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Publicado em
23/9/23

Diabetes mellitus: fisiopatologia, diagnóstico, tratamento e mais

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Diabetes mellitus: fisiopatologia, diagnóstico, tratamento e mais

A diabetes mellitus (DM) é uma doença metabólica que envolve altos níveis glicêmicos, causando diversas complicações se não controlada. Estima-se que, globalmente, 1 a cada 11 adultos tenham DM. É uma doença que tem sua prevalência aumentada com a idade, principalmente o tipo 2. 

Neste post iremos abordar o que é a diabetes mellitus, seu diagnóstico e abordagem!

O que é diabetes mellitus?

A diabetes mellitus é uma doença metabólica que os níveis de glicose do sangue estão inapropriadamente elevados. Existem alguns tipos de DM, sendo o tipo 1 e tipo 2 os principais. A DM tipo 1 (DM1) é aquela de origem autoimune, na qual há secreção deficiente de insulina. A DM tipo 2 (DM2) ocorre devido à ação deficiente da insulina, como consequência de estilo de vida e obesidade, além de genética mais predisponente

DM1 DM2
Causa Imunomediado ou idiopático Multifatorial
Anticorpos Positivo Negativo
Paciente Jovem e magro >40 anos e obeso
Sintomas Clássicos Insidioso
Diferenças entre DM1 e DM2. Fonte: EMR

Epidemiologia da diabetes mellitus

A diabetes mellitus tipo 1 é mais comum em crianças e adolescentes, enquanto a DM tipo 2 afeta adultos de meia-idade e idosos, secundária ao estilo de vida. Estima-se que, 1 a cada 11 adultos têm a doença, sendo desses 90% relacionados ao tipo 2. 

A DM1 tem seu pico nas idades de 4 a 6 anos e de 10 aos 14 anos, sendo sua prevalência de 0,23% das pessoas com menos de 20 anos.  Já a diabetes mellitus tipo 2 ocorre na população mais velha, apesar de poder ocorrer em jovens principalmente devido à obesidade. Na população acima dos 65 anos, a DM2 tem prevalência de 25%.

Fisiopatologia da diabetes mellitus

O pâncreas endócrino é formado pelas ilhotas de Langerhans, que são agregados esféricos de células endócrinas. Nessas ilhotas, existem dois tipos principais de células endócrinas: células beta produtoras de insulina e células alfa secretoras de glucagon. As células beta e alfa estão continuamente mudando seus níveis de secreção hormonal de acordo com o nível de glicose no sangue, com o objetivo de manter o equilíbrio. 

Sem o equilíbrio entre insulina e glucagon, os níveis de glicose tornam-se inadequados, podendo gerar repercussões. No caso do problema, a insulina está ausente e/ou tem ação prejudicada, levando assim à hiperglicemia crônica.

O tipo 1 é caracterizado pela destruição das células beta do pâncreas, tipicamente secundária a um processo autoimune. O resultado é a insulina ausente ou extremamente baixa. O tipo 2 envolve um início mais insidioso, onde um desequilíbrio entre os níveis de insulina e a sensibilidade à insulina causa um déficit funcional de insulina

A resistência à insulina é multifatorial, mas geralmente se desenvolve a partir da obesidade e do envelhecimento. O background genético para ambos os tipos é crítico como fator de risco.

Manifestações clínicas

Durante a história do paciente, perguntas sobre história familiar, doenças autoimunes e resistência à insulina são fundamentais para fazer o diagnóstico. Frequentemente se apresenta de forma assintomática, mas quando os sintomas se desenvolvem, os pacientes geralmente apresentam poliúria, polidipsia e perda de peso, principalmente na DM1. 

No exame físico de alguém com hiperglicemia, a pele pode ter pouco turgor devido à desidratação e o hálito pode ter odor frutado característico. Os pacientes com DM2 geralmente apresentam sobrepeso/obesidade e apresentam sinais de resistência à insulina, incluindo acantose nigricans - que são manchas aveludadas e hiperpigmentadas na pele do pescoço, axilas ou pregas inguinais. 

Pacientes com um curso mais longo de hiperglicemia podem ter visão embaçada, infecções fúngicas frequentes, dormência ou dor neuropática

Acantose nigricans. Fonte: Medium link: https://medium.com/@rafaelmoraes_1266/abordagens-terap%C3%AAuticas-para-acantose-nigricans-e95d1d08b203
Acantose nigricans. Fonte: Medium

Diagnóstico

A American Diabetes Association (ADA) recomenda a triagem de diabetes mellitus tipo 2 em adultos com 45 anos ou mais, independentemente do risco. O tipo 1 deve ser suspeitado naqueles com história clínica típica. De acordo com a ADA, um diagnóstico de diabetes é feito através de de duas alterações,  do mesmo teste ou de testes diferentes, de qualquer um dos seguintes

  • Um nível de HbA1c de 6,5% ou superior;
  • Um nível de glicose plasmática em jejum de 126 mg/dL ou superior; 
  • Um nível de glicose plasmática de 2 horas de 200 mg/dL ou superior durante um TOTG de 75 g; 

Para diagnóstico, apenas uma glicose plasmática aleatória de 200 mg/dL ou superior em um paciente com sintomas de hiperglicemia (poliúria, polidipsia, polifagia, perda de peso) ou crise hiperglicêmica também é o suficiente.

