A brucelose é uma infecção causada pela bactéria Brucella, sendo endêmica em várias regiões do mundo, como o Mediterrâneo, Oriente Médio, Ásia Central, África Subsaariana e América Latina, afetando especialmente pessoas com exposição no trabalho, como veterinários e trabalhadores rurais. Vamos revisar os aspectos clínicos dessa zoonose?
O que é Brucelose?
A brucelose, também conhecida como febre do Mediterrâneo ou febre de Malta, é uma zoonose causada por bactérias do gênero Brucella, sendo as principais a Brucella melitensis, B. abortus, B. suis e B. canis. A infecção ocorre pelo consumo de alimentos de origem animal contaminados, como laticínios não pasteurizados, ou pelo contato direto com tecidos ou fluidos de animais infectados.
Outra via de contágio é a inalação de partículas aerossolizadas contaminadas, sendo os trabalhadores de abatedouros, veterinários e técnicos de laboratórios os grupos de maior risco. Embora rara, a transmissão entre humanos pode ocorrer por via sexual, transfusão de sangue, transplante de tecidos, amamentação ou durante o parto.
Sintomas de Brucelose
Os achados clínicos mais comuns incluem febre de início insidioso, que pode ser intermitente, contínua ou apresentar picos acompanhados de calafrios, além de sudorese noturna de odor característico (semelhante a mofo), mal-estar, fadiga, artralgias e perda de peso. Outros sintomas frequentemente relatados incluem cefaleia, dores musculoesqueléticas (principalmente dor lombar), anorexia, dispepsia, dor abdominal e depressão.
Além dos sintomas clássicos, a Brucelose pode causar complicações em diversos órgãos e tecidos. Abaixo está uma tabela de possíveis acometimentos de cada sistema:
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Classificação da Brucelose
A Brucelose é classicamente classificada em seis categorias principais, embora essa divisão tenha utilidade clínica limitada:
Brucelose Subclínica
Geralmente assintomática, sendo detectada em exames sorológicos de triagem em indivíduos de risco.
Brucelose Aguda e Subaguda
Os sintomas surgem de forma gradual e podem incluir febre, sudorese noturna, fadiga e dor osteoarticular. As manifestações variam de doenças leves e autolimitadas (causada por B. abortus) a quadros fulminantes e graves (causada por B. melitensis).
Brucelose Crônica
Casos em que os sintomas persistem por mais de 1 ano, predominando febre baixa e manifestações neuropsiquiátricas, como depressão e fadiga crônica. As culturas e sorologias frequentemente negativas. Muitos casos são atribuídos a infecções persistentes causadas por terapia inicial inadequada, com possíveis focos localizados não tratados.
Brucelose Localizada
Ocorre quando a infecção se concentra em um órgão ou sistema, geralmente secundário à brucelose aguda ou crônica não tratada. Localizações comuns são o sistema osteoarticular, geniturinário e hepatoesplênico.
Brucelose Recorrente
Ocorre após o término do tratamento, com sintomas semelhantes aos iniciais, mas geralmente mais graves. As culturas são geralmente positivas, enquanto os testes sorológicos podem ser difíceis de interpretar. Testes de ELISA são úteis para diferenciar recidivas de infecções.
Como diagnosticar?
O diagnóstico de brucelose pode ser definitivo ou presumido.
Diagnóstico definitivo
O diagnóstico definitivo requer a identificação da Brucella em cultura de sangue, medula óssea ou outros fluidos/tecidos corporais, sendo a cultura de medula óssea o padrão-ouro devido à sua maior sensibilidade. Também se aceita como definitivo o aumento de quatro vezes ou mais no título de anticorpos entre amostras de soro coletadas em fases aguda e convalescente.
Diagnóstico presumido
O diagnóstico presumido utiliza sorologia e PCR. O teste de aglutinação em tubo (SAT) detecta anticorpos anti-Brucella, sendo sugestivo um título ≥1:160 (em áreas não endêmicas) ou ≥1:320 (em áreas endêmicas). O ELISA detecta IgM, IgG e IgA, úteis em infecções crônicas e neurobrucelose. O PCR detecta DNA bacteriano em sangue e fluidos corporais, sendo especialmente útil em casos de sorologia negativa ou infecções iniciais.
Exames adicionais incluem hemograma (buscando leucopenia, anemia e trombocitopenia) e função hepática (avaliando a elevação de ALT, AST e fosfatase alcalina). Imagens como RM e TC ajudam a diagnosticar complicações osteoarticulares e neurobrucelose. Biópsias de medula óssea ou fígado podem mostrar granulomas não caseosos, característicos da infecção.
Tratamento para brucelose
O tratamento da brucelose visa controlar a doença e prevenir complicações, recidivas e mortalidade. O tratamento padrão para adultos inclui Doxiciclina (100 mg duas vezes ao dia) por 6 semanas, combinada com Rifampicina (600-900 mg/dia), Estreptomicina (1 g/dia por 2-3 semanas) ou Gentamicina (7-10 dias). A combinação de Doxiciclina com aminoglicosídeos é preferida devido à menor taxa de recaída em comparação ao regime com rifampicina.
Conclusão
A brucelose é uma infecção com ampla ocorrência mundial, especialmente em áreas endêmicas. Pode causar uma variedade de sintomas clínicos, desde febre e mal-estar até complicações graves em vários sistemas. O diagnóstico é baseado em uma combinação de exames clínicos, laboratoriais e históricos epidemiológicos. O tratamento adequado é essencial para prevenir complicações e recidivas, sendo a terapia combinada a mais eficaz. A conscientização e a prevenção são fundamentais, especialmente para trabalhadores em risco de exposição à bactéria.
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FONTES:
- Medscape. Brucellosis Treatment.
- Medscape. Brucellosis Clinical Presentation: History, Physical Examination, Complications
- UpToDate. Brucellosis: Treatment and Prevention. Updated December 2024. Available at: