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Publicado em
29/3/24

Abdome agudo inflamatório: causas, sintomas e como tratar

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Abdome agudo inflamatório: causas, sintomas e como tratar

A condição de abdome agudo é uma emergência relativamente comum, com diversas possíveis etiologias, que pode ser dividido em subtipos: inflamatório, obstrutivo, vascular, perfurativo e hemorrágico. O abdomen agudo de origem inflamatória pode também estar associado a processos infecciosos na cavidade peritoneal. Vamos destrinchar as causas, sintomas e tratamento dessa afecção aguda!

O que é Abdome Agudo Inflamatório?

O abdome agudo inflamatório é uma emergência, que pode ter ou não caráter cirúrgico, que surge por uma inflamação e infecção de alguma estrutura intra-abdominal. Vamos revisar abaixo as principais causas de abdome agudo, baseado nos grupos etiológicos:

ABDOME AGUDO INFLAMATÓRIO
Inflamatório apendicite, diverticulite, colecistite
Obstrutivo volvo, hérnia encarcerada, bridas
Perfurativo perfuração de úlcera péptica, rompimento de divertículo intestinal
Vascular síndromes isquêmicas abdominais
Hemorrágico gestação ectópica rota, aneurisma aórtico roto
Principais causas de Abdome Agudo baseado nos subgrupos etiológicos. Fonte: EMR/Fernanda Vasconcelos

Fisiopatologia

A apresentação clássica do abdome agudo inflamatório ocorre devido à dupla-inervação da cavidade abdominal, sendo elas a Visceral e Somática. A inervação visceral age em nome do sistema nervoso autonômico, com nervos sensíveis à distensão, inflamação, isquemia, e à peristalse dolorosa realizada pela musculatura lisa gastrointestinal, popularmente conhecida como cólica.

A caracterização dessa dor visceral é de localização imprecisa, profunda e romba. Ela apresenta grande irradiação, baseado no local de origem: órgãos do andar superior do abdômen, como fígado, estômago pâncreas e vias biliares, irradiam para o epigástrio; órgãos em região média do abdômen, como intestino delgado e apêndice, irradiam para a região periumbilical; e órgãos mais inferiores, como reto e intestino grosso, irradiam para hipogástrio e fossas ilíacas. 

Por sua vez, a sensibilidade somática fornece informações sensitivas da camada parietal do peritônio. Ela será descrita como de localização facilmente identificável e de característica mais aguda. Essa dor é mais indicativa de irritação peritoneal. O Sinal de Blumberg, visto pela descompressão abrupta do ponto de McBurney, é um forte indicativo dessa condição. 

Ponto de McBurney para realização de Sinal de Blumberg. Fonte: Lecturio
Ponto de McBurney para realização de Sinal de Blumberg. Fonte: Lecturio

Causas de abdome agudo inflamatório

Apendicite

Apêndice Vermiforme. Fonte: Blog Dr. Paulo Pittelli
Apêndice Vermiforme. Fonte: Blog Dr. Paulo Pittelli

A apendicite é uma condição caracterizada pela inflamação aguda do apêndice vermiforme, localizado na fossa ilíaca direita. A sua apresentação se inicia de maneira inespecífica, com dor periumbilical, vômitos, náuseas, se agudizando nas primeiras 24 horas com localização precisa em região inguinal direita do tipo cólica e com sinal de Blumberg positivo. É rara a apresentação crônica da condição.

Colecistite Aguda

Vesícula biliar e vias biliares. Fonte: Instituto de Gastroenterologia e Proctologia
Vesícula biliar e vias biliares. Fonte: Instituto de Gastroenterologia e Proctologia

 

É a inflamação da vesícula biliar, frequentemente sendo causada por uma obstrução de ductos por cálculos biliares, que caracterizam a coledocolitíase. Nesse caso, o paciente apresenta história prévia de episódios de cólicas biliares e piora com a ingestão de alimentos gordurosos. Além disso, também pode referir alteração de coloração de fezes e até icterícia.

Pancreatite Aguda

Anatomia do Pâncreas. Fonte: Departamento de Microbiologia - USP
Anatomia do Pâncreas. Fonte: Departamento de Microbiologia - USP

A inflamação aguda do pâncreas geralmente decorre de obstrução dos ductos pancreáticos por litíase biliar (caso obstrua o esfíncter de Oddi), alcoolismo, infecções virais, traumas ou condições genéticas. Em casos de manejo inadequado, essa patologia pode evoluir para uma insuficiência e necrose pancreática, infecções secundárias e disfunções de órgãos adjacentes.

Diverticulite

Diferenciação de Diverticulose e Diverticulite. Fonte: Blog Dr. Kássio
Diferenciação de Diverticulose e Diverticulite. Fonte: Blog Dr. Kássio

A diverticulite é uma complicação de uma condição já existente, a diverticulose. Essa se caracteriza pelo surgimento de saculações em intestino grosso, especialmente em sua porção sigmoide. A diverticulose não é necessariamente patológica, uma vez que pode não causar repercussões clínicas e funcionais. Porém, uma vez que uma dessas saculações inflama, existe um risco de rompimento com peritonite, além de quadro sintomatológico exuberante.

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Quais os sintomas de abdome agudo inflamatório?

A dor abdominal, caracterizada por sua intensidade súbita, frequentemente localiza-se em áreas específicas e pode se tornar mais difusa à medida que a condição progride. A sensibilidade ao toque é notável, acompanhada por rigidez na parede abdominal, reflexo da irritação peritoneal associada à inflamação. Náuseas e vômitos são comuns, evidenciando a resposta inflamatória nos órgãos abdominais. 

