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26/7/24

Disfagia: tipos, causas, sintomas e tratamento

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Disfagia: tipos, causas, sintomas e tratamento

A disfagia é uma condição caracterizada pela dificuldade de deglutição, que pode afetar a ingestão de alimentos sólidos e líquidos, comprometendo a nutrição e a hidratação dos pacientes. Pode ter diversas causas e manifestar-se em diferentes graus de gravidade. O diagnóstico dessa condição é frequentemente adiado devido à sua instalação insidiosa. Vamos revisar os principais aspectos clínicos e manejo desse distúrbio!

O que é a disfagia?

A disfagia é uma disfunção da deglutição, seja ela na fase oral, faríngea ou esofágica, resultando em dificuldade real ou referida na formação ou movimentação do bolo alimentar da cavidade oral até o estômago. Essa dificuldade pode levar a sérias complicações, como pneumonia por aspiração, desnutrição, desidratação, perda de peso e obstrução das vias aéreas. A deglutição é um processo em sequência que envolve três fases principais:

  • Fase Oral: Inclui a fase preparatória oral, onde o alimento é mastigado e misturado com saliva para formar um bolo alimentar, e a fase de trânsito oral, onde o bolo é movido da boca para a faringe.
  • Fase Faríngea: quando o bolo alimentar passa pela faringe.
  • Fase Esofágica: quando o bolo alimentar é transportado do esôfago para o estômago.
Fases da deglutição. Fonte: Figure 1 from Dysphagia in the elderly. | Semantic Scholar
Fases da deglutição. Fonte: Figure 1 from Dysphagia in the elderly. | Semantic Scholar

A disfagia pode ser decorrente de defeitos em qualquer uma dessas fases de deglutição. É importante distinguir a disfagia de outros distúrbios que impedem a transferência de alimentos para a boca ou além do estômago, mas que não são caracterizados por dificuldade em engolir. Por exemplo, um distúrbio de alimentação, que é a incapacidade de levar comida à boca, problemas de dentição ou uma obstrução da saída gástrica.

Tipos de disfagia

A classificação etiológica da disfagia pode incluir uma distinção entre:

  • Funcional: Implicando um comprometimento na fisiologia da deglutição.
  • Estrutural: Implicando um comprometimento no caminho físico da deglutição.
  • Progressiva: tende a agravar o grau de acometimento ao longo do tempo.
  • Não progressiva: permanecem estáveis ao longo do tempo.

Causas da disfagia

Disfagia Funcional

A disfagia funcional está relacionada a problemas na fisiologia da deglutição. As etiologias incluem:

NEUROLÓGICAS MUSCULARES
Acidente Vascular Cerebral
Doença de Parkinson
Esclerose Lateral Amiotrófica
Esclerose Múltipla
Paralisia Cerebral
Miastenia Gravis
Distrofias Musculares
Causas de disfagia funcional. Fonte: EMR/Fernanda Vasconcelos

Disfagia Estrutural

A disfagia estrutural está relacionada a alterações físicas ou anatômicas no caminho da deglutição. As etiologias incluem:

MECÂNICAS INFLAMATÓRIAS
Tumores
Estenose
Divertículo de Zenker
Esofagite
Infecções
Causas de disfagia estrutural. Fonte: EMR/Fernanda Vasconcelos

Progressivas vs. Não Progressivas

Além de serem funcionais ou estruturais, as condições que causam disfagia podem ser classificadas como progressivas ou não progressivas:

PROGRESSIVAS NÃO PROGRESSIVAS
Parkinson
Esclerose Lateral Amiotrófica
Distrofias musculares
AVC
Lesões traumáticas
Malformações congênitas
Diferenciação entre causas de disfagia progressiva e não-progressiva. Fonte: EMR/Fernanda Vasconcelos

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Quais os sinais e sintomas da disfagia?

Os sinais e sintomas da disfagia incluem tosse ou engasgos ao engolir, frequentemente ocorrendo durante os momentos de alimentação. Pode haver dificuldade para iniciar a deglutição, percebida como um atraso ou ausência na iniciação do processo. Os pacientes podem sentir que o alimento fica preso na parte posterior da garganta, um sintoma conhecido como globus faríngeo. A sialorreia também é comum, visto a dificuldade do clearance oral de saliva. 