A DM1 pode ter anticorpos positivos, que muitas vezes precedem a hiperglicemia. Incluem o anti-ilhota, positivo em até 80%, anti-GAD, anti-insulina, anti-tirosina quinase e anti transportador de zinco 8.

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Como é realizado o tratamento?

O tratamento da diabetes é complexo e envolve uma série de mudanças. A educação e o envolvimento do paciente são essenciais, por meio do controle da dieta (restrição de carboidratos e calórica), prática de exercícios físicos regularmente (mais de 150 minutos semanais) e monitorização da glicose. Idealmente, os níveis de glicose devem ser mantidos em 90 a 130 mg/dL e HbA1c em menos de 7%

O tratamento medicamentoso da DM2 é feito por meio dos antidiabéticos, que incluem as classes das biguanidas, glitazonas, sulfoniuréia, gliptinas e glifozinas. A Metformina, uma biguanida, é a primeira linha de tratamento. É uma droga barata e de boa eficácia, sendo usada nas doses de 500 a 2250 mg/dia. 

A principal glitazona utilizada é a pioglitazona e as sulfonilureias são a glibenclamida, glimepirida e gliclazida. As glitazonas, ou inibidores de GLT2, são medicações mais recentes e bastante eficazes, sendo usadas também no tratamento da obesidade, como a dapagliflozina. Os antagonistas da GLP-1 também tratam obesidade, como a semaglutida. 

Na DM1 ou em casos de DM2 em terapia dupla (duas medicações de classes diferentes) sem resposta, é indicado o uso de insulina no tratamento. As insulinas mais utilizadas no SUS são a NPH (ação lenta) e a regular (ação rápida), por serem de menor custo, sendo as doses baseadas no mapa glicêmico. Recomenda-se iniciar com 0,5 UI/kg/dia na DM1 e 0,2UI/kg/dia na DM2, aumentando conforme necessidade. Para além dessas, outras opções de insulina incluem análogos de insulina de ação prolongada (glargina, detemir), ultraprolongada (degludeca e glargina U300), de ação rápida (asparte, lispro e glulisina) e ultrarrápida (fast asparte). 

Complicações crônicas da diabetes mellitus

A hiperglicemia crônica leva a danos na microvasculatura, causando complicações crônicas como retinopatia diabética, nefropatia e neuropatia. São complicações prevalentes e, para diagnóstico precoce, exames regulares devem ser realizados, como o exame da retina diabética pelo oftalmologista para avaliar a retinopatia diabética. 

Exame neurológico com teste de monofilamento para identificar pacientes com neuropatia em risco de amputação e o teste de microalbumina na urina que também pode avaliar alterações renais precoces.

Neuropatia diabética e pé diabético

A diabetes gera uma polineuropatia simétrica generalizada, causada pela microangiopatia. O rastreio deve ser feito anualmente pelo teste de microfilamento e exame físico. Essa polineuropatia pode gerar um quadro de dor crônica e para tratamento podem ser usados antidepressivos tricíclicos de baixa dosagem, duloxetina, anticonvulsivantes, capsaicina tópica e analgésicos.

Já o pé diabético é uma infecção, ulceração ou destruição de tecidos moles associada a alterações neurológicas nos MMII. Sendo responsável por 85% das amputações não traumáticas. O tratamento é feito com antibioticoterapia, sendo a amputação feita em último caso.

Pé diabético. Fonte: Dr. Rodrigo Macedo link: https://drrodrigomacedo.com.br/2021/11/03/orteses-e-calcados-no-pe-diabetico/ 
Pé diabético. Fonte: Dr. Rodrigo Macedo

Nefropatia diabética

A nefropatia diabética é a principal causa de doença renal crônica em países desenvolvidos. Tem como sinal mais precoce a microalbuminúria. Por isso, o teste de microalbumina na urina também deve ser feito anualmente para avaliar alterações renais precoces de diabetes como albuminúria superior a 30 mg/g de creatinina. 

O aumento da pressão intraglomerular e da permeabilidade glomerular causado pela diabetes gera um espessamento da membrana basal glomerular e uma expansão mesangial, causando microalbuminúria. O rastreio é anual por meio da taxa de filtração glomerular, proteinúria de 24h, relação albumina/creatinina na urina e pela pesquisa de microalbuminúria em amostra isolada.

Retinopatia diabética

A retinopatia diabética é a maior causa de cegueira adquirida no adulto no mundo. A microangiopatia gera microaneurismas e edema vascular, com formação de exsudatos e, posteriormente, hemorragias de retina. Recomenda-se o rastreio anual em pacientes diabéticos por meio da fundoscopia.

Conclusão

A diabetes mellitus é uma doença metabólica de grande relevância e prevalência, podendo ser de origem autoimune (DM1) ou associada a estilo de vida (DM2). Se caracteriza por níveis de glicemia aumentados de forma crônica, necessitando o uso de antidiabéticos para evitar complicações geradas pela microangiopatia. 

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