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Publicado em
23/11/23

Vasculite: o que é, causas, sintomas e tratamento

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Vasculite: o que é, causas, sintomas e tratamento

A vasculite, uma condição complexa caracterizada pela inflamação dos vasos sanguíneos, representa um desafio diagnóstico e terapêutico. Este distúrbio heterogêneo pode afetar vasos de diferentes calibres e órgãos do corpo, levando a diversas possibilidades de sintomas e complicações. Nesta revisão, falaremos em detalhes sobre os seus tipos, suas causas, sintomas, métodos de diagnóstico e opções de tratamento disponíveis.

O que é vasculite? 

A vasculite é um amplo grupo de doenças que envolvem inflamação dos vasos sanguíneos. Essas doenças têm suas etiologias pouco compreendidas, porém, geralmente resultam de um processo imunológico de ataque às camadas da parede vascular, gerando prejuízo no fluxo sanguíneo, estenoses, oclusões, aneurismas e hemorragias, que prejudicam a perfusão de órgãos e sistemas.

Tipos 

As vasculites podem ser divididas em 2 principais grupos: as Primárias (ou idiopáticas) e as Secundárias. Enquanto na Idiopática não é identificada nenhuma outra condição subjacente que justifique a inflamação, na secundária é possível apontar a causa com maior clareza, sendo frequentemente uma consequência de condições autoimunes, como o Lúpus Eritematoso Sistêmico e Artrite Reumatóide, ou de infecções, como a Hepatite B e C.

Exemplos imagéticos de sintomas da doença de Kawasaki, considerada uma vasculite
Achados da Doença de Kawasaki, vasculite mais prevalente na faixa etária pediátrica. Fonte: Observatório da Saúde da Criança e Adolescente - UFMG 

Ademais, há a divisão com base no calibre dos vasos sanguíneos que afetam. Essa classificação é usada para descrever a localização e a extensão da inflamação vascular. As três categorias principais são: vasculites de grandes vasos, vasculites de médios vasos e vasculites de pequenos vasos, que atingem os capilares e as pequenas arteríolas. Abaixo estão exemplos das principais condições de acordo com o citado:

Vasculite de Grandes Vasos Vasculite de Médios Vasos Vasculite de Pequenos vasos
Arterite de células gigantesArterite de Takayasu Poliarterite nodosaDoença de Kawasaki Síndrome de Churg-StraussVasculite associada a ANCA
Exemplos de vasculites de acordo com o calibre dos vasos que afetam. Fonte: EMR/Fernanda Vasconcelos

DICA DE PROVA

Diante de um assunto tão extenso, as bancas de prova de residência aparentam ter uma preferência por questões de Reumatologia, em que a vasculite cobrada é a de grandes vasos. Visto isso, vamos entender detalhes de condições englobadas nesse grupo na aula do Dr. Marcos Felipe sobre VASCULITES DE GRANDES VASOS:

Causas 

Imagem mostrando a Vasculite Palmar na Artrite Reumatoide
Vasculite Palmar em Artrite Reumatoide. Fonte: Blog Artrite Reumatoide

À parte das vasculites idiopáticas, as vasculites com causa secundária identificável podem possuir etiologias variadas, e inclui doenças como: inflamações, infecções, neoplasias, medicamentos, intoxicações, entre outras causas. Veja abaixo os exemplos que mais se destacam em cada um desses subgrupos com causa secundária:

Doenças Inflamatórias Condições Infecciosas Neoplasias Medicamentos
Artrite reumatóide, Lúpus eritematoso sistêmico, Síndrome de Sjogren, Doença Inflamatória Intestinal (Crohn e Retocolite ulcerativa) Hepatite B, Hepatite C, HIV, Citomegalovirus, Herpes, Epstein-barr, Rubéola, Salmonella, Esquistossomose Hematológicas, Hepáticas, Esplênicas, Linfáticas Inibidores de fator de necrose tumoral, antibióticos, drogas psicoativas, drogas ilícitas (cocaína)
Condições causadoras de vasculites. Fonte: EMR/Fernanda Vasconcelos

Quais são os sintomas de vasculite? 

De maneira geral, as vasculites sistêmicas iniciam com sintomas gerais de febre, fadiga, perda de peso, mialgia, astenia, artralgias, edemas, hemorragias, descoloração cutânea e necroses. A partir desse ponto, cada vasculopatia irá acarretar em sintomatologia própria, que se baseia no órgão e tipo de vaso acometido. 

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Quando essa patologia acomete órgãos do aparelho digestivo, os sintomas são dores abdominais pós-prandial, úlceras, aftas orais, hematoquezia e/ou melena. Nos pulmões, inclui dispneia, hemoptise e acúmulos pleurais. Na pele, gera eritemas cutâneos, nódulos, feridas, úlceras, erupções e pruridos. Nos olhos pode desencadear vermelhidão ocular, xeroftalmia, diplopia e amaurose. No sistema nervoso central, pode complicar a tal ponto de abrir um quadro de AVE.

Diagnóstico 

Todo o início de investigação deve ser composta de um resumo de condições prévias do paciente, busca de história familiar de doenças, identificação de fatores de risco, listagem de medicamentos que o indivíduo fez/faz uso, sintomatologia e exame físico. A partir dessa coleta, a investigação clínica será direcionada às principais suspeitas do profissional. Apesar disso, abaixo estão listados métodos diagnósticos inespecíficos que estão inclusos:

Hemograma

O Hemograma é um exame inicial e extremamente simples, mas que pode evidenciar características do quadro da vasculite, apesar de não ser critério diagnóstico. Nele, é possível achar baixos níveis de hemoglobina (por menor produção eritrocitária e também por hemorragias), plaquetose e leucocitose. Além do hemograma, solicita-se bioquímicos para a avaliação da lesão de certos órgãos alvos, como os rins e fígado.

Adentrando parâmetros laboratoriais mais específicos, realiza-se a pesquisa de imunidade, sendo eles os autoanticorpos. O mais comumente solicitado e associado ao problema é o anticorpo anticitoplasma de neutrófilos (ANCA), principalmente o p-ANCA e o c-ANCA, que são marcadores inflamatórios. Outros marcadores inflamatórios são a VHS e a proteína C reativa.

Imagem mostrando a vasculite causada pelo anticorpo anticitoplasma de neutrófilos
Vasculite associada a ANCA. Fonte: Anais de Dermatologia

Exames de imagem

Os exames de imagem servem para a visualização direta do vaso acometido e também para ver lesão de órgãos alvo. Para vasculite de grandes e médios vasos, é preferível a Angioressonância ou a Angiotomografia, além da Ultrassonografia com Doppler que é a técnica de imagem primeira linha para Arterite de Células Gigantes. Vasos de menor calibre tendem a ser mais difíceis de serem visualizados. O Ecocardiograma é o exame de escolha para acometimento de vasos cardíacos.

Angiorressonância mostrando vasculite intracraniana vista por uma
Vasculite intracraniana vista por uma Angiorressonância. Fonte: Fleury

Quando possível, a biópsia do tecido inflamatório determina o diagnóstico final, visto que evidencia o padrão de inflamação do vaso ou do órgão. Essa avaliação é mais comum na vasculite cutânea, onde é feito um estudo anatomopatológico de fragmento colhido da pele.

Qual o tratamento para vasculite? 

Para os quadros com causas evidentes (como induzida por medicamento ou por infecções), o tratamento é aquele da doença de base. Já os demais terão como objetivo a interrupção da ação do sistema imunológico gerando inflamação vascular. O manejo pode ocorrer a nível ambulatorial ou hospitalar, sendo o último escolhido quando o paciente necessita de estabilização por dano de órgão nobres (cérebro, coração, rins, entre outros).

O tratamento típico da vasculite sistêmica é composto de esquemas intensos de corticosteróides ou outros imunossupressores. De início, a droga mais usada é a Prednisona, pois controla a inflamação a nível agudo e ameniza a sintomatologia, sendo usado a curto prazo. A longo prazo, os corticosteróides dão lugar aos imunossupressores, sendo os mais utilizados a Azatioprina, Metotrexato e Ciclofosfamida.

Os medicamentos mais modernos para controle inflamatório são os agentes biológicos. Para as vasculites com indicação, é empregado o Rituximabe, que atenua as Células B imunológicas, sendo mais indicado para vasculites granulomatosas. Ademais, outra opção são os Inibidores do Fator de Necrose Tumoral, sendo esse fator um dos mediadores da lesão vascular. A droga de escolha dessa classe é o Infliximabe.

Conclusão

Em conclusão, a vasculite é uma condição que envolve a inflamação vascular que acarreta em diversos sintomas e complicações. A classificação é feita em primárias e secundárias, bem como com base no calibre dos vasos afetados, sendo o fator principal para a condução clínica e manejo do paciente. O diagnóstico inclui exames laboratoriais, de imagem e, quando possível, estudos histopatológicos. 

O tratamento visa controlar a inflamação e pode incluir o uso de corticosteróides, imunossupressores, agentes biológicos e inibidores do fator de necrose tumoral, dependendo da gravidade e do tipo. A escolha das substâncias é personalizada para cada paciente, e o acompanhamento médico deve ser contínuo devido à longa duração do tratamento.

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