Além disso, a disfagia pode levar à perda de peso sem causa aparente, devido à redução de ingesta  e a mudanças no hábito alimentar, como redução do consumo de certos alimentos ou texturas. Pneumonia recorrente pode ocorrer devido à aspiração de alimentos ou líquidos pela via aérea, uma vez que ambas compartilham o espaço anatômico da faringe para sua posterior bifurcação entre laringe e esôfago. 

Alterações na voz ou fala, como uma voz rouca ou gorgolejante após engolir, e regurgitação nasal são outros sintomas nos casos de acometimento oral e faríngeo. Já a disfagia esofágica apresenta sintomas diferentes, incluindo a sensação de alimento preso no peito ou garganta, descrito como uma sensação de bloqueio. Pode ocorrer ainda sintomas de doença do refluxo gastroesofágico (DRGE), incluindo azia, arroto, regurgitação ácida e salivação excessiva.

Diagnóstico

O exame físico para avaliar disfagia deve incluir um exame do pescoço, boca, orofaringe e laringe, além de um exame neurológico que avalie os nervos cranianos V, VII e XII. A observação da mecânica oral e laríngea é necessária e deve incluir o fechamento dos lábios, fechamento da mandíbula, mastigação, mobilidade e força da língua, elevação do palato, salivação, sensibilidade oral e observação direta do ato de deglutição.

A Functional Oral Intake Scale (FOIS) pode ser usada para avaliar o volume de ingestão oral, variando de 1 (nada por via oral) a 7 (dieta oral sem restrições). Veja abaixo a os níveis:

FUNCTIONAL ORAL INTAKE SCALE
Nível 1 Nada por via oral
Nível 2 Alimentação via tubo com ingestão de saliva
Nível 3 Alimentos líquidos espessados
Nível 4 Alimentos pastosos
Nível 5 Alimentos moles cortados pequenos
Nível 6 Alimentos moles cortados pequenos
Nível 7 Alimentos e líquidos normais
Functional Oral Intake Scale (FOIS). Fonte: EMR/Fernanda Vasconcelos

Se o diagnóstico não for esclarecido após a história e exame físico, ou se for necessário caracterizar a disfunção da deglutição para o planejamento do tratamento, testes complementares são realizados. Dois métodos preferidos para avaliar a anatomia e fisiologia da deglutição são o Estudo de Deglutição por Videofluoroscopia (VFSS), também conhecido como estudo de deglutição com bário modificado, e o Estudo de Deglutição por Endoscopia de Fibra Óptica (FEES).

Videofluoroscopia de deglutição.  Fonte: Videofluoroscopia: Uma Análise Profunda
Videofluoroscopia de deglutição.  Fonte: Videofluoroscopia: Uma Análise Profunda

Como tratar a disfagia?

O tratamento da disfagia visa manter a ingestão nutricional adequada e maximizar a proteção das vias aéreas. Inicialmente, é feito o diagnóstico e tratamento das condições subjacentes que possam estar causando a disfagia, como as mencionadas anteriormente. Em paralelo, práticas compensatórias para deglutição segura são implementadas, como manter a boca úmida para formar o bolo alimentar e garantir a dentição íntegra. 

No manejo farmacológico, várias medicações são utilizadas. A toxina botulínica tipo A (BoNT-A) pode ser injetada endoscopicamente no esfíncter gastroesofágico e esôfago superior para reduzir o tônus muscular, sendo útil em espasmos musculares esofágicos. Além disso, o Diltiazem auxilia nas contrações esofágicas e motilidade.

Tratamentos de estimulação elétrica também podem ser utilizados, incluindo estimulação elétrica neuromuscular, estimulação elétrica sensória transcutânea e estimulação magnética transcraniana repetitiva. Em casos de disfagia grave refratária ao tratamento conservador, alternativas cirúrgicas podem ser consideradas para melhorar a deglutição ou reduzir o risco de aspiração. 

Conclusão

Em resumo, a disfagia é um problema frequentemente subdiagnosticado que pode impactar de maneira importante a qualidade de vida dos pacientes. Sem tratamento adequado, pode levar a complicações, como desnutrição, desidratação e pneumonia. Reconhecer e tratar precocemente a disfagia é necessário para prevenir essas consequências e melhorar o bem-estar geral dos pacientes. 

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