Estudo
Publicado em
12/3/24

Dermatomiosite: o que é, sintomas e tratamento

Escrito por:
Dermatomiosite: o que é, sintomas e tratamento

A Dermatomiosite é uma doença que faz parte do grupo das Miopatias Inflamatórias Idiopáticas (MII), e como o nome sugere, tem suas principais consequências na pele e nos músculos. Apesar disso, por ser uma condição imunomediada, ainda pode gerar consequências em diversos outros órgãos. Vamos adentrar essa patologia que abrange o ramo da Clínica Médica, Dermatologia e Reumatologia.

O que é Dermatomiosite?

A dermatomiosite é uma doença autoimune adquirida rara caracterizada por fraqueza muscular simétrica e envolvimento cutâneo distintivo. A dermatomiosite pode afetar outros sistemas, como o respiratório, cardiovascular e gastrointestinal, e uma proporção significativa de pacientes apresenta malignidade subjacente, o que pode influenciar o prognóstico. Veja abaixo algumas variantes clínicas  dessa condição:

SUBTIPOS DE DERMATOMIOSITE
Dermatomiosite clássica forma tradicional da doença e é caracterizada pela presença de fraqueza muscular simétrica, principalmente nos músculos proximais, juntamente com manifestações de pele.
Dermatomiosite associada a neoplasias envolve uma conexão significativa com a presença de tumores malignos. Os tipos mais frequentes de câncer associados incluem os de mama, ovário, pulmão, próstata, entre outros.
Dermatomiosite amiopática apresentação atípica em que os pacientes têm os achados cutâneos clássicos da dermatomiosite, mas não apresentam evidências de acometimento muscular.
Dermatomiosite hipomiopática variação em que os pacientes não relatam sintomas de fraqueza muscular, mas exames laboratoriais, eletromiografia ou biópsia muscular revelam evidências de inflamação nos músculos.
Dermatomiosite juvenil manifestação em pacientes com menos de 18 anos de idade. Além da fraqueza muscular e erupções cutâneas características, essa variante pode apresentar complicações específicas da infância, como calcinose cutânea, vasculite cutânea, úlceras e vasculopatia gastrointestinal
Subtipos clínicos de Dermatomiosite. Fonte: EMR/Fernanda Vasconcelos.

Epidemiologia

A dermatomiosite é uma condição rara, que mais comumente afeta indivíduos entre 40 e 50 anos, principalmente do sexo feminino. Ela está associada a fatores genéticos, como polimorfismo de alelos do  fator de necrose tumoral. Também está ligada a infecções, medicamentos específicos, exposição à radiação ultravioleta e atividade física intensa.

A presença de câncer é uma complicação significativa, estando presente em 25% dos adultos com dermatomiosite, especialmente associada a malignidades como câncer de mama ou ovário em mulheres e câncer de pulmão e próstata em homens. Fatores como idade avançada, sexo masculino, tabagismo e gravidade da doença muscular e cutânea estão associados a um maior risco de câncer.

Sintomas de dermatomiosite

A fraqueza muscular proximal (ombro, quadril) simétrica é um sintoma comum, manifestando-se gradualmente e afetando atividades rotineiras. O início pode ser insidioso, com fraqueza muscular e elevação gradual de enzimas musculares. A fraqueza dos músculos da orofaringe e esôfago pode levar à disfagia.

O exame cutâneo revela uma variedade de manifestações, como rash eritematoso, sinal de Gottron, rash heliotropo e eritema violáceo nas pálpebras. O rash pode ser fotossensível, acompanhado por poiquilodermia, hiperpigmentação, hipopigmentação, telangiectasias, e atrofia. Achados menos comuns incluem vasculite cutânea, úlceras, e calcinose, caracterizada por depósitos de cálcio subcutâneos. Veja as imagens:

Sinal de Gottron. Fonte: UpToDate
Sinal de Gottron. Fonte: UpToDate
Rash heliotropo. Fonte: Summit Dermatology
Rash heliotropo. Fonte: Summit Dermatology
Poiquilodermia. Fonte: Dermatomyositis Clinical Presentation: History, Physical Examination
Poiquilodermia. Fonte: Dermatomyositis Clinical Presentation: History, Physical Examination

Ao analisar os sistemas, deve-se atentar para sintomas como fadiga, mialgia, febre de baixa intensidade, disfagia, vasculite cutânea, úlceras, e calcinose. O envolvimento pulmonar pode se manifestar como dispneia e tosse não produtiva. Ademais, no interrogatório da anamnese, a avaliação do histórico familiar busca informações sobre doenças autoimunes.