Alterações nos movimentos intestinais, como constipação ou diarreia também podem ser sinais sugestivos. A presença de febre sugere uma resposta inflamatória sistêmica, enquanto a distensão abdominal pode ocorrer devido à inflamação e acúmulo de líquidos. Alterações nos sinais vitais, como aumento da frequência cardíaca e respiratória podem ocorrer em casos mais graves.

Existem alguns sinais que servem de orientadores da hipótese diagnóstica de abdome agudo inflamatório, como por exemplo: se houver irradiação para o dorso, é característico de pancreatite, caso haja piora após ingesta alimentar, principalmente alta em lipídios, pensar em colecistite, assim como a icterícia. Além disso, é necessária a associação com faixa etária, visto que apendicite é comumente vista em jovens, enquanto diverticulite é característica do paciente mais senil.

É importante ressaltar que, apesar de não ser regra, uma vez que exista um quadro de dor localizada com febre no abdome agudo, a primeira hipótese diagnóstica dentre subgrupos é de abdome agudo inflamatório.

Diagnóstico

Exames laboratoriais

Não existe uma rotina laboratorial para abdome agudo inflamatório, uma vez que a investigação deve ser direcionada de acordo com as hipóteses levantadas durante a anamnese e exame físico. Dentro das etiologias mais comuns de abdome agudo inflamatório, leucograma, amilase, lipase e bilirrubinas são essenciais.

Vamos ver abaixo o que pode ser identificado baseado nos parâmetros solicitados e quais serão as condições que poderiam estar gerando a alteração:

EXAMES LABORATORIAIS NO ABDOME AGUDO
Hemograma - Hemoconcentração (ex: desidratação, possível diarreia persistente)
- Anemia (ex: hemorragia intra-abdominal)
Leucograma - Leucocitose (ex: inflamação por apendicite aguda)
Eletrólitos - Alcalose (ex: vômitos de repetição, possível causa obstrutiva)
- Acidose (ex: diarreia persistente)
Bilirrubinas - Aumento de fração direta (ex: obstrução de vias biliares)
Lactato - Alto (ex: síndromes isquêmicas)
Sumário de urina - Parâmetros alterados (ex: nefrolitíase)
Amilase e Lipase - Altas (ex: pancreatite aguda)
Beta-HCG - Positivo (ex: gravidez ectópica rota)
Exames laboratoriais e o que seus resultados sugerem em um quadro de abdome agudo. Fonte: EMR/Fernanda Vasconcelos.

Exames de imagem

No abdome agudo inflamatório, a ultrassonografia é de grande valor, uma vez que é um exame simples, barato, de fácil acesso, livre de radiação e de possível repetição frequente. Condições bem vistas pela USG são: colecistite, DIPA, rotura de gravidez tubária, apendicite aguda, coleções e abscessos intraperitoneais. Sua limitação está na avaliação retroperitoneal, além da dificuldade de visualização em casos de distensão abdominal e grande volume gasoso.

Já a Tomografia Computadorizada é de boa visualização independente da localização do órgão afetado, assim, avaliando bem o retroperitônio. Ademais, ela é capaz de demonstrar as possíveis complicações envolvidas, como alguma perfuração e áreas isquêmicas. Sua limitação é seu custo, a utilização de radiação (evitando exposições frequentes ao paciente) e a necessidade da estabilidade clínica e hemodinâmica para a realização.

Como tratar?

Visto que o tratamento depende da condição em questão, vamos focar nas 4 mais relevantes do abdome agudo inflamatório:

Apendicite Aguda

Via de regra, o tratamento de escolha para apendicite é a sua remoção na Apendicectomia, seja ela por laparotomia ou laparoscopia (dependendo da estabilidade clínica do paciente). Existe um procedimento pouco utilizado na prática, que é o tratamento de casos leves de apendicite com antibiótico, porém não tem sua eficácia bem estabelecida. Ademais, pacientes submetidos a cirurgia também receberão antibiótico.

Colecistite Aguda

O manejo da colecistite aguda deve conter drogas analgésicas, antibióticos (cobertura para Gram negativos, Gram positivos e anaeróbios) e cirurgia precoce (entre 48h a 72h da instalação). Caso o paciente busque atendimento em apresentação tardia, indica-se cirurgia em 6 a 10 semanas após a resolução do quadro.

Diverticulite

O tratamento da diverticulite dependerá da sua gravidade. Casos oligossintomáticos, assintomáticos e sem fatores de risco serão manejados a nível domiciliar, com antibioticoterapia e dieta líquida. Já os quadros com sintomas mais expressivos, fatores de risco, leucocitose e peritonite, o tratamento será com internamento, antibioticoterapia e avaliação de necessidade de retossigmoidectomia. A Classificação de Hinchey também é usada, veja abaixo:

Classificação de Hinchey e suas condutas
Hinchey 1 Abscesso pericólico confirmado Tratamento ambulatorial
Hinchey 2 Abscesso se estendendo até pelve Se abscesso ≤ 2cm: Tratamento ambulatorial
Se abscesso ≥ 2cm: tratamento hospitalar + punção/drenagem
Hinchey 3 Rotura de abscesso com peritonite generalizada Cirurgia
Hinchey 4 Peritonite fecal por perfuração Cirurgia
Associação entre classificação de Hinchey, suas definições e suas condutas. Fonte: EMR/Fernanda Vasconcelos

Conclusão

A abordagem ágil e diferenciada do abdome agudo inflamatório, considerando suas variadas etiologias, é necessária para garantir diagnóstico correto e intervenção adequada. É importante a boa compreensão dos sinais clínicos, laboratoriais e de imagem na diferenciação das condições de base causando o abdômen agudo. 


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