Toda a população necessita de uma avaliação específica e individualizada, e com os idosos não é diferente. Com o envelhecimento, surgem mudanças físicas, cognitivas e sociais que exigem uma abordagem diferenciada. A Avaliação Geriátrica Ampla (AGA) foi desenvolvida para atender a essas necessidades, proporcionando uma análise global da saúde do idoso. Vamos revisar sua importância e seus componentes!
O que é a avaliação geriátrica ampla e qual a sua finalidade?
A Avaliação Geriátrica Ampla (AGA) é uma ferramenta destinada a avaliar de forma sistemática o estado de saúde dos pacientes idosos. Diferente de uma consulta médica convencional, ela foca no estado funcional e na qualidade de vida, integrando aspectos clínicos, funcionais, psicológicos e sociais. Sua principal finalidade é permitir um diagnóstico abrangente, possibilitando a identificação precoce das condições mais prevalentes nessa faixa etária.
Além disso, a AGA orienta o planejamento de cuidados individualizados, promovendo intervenções que visem a manutenção da independência e do bem-estar do paciente. Ela também facilita a comunicação entre os membros da equipe interdisciplinar, promovendo um cuidado integrado. Por meio de instrumentos específicos, como escalas de funcionalidade, testes de mobilidade, avaliação do estado nutricional e exames cognitivos, a AGA permite monitorar a evolução do estado de saúde ao longo do tempo e ajustar as estratégias terapêuticas conforme necessário.
Como fazer a avaliação geriátrica ampla?
Coleta de Dados Preliminares
Antes da consulta, é importante realizar uma coleta de dados prévios para otimizar o tempo durante a consulta. Isso pode ser feito pelo relato do cuidador ou do próprio idoso, utilizando questionários que abordam os seguintes pontos:
- Medicamentos em uso;
- Histórico médico;
- Status funcional;
- Histórico de quedas;
- Saúde bucal;
- Problemas sensoriais;
- Incontinência urinária;
- Transtornos de humor;
- Declínio cognitivo.
Entrevista e Anamnese Detalhada
A segunda etapa da avaliação geriátrica ampla envolve uma entrevista mais aprofundada com o idoso, seus familiares ou cuidadores. O objetivo é obter informações detalhadas sobre a história clínica do idoso, incluindo condições de saúde atuais e passadas, comorbidades, cirurgias anteriores e tratamentos em curso. Além disso, é fundamental avaliar a rede de apoio social, a qualidade das relações familiares, a presença de cuidadores e os riscos de maus-tratos.
A investigação sobre aspectos psicossociais e socioeconômicos também é importante, incluindo questões como a rede social do idoso, sua participação em atividades comunitárias, sua fonte de renda e a análise do ambiente em que ele vive, considerando riscos de quedas e a necessidade de adaptações no lar.
Exame Físico Completo
O exame físico visa avaliar metodicamente os sistemas. O sistema cardiovascular deve ser verificado, incluindo a medição da pressão arterial, ausculta cardíaca e sinais de insuficiência cardíaca. No sistema respiratório, deve-se realizar a ausculta pulmonar e verificar sinais de insuficiência respiratória. A avaliação do sistema musculoesquelético foca na mobilidade, força muscular, dor articular e sinais de osteoporose.
No exame neurológico, são realizados testes de coordenação, reflexos e funções cognitivas. Ferramentas como o Mini Exame do Estado Mental (MEEM) são comumente utilizadas para rastrear distúrbios cognitivos. A avaliação nutricional é fundamental, visto que a desnutrição é um problema frequente, e ferramentas como a Miniavaliação Nutricional (MAN) podem ser usadas para detectar risco nutricional.
Além disso, deve-se analisar a funcionalidade do idoso em relação à sua capacidade de realizar atividades diárias, utilizando índices como o Índice de Katz e o Índice de Lawton. A realização de testes de equilíbrio, como o Timed Up and Go Test (TUG), também é importante para avaliar o risco de quedas.
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Avaliação Cognitiva e Psicológica
É essencial avaliar o estado cognitivo do idoso para detectar possíveis sinais de demência ou delirium. Ferramentas como o Mini Exame do Estado Mental (MEEM) ajudam no rastreamento do declínio cognitivo. Além disso, deve-se avaliar sinais de depressão e ansiedade, que são comuns em idosos, utilizando escalas de depressão geriátrica (GDS) e outras ferramentas para detectar sintomas de ansiedade.
Avaliação de Polifarmácia e Medicamentos Inapropriados
É importante revisar todos os medicamentos que o idoso está tomando, incluindo prescrições, medicamentos de venda livre, fitoterápicos e suplementos. Ferramentas como os Critérios de Beers e o Medication Appropriateness Index (MAI) podem ser usadas para identificar medicamentos potencialmente inapropriados e avaliar a necessidade real de cada medicamento.
Desenvolvimento da Lista de Problemas
Após a coleta de dados e a realização do exame, deve-se elaborar uma lista de problemas encontrados, que inclui as condições médicas do idoso, como doenças crônicas (hipertensão, diabetes, etc.), problemas funcionais (dependência para atividades básicas), condições psicológicas (depressão ou ansiedade), aspectos sociais (ausência de rede de apoio) e problemas de segurança (risco de quedas ou maus-tratos).
Plano de Ação e Implementação
Com base na lista de problemas, é elaborado um plano de ação que envolve uma equipe multidisciplinar, composta por médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, nutricionistas, psicólogos, assistentes sociais, entre outros. Este plano deve abordar o tratamento médico, ajustando medicamentos, controlando doenças crônicas e implementando intervenções para prevenção de quedas e outras condições.
Além disso, deve incluir suporte psicossocial, com orientações sobre a rede de apoio e encaminhamentos para acompanhamento psicológico, terapia ocupacional, entre outros. A adaptação do ambiente para melhorar a segurança do idoso e o planejamento nutricional também são aspectos essenciais do plano de ação.
Reavaliação e Acompanhamento
A reavaliação é fundamental para monitorar a eficácia das intervenções implementadas e ajustar o plano de ação conforme necessário. A reavaliação deve ser feita periodicamente, com o acompanhamento de todas as condições identificadas na avaliação inicial. Isso garante que as metas de tratamento sejam atingidas e que o plano terapêutico seja ajustado conforme o estado de saúde do idoso evolui.
Conclusão
Em conclusão, a Avaliação Geriátrica Ampla (AGA) é uma ferramenta essencial para atender às necessidades complexas dos idosos, proporcionando uma abordagem global e individualizada de seu estado de saúde.
Ela permite a detecção precoce de condições prevalentes, além de promover um planejamento de cuidados que prioriza a funcionalidade e a qualidade de vida. Através da integração de diversas áreas da saúde, a AGA facilita um cuidado coordenado e adaptado às condições específicas de cada idoso. Assim, ela desempenha um papel crucial na promoção do envelhecimento saudável e no manejo eficaz das questões que afetam essa população.
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FONTES:
- DINIZ, Lucas R.; GOMES, Daniel Christiano de A.; KITNER, Daniel. Geriatria. Rio de Janeiro: MedBook Editora, 2019. E-book.