No exame físico, é comum presenciar fraqueza proximal simétrica ao redor dos ombros e quadris, com dificuldade em elevar os braços acima da cabeça e subir escadas. Outros sinais incluem "Mãos Mecânicas," caracterizado por pele áspera e alterações hipertrofiadas nas mãos e dedos, e alterações nas unhas, evidenciadas pela capilaroscopia da matriz ungueal. Lipodistrofia pode estar presente na inspeção.

Veja também:

Como é feito o diagnóstico?

Investigações laboratoriais iniciais devem incluir a mensuração de enzimas musculares, como creatina quinase (CK), aldolase, lactato desidrogenase (LDH), aspartato aminotransferase (AST) e alanina aminotransferase (ALT), visando orientar estudos diagnósticos adicionais e avaliar a resposta terapêutica. Elevações nas enzimas musculares podem preceder o desenvolvimento de fraqueza muscular. 

A pesquisa de autoanticorpos, com ênfase em autoanticorpos específicos para miosite (MSA), é crucial no diagnóstico de dermatomiosite. Outros autoanticorpos que podem ser investigados são: Anti-Jo, Anti-Mi2, Anti-SRP, Anti-MDA5, Anti-TIF-1 gama, Anti-SAE e Anti-NXP 2. A eletromiografia auxilia na identificação de grupos musculares mais afetados, assim orientando o músculo ideal para a realização de biópsia. 

No histopatológico muscular é possível encontrar infiltrado inflamatório perivascular e perimisial, atrofia perifascicular (principal característica) e microangiopatia. Os achados na biópsia de pele na Dermatomiosite é muito semelhante com os vistos no Lúpus Eritematoso Sistêmico, sendo eles alterações nos vacúolos da membrana basal, aumento de infiltrado linfocítico e aumento de depósito de mucina. Visto isso, o LES é um importante diagnóstico diferencial.

Para acometimento sistêmico, a radiografia de tórax é útil nos pacientes com queixas de tosse não produtiva e dispneia aos esforços para detectar doença intersticial pulmonar causada pela dermatomiosite. A ressonância magnética avalia inflamação e edema muscular, sendo menos precisa que a biópsia. Além disso, hemograma, função hepática, taxa de sedimentação de eritrócitos (ESR) e proteína C reativa (PCR) também são avaliados.

Pacientes com dermatomiosite apresentam risco aumentado de câncer nos primeiros cinco anos; portanto, é crucial realizar rastreamento de câncer apropriado. A frequência e extensão dos exames devem ser individualizadas, considerando fatores clínicos e resultados de exames iniciais.

Tratamentos para Dermatomiosite

A abordagem do acometimento muscular na dermatomiosite tem como primeira linha os glicocorticoides, estando acompanhados ou não de imunossupressores. Não é regra, porém o esquema mais comum é o de administração de altas doses até haver queda de enzimas musculares e recuperação da força. Uma vez que o quadro estabiliza, faz-se uma redução gradual do medicamento. O tempo total varia de 9 a 12 meses.

Casos refratários ao esquema mencionados anteriormente podem ser abordados com imunoglobulinas intravenosas, inibidores de calcineurina ou Rituximab, sendo esse último o mais recomendado. 

As manifestações cutâneas são manejadas com medidas gerais, sendo elas proteção à radiação UV, agentes tópicos para prurido (Pramoxina) ou oral (anti-histamínicos), associadas a medidas terapêuticas, como corticosteroides tópicos e inibidores da calcineurina. O tratamento para afecção disseminada de pele pode ser feito por via oral com Hidroxicloroquina ou Metotrexato. Infelizmente os medicamentos orais para os músculos não ajudam na condição dermatológica.

Conclusão

A dermatomiosite é uma doença com diversos possíveis achados, a qual tem sua fisiopatologia ainda pouco compreendida, mas envolvendo mecanismos autoimunes e idiopáticos. Na sua apresentação, destacam-se as lesões dermatológicas e a diminuição de função muscular. Seu diagnóstico envolve exames laboratoriais e de imagem. Seu tratamento se baseia na contenção dos autoanticorpos baseado nos locais de atuação dos mesmos.

Estudando para a residência médica?

A residência médica é o melhor método para se tornar um médico especialista no Brasil, com a possibilidade de ter uma rotina mais fixa e ganhar mais que profissionais generalistas. Se você deseja se tornar um dermatologista, venha conhecer mais sobre a área.

Leia Mais:

FONTES: