A Síndrome de Cushing é uma condição do sistema endócrino complexa que pode impactar diversos outros sistemas dos pacientes acometidos. Caracterizada pelo excesso de cortisol no organismo, seja devido a produção aumentada pelas glândulas suprarrenais ou ao uso prolongado de corticosteroides, essa síndrome tende a ser bem característica em seu quadro clínico, facilitando o diagnóstico para o rápido início do manejo.
O que é a Síndrome de Cushing?
A Síndrome de Cushing, que também pode ser chamada de hipercortisolismo, é um distúrbio endócrino causado pela exposição prolongada a níveis elevados de cortisol sérico. A causa mais comum de seu surgimento é o uso inadequado de medicamentos corticosteroides. Outra definição importante é a de Doença de Cushing, causada por excesso de cortisol secundário ao hormônio adrenocorticotrófico (ACTH) devido a um adenoma pituitário.
Além disso, o estado de pseudo-Cushing refere-se a condições nas quais os pacientes podem ter alguns traços da Síndrome de Cushing e apresentar evidências de hipercortisolismo em alguns testes, mas sem tumor ou causa subjacente, geralmente observada em distúrbios como alcoolismo crônico, doença renal crônica, obesidade severa e condições psiquiátricas.
O que causa a Síndrome de Cushing?
A Síndrome de Cushing tem duas principais etiologias: hipercortisolismo endógeno e exógeno.
Hipercortisolismo exógeno
O Hipercortisolismo Exógeno é a causa mais comum e se dá por mecanismos iatrogênicos na maioria das vezes, como o uso prolongado de glicocorticoides. Esses medicamentos são utilizados para tratar condições inflamatórias e autoimunes, e sua administração prolongada pode levar ao desenvolvimento de características cushingoides devido ao excesso de cortisol.
Hipercortisolismo endógeno
Já o Hipercortisolismo Endógeno resulta da produção excessiva de cortisol pelas glândulas adrenais e pode ser dependente ou independente do hormônio adrenocorticotrófico (ACTH). Veja na tabela abaixo algumas das patologias envolvidas nesses dois grupos:
Quais os sintomas?
A Síndrome de Cushing apresenta uma ampla gama de sintomas devido ao excesso de cortisol. Os principais sintomas e sinais clínicos são: ganho de ponderal (fácies em lua cheia, região supraclavicular, parte superior das costas e tronco), estrias violáceas, fraqueza muscular, e irregularidade menstrual. Além de infertilidade, disfunção sexual, alterações psicoemocionais, hipertensão, diabetes e fragilidade óssea.
Alguns achados serão facilmente percebidos durante o exame físico. São eles: os depósitos de gordura nos locais anteriormente mencionados, hirsutismo, hematomas disseminados, alopecia, rubor facial e acne. Além disso, outros sintomas menos específicos podem aparecer como consequência da fisiopatologia, como nefrolitíase, fraturas ósseas, infecções recorrentes, alterações visuais e dislipidemia.
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Diagnóstico de Síndrome de Cushing
O diagnóstico da Síndrome de Cushing envolve uma série de testes bioquímicos para confirmar a hiperprodução de cortisol e diferenciar entre as causas ACTH-dependentes e independentes. A avaliação inicial inclui o cortisol salivar noturno, cortisol livre na urina de 24 horas e teste de supressão com Dexametasona de 1 mg. Na síndrome, os dois primeiros testes indicam altos valores, enquanto o segundo evidencia queda secundária ao medicamento administrado.
Após os testes iniciais, são realizados os confirmatórios. Eles incluem o teste de supressão com Dexametasona de baixa e alta dose, além de dosagem de ACTH sérico. Nos exames de imagem, a Ressonância Magnética da Pituitária busca identificar adenomas pituitários. Já a Tomografia Computadorizada das Adrenais evidencia adenomas ou carcinomas adrenais.
Tratamentos da síndrome de Cushing
O tratamento da Síndrome de Cushing varia de acordo com a causa subjacente. Na Síndrome Iatrogênica o objetivo é a redução gradual dos corticosteroides exógenos para a recuperação da função adrenal, que pode demorar meses. Já na Síndrome Endógena o manejo pode envolver cirurgia caso se trate de um tumor (hipofisário, adrenal ou ectópico).
Ademais, a terapia medicamentosa inclui Inibidores da Esteroidogênese ou Cabergolina, após a falha da cirurgia ou quando ela não é possível, além dos Antagonistas dos Receptores de Cortisol, que pode ser utilizada especialmente em pacientes com diabetes ou resistência insulínica não candidatos à cirurgia.
Em casos de recorrência da doença de Cushing, a radioterapia pode ser indicada. Ela também é válida para adenomas corticotróficos com efeito de massa ou invasão de estruturas adjacentes. Nos casos muito graves de hipercortisolismo ACTH-dependente que não respondem a outras terapias, pode ser feita a adrenalectomia bilateral seguida de reposição de glicocorticoides e mineralocorticoides para o resto da vida.
Conclusão
A Síndrome de Cushing apresenta sintomas muito diversos que surgem como consequência de um grande desbalanço metabólico e hormonal. O diagnóstico é feito por meio de testes de cortisol e exames de imagem e o tratamento principal é a ressecção cirúrgica do tumor, com terapias medicamentosas e radioterapia como opções secundárias. Acompanhamento contínuo e manejo das comorbidades são necessários durante todo o processo.
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FONTES:
- Chaudhry HS, Singh G. Cushing Syndrome. [Updated 2023 Jun 26]. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2024 Jan.
- DynaMed. Cushing Disease. EBSCO Information Services. 2024.
- Nguyen, H. C. T., MD. (n.d.). Endogenous Cushing Syndrome: practice essentials, pathophysiology, etiology.