entre laringe e esôfago.
Alterações na voz ou fala, como uma voz rouca ou gorgolejante após engolir, e regurgitação nasal são outros sintomas nos casos de acometimento oral e faríngeo. Já a disfagia esofágica apresenta sintomas diferentes, incluindo a sensação de alimento preso no peito ou garganta, descrito como uma sensação de bloqueio. Pode ocorrer ainda sintomas de doença do refluxo gastroesofágico (DRGE), incluindo azia, arroto, regurgitação ácida e salivação excessiva.
Diagnóstico
O exame físico para avaliar disfagia deve incluir um exame do pescoço, boca, orofaringe e laringe, além de um exame neurológico que avalie os nervos cranianos V, VII e XII. A observação da mecânica oral e laríngea é necessária e deve incluir o fechamento dos lábios, fechamento da mandíbula, mastigação, mobilidade e força da língua, elevação do palato, salivação, sensibilidade oral e observação direta do ato de deglutição.
A Functional Oral Intake Scale (FOIS) pode ser usada para avaliar o volume de ingestão oral, variando de 1 (nada por via oral) a 7 (dieta oral sem restrições). Veja abaixo a os níveis:
Se o diagnóstico não for esclarecido após a história e exame físico, ou se for necessário caracterizar a disfunção da deglutição para o planejamento do tratamento, testes complementares são realizados. Dois métodos preferidos para avaliar a anatomia e fisiologia da deglutição são o Estudo de Deglutição por Videofluoroscopia (VFSS), também conhecido como estudo de deglutição com bário modificado, e o Estudo de Deglutição por Endoscopia de Fibra Óptica (FEES).

Como tratar a disfagia?
O tratamento da disfagia visa manter a ingestão nutricional adequada e maximizar a proteção das vias aéreas. Inicialmente, é feito o diagnóstico e tratamento das condições subjacentes que possam estar causando a disfagia, como as mencionadas anteriormente. Em paralelo, práticas compensatórias para deglutição segura são implementadas, como manter a boca úmida para formar o bolo alimentar e garantir a dentição íntegra.
No manejo farmacológico, várias medicações são utilizadas. A toxina botulínica tipo A (BoNT-A) pode ser injetada endoscopicamente no esfíncter gastroesofágico e esôfago superior para reduzir o tônus muscular, sendo útil em espasmos musculares esofágicos. Além disso, o Diltiazem auxilia nas contrações esofágicas e motilidade.
Tratamentos de estimulação elétrica também podem ser utilizados, incluindo estimulação elétrica neuromuscular, estimulação elétrica sensória transcutânea e estimulação magnética transcraniana repetitiva. Em casos de disfagia grave refratária ao tratamento conservador, alternativas cirúrgicas podem ser consideradas para melhorar a deglutição ou reduzir o risco de aspiração.
Conclusão
Em resumo, a disfagia é um problema frequentemente subdiagnosticado que pode impactar de maneira importante a qualidade de vida dos pacientes. Sem tratamento adequado, pode levar a complicações, como desnutrição, desidratação e pneumonia. Reconhecer e tratar precocemente a disfagia é necessário para prevenir essas consequências e melhorar o bem-estar geral dos pacientes.
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Fontes:
- Oropharyngeal Dysphagia - DynaMed. EBSCO Information Services. 2024.
- Paik, N., MD PhD. (n.d.). Dysphagia clinical presentation: history, physical examination.