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Publicado em
11/6/23

Síndrome gripal: epidemiologia, sintomas e tratamento

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Síndrome gripal: epidemiologia, sintomas e tratamento

A síndrome gripal (SG) é um quadro comum no dia a dia médico, que no geral indica doenças de pouca gravidade, mas que podem, porém, em indivíduos de maior risco, gerar quadros complicados. É muito importante o entendimento do manejo e dos sinais de gravidade, evitando a evolução para um quadro de maior gravidade e de risco de óbito, como a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG).

Neste post iremos abordar o que é síndrome gripal, suas principais etiologias, seus sintomas, sinais de gravidade e tratamento!

O que é a Síndrome Gripal?

A síndrome gripal é um conjunto de sinais e sintomas no qual o paciente apresenta febre de início súbito (mesmo que referida), acompanhada de tosse ou dor de garganta e pelo menos um dos sintomas seguintes: mialgia, cefaleia ou artralgia, na ausência de outro diagnóstico específico. Nas crianças com menos de 2 anos, se considera um quadro de síndrome gripal quando, na ausência de outro diagnóstico, a criança se apresenta com febre de início súbito e sintomas respiratórios (tosse, coriza e obstrução nasal).

É importante, porém, diferenciá-la da síndrome respiratória aguda grave. O que diferencia as duas é a presença de sinais de gravidade. São eles: dispneia, desconforto respiratório, saturação de O2 menor que 95% ou exacerbação de doença preexistente. Na SRAG, esses sinais de gravidade estão presentes, já na síndrome gripal NÃO.

Diferença entre SG e SRAG. Fonte: MS 
Diferença entre SG e SRAG. Fonte: MS 

Algumas das etiologias das síndromes gripais são: influenza, adenovírus, rinovírus, coronavírus e até mesmo bactérias como o pneumococo.

Fatores de risco

É importante estar atento aos fatores de risco para desenvolver um quadro mais grave, para intervir a qualquer momento. São eles: 

  • Grávidas;
  • Pneumopatas;
  • Portadores de cardiovasculopatias;
  • Nefropatas;
  • Hepatopatias;
  • Portadores de doenças hematológicas;
  • Diabetes mellitus;
  • Hipertensão arterial sistêmica;
  • Transtornos neurológicos que podem comprometer função respiratória, como disfunção congênita, lesões medulares, epilepsia,paralisia cerebral, Síndrome de Down, AVC ou doenças neuromusculares;
  • Imunossupressão;
  • Obesidade;
  • < 19 anos em uso de AAS (risco de síndrome de Reye);
  • Crianças < 2 anos;
  • Adultos de 60 anos ou mais; e
  • População indígena. 

Epidemiologia e transmissão

A síndrome gripal costuma ocorrer mais nos períodos de outono, em que ocorre maior presença de chuva e quedas na temperatura. A transmissão se dá por meio de gotículas. O quadro normalmente é mais grave em pacientes com fatores de risco.

No Brasil, o estado do Amapá, teve um aumento de 108% no número de crianças (de 7 meses a 4 anos) internadas por causa da síndrome, nos cinco primeiros meses de 2023, de acordo com a apuração feita pelo portal de notícias G1. Alguns hospitais como o Hospital da Criança e do Adolescente, localizado em Macapá, apresentaram superlotação. 

Ainda de acordo com o G1, a situação é tão grave que eles decretaram estado de emergência em Saúde Pública. O estado recebeu 32 mil metros cúbicos de oxigênio, além de equipamentos hospitalares e um misturador de ar medicinal. Vale lembrar que a cobertura vacinal para a gripe neste estado chega apenas a 16% da população infantil.

Como realizar o diagnóstico?

O diagnóstico da síndrome gripal é clínico. Deve-se buscar sintomas, antecedentes de exposição, fatores de risco, contato com casos semelhantes e verificar a situação vacinal. Para determinar etiologia, pode-se coletar secreção nasofaríngea para realizar testes para agentes como influenza e Sars-Cov-2.

Tratamento

O tratamento da síndrome gripal vai depender se o paciente possui fator de risco ou sinais de piora do estado clínico. Esses sinais são: persistência ou agravamento da febre por mais de 3 dias, miosite comprovada por CPK (> 2 a 3 vezes), alteração do sensório, sinais de desidratação e, em crianças, exacerbação dos sintomas gastrointestinais. 

Se o paciente não tiver fator de risco e sinais de piora do estado clínico, trata-se apenas com uso de sintomáticos, como analgésicos e antitérmicos, e recomenda-se aumento da ingestão hídrica, com o acompanhamento feito ambulatorialmente. Recomenda-se retorno a esses pacientes apenas se houver sinais de piora do estado clínico ou aparecimento de sinais de gravidade.

Se o paciente apresenta fator de risco e/ou sinais de piora do estado clínico, além dos sintomáticos e aumento da ingesta hídrica, é recomendado o uso de Oseltamivir e a realização de exames radiográficos e laboratoriais. Nesses pacientes, o acompanhamento também é ambulatorial, com retorno em 48h ou em caso de sinais de gravidade. A doses do Oseltamivir podem ser vistas abaixo:

FAIXA ETÁRIA TRATAMENTO
Adulto 75 mg, 12/12h 5 dias
Criança > 1 ano ≤ 15 kg: 30 mg, 12/12h, 5 dias15 - 23 kg: 45 mg, 12/12h, 5 dias23 - 40 kg: 60 mg, 12/12h, 5 dias> 40 kg: 75 mg, 12/12h, 5 dias
Criança < 1 ano < 3 meses: 12 mg, 12/12h, 5 dias3 - 5 meses: 20 mg, 12/12h, 5 dias6 - 11 meses: 25 mg, 12/12h, 5 dias
Tratamento da SG com Oseltamivir. Fonte: MS 

Tratamento da SG com Oseltamivir. Fonte:  MS 

Em casos, porém, de sinais de gravidade, a síndrome gripal se enquadra como síndrome respiratória aguda grave, tendo outra abordagem terapêutica

Prevenção

A principal forma de prevenção é pela vacinação, seja para influenza, pneumococo ou COVID-19. A campanha anual de vacina para influenza contribui para diminuição no número de casos. Nos pacientes já doentes, uma forma de prevenção é o isolamento, o uso de máscaras e medidas de biossegurança.

Conclusão

A síndrome gripal é um quadro comum, com aumento de casos anualmente, caracterizada por febre, tosse ou dor de garganta, mialgia/artralgia ou cefaleia. Pode evoluir para quadros mais graves, como a SRAG, principalmente em pacientes com fatores de risco. Mas, no geral, costuma ser um quadro autolimitado, sendo tratado apenas com sintomáticos. Pacientes de maior risco podem se beneficiar também do uso de Oseltamivir.

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