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Publicado em
15/7/24

Síndrome da veia cava superior: o que é, causas e diagnóstico

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Síndrome da veia cava superior: o que é, causas e diagnóstico

A Síndrome da Veia Cava Superior (SVCS) é uma condição cardiovascular incomum porém potencialmente grave caracterizada pela obstrução da veia cava superior. Esta síndrome pode se apresentar por diversos sinais e sintomas, exigindo uma identificação precoce como meio de evitar suas possíveis complicações. Vamos revisar seus princípios!

O que é a Síndrome da Veia Cava Superior?

A Síndrome da Veia Cava Superior (SVCS) é uma condição clínica caracterizada por um conjunto de sinais e sintomas advindos da obstrução parcial ou completa do fluxo sanguíneo através da veia cava superior (VCS). A VCS é formada pela junção das veias braquiocefálicas esquerda e direita e tem a função de retornar o sangue da cabeça, pescoço, membros superiores e tronco para o coração, mais especificamente para o átrio direito.

Imagem demonstrando quais são as veias na extremidade superior do corpo
Veias na extremidade superior do corpo. Fonte: Venous Drainage of Upper Limb and Lower Limb

A Classificação de Stanford categoriza os tipos de obstrução da SVCS com base na venografia e na localização da impactação. Essas classificações ajudam a orientar o diagnóstico e o manejo clínico dos pacientes com SVCS, considerando a gravidade e a extensão da obstrução venosa. Veja seus 4 tipos na tabela abaixo:

CLASSIFICAÇÃO DE STANFORD
Tipo I Obstrução parcial da VCS acima da veia ázigo com fluxo anterógrado através da veia ázigo patente.
Tipo II Obstrução de ≥ 90% da VCS acima da veia ázigo com fluxo anterógrado através da veia ázigo patente.
Tipo III Obstrução completa da VCS com fluxo anterógrado na veia ázigo patente.
Tipo IV Obstrução completa da VCS com obstrução também em ≥ 1 tributária principal (incluindo a veia ázigo).
Classificação de Stanford para o nível de obstrução na Síndrome da Veia Cava Superior. Fonte: EMR/Fernanda Vasconcelos

Imagem mostrando quais os tipos da síndrome da veia cava superior
Tipos de SVCS. Fonte: Superior Vena Cava Syndrome - ScienceDirect

Fisiopatologia

A obstrução do fluxo venoso através da veia cava superior pode ocorrer devido a várias causas. Por exemplo, por compressão extrínseca, como tumores ou massas localizadas no mediastino médio ou anterior. Massas do lado direito são geralmente mais propensas a causar compressão da dessa veia. Outro mecanismo é a oclusão intraluminal por formação de trombos em um ambiente de baixa pressão intravascular ou a presença de outras massas intraluminais também podem causar obstrução.

Além disso, outro meio é a irritação mecânica crônica por dispositivos, como cateteres, marcapassos e desfibriladores implantáveis. Esses podem levar à deposição de fibrina, promovendo inflamação da parede do vaso, fibrose, trombos e, eventualmente, obstrução. Quando a veia cava superior é obstruída, o fluxo sanguíneo precisa ser desviado para o átrio direito através de redes colaterais, como o sistema ázigo,  Via Mamária Interna, Via Torácica Lateral e Via Vertebral.

A obstrução da veia causa aumento da pressão venosa central, que pode subir para 20-40 mmHg, comparado ao normal de 2-8 mmHg. Essa elevação na pressão provoca ingurgitamento dos vasos, que é aliviado pela dilatação dos vasos colaterais. No entanto, esses vasos colaterais levam várias semanas para se dilatar suficientemente, resultando em sinais e sintomas persistentes da SVCS, mesmo após a dilatação completa das colaterais.

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Causas da Síndrome da Veia Cava Superior 

Atualmente, a maioria dos casos de SVCS resulta de câncer no mediastino, sendo o carcinoma broncogênico de pequenas células a principal causa. A segunda malignidade mais comum associada é o linfoma não-Hodgkin, seguida por tumores metastáticos. Além disso, a formação de trombos iatrogênicos ou a estenose da VCS é uma etiologia crescente. A compressão externa ou obstrução intrínseca da VCS pode ser causada por várias condições, incluindo:

CAUSAS MALIGNAS CAUSAS BENIGNAS CAUSAS POR DISPOSITIVOS
Carcinoma de pulmão de não pequenas células

Carcinoma de pulmão de pequenas células

Linfoma não-Hodgkin
Tumores mediastinais benignos ou hematomas

Mediastinite fibrosante (idiopática ou induzida por radiação)

Infecções (tuberculose e aneurismas sifilíticos da aorta)

Bócio retroesternal
Cateteres venosos centrais

Marcapassos e fios de marcapasso

Desfibriladores implantáveis

Cateteres de hemodiálise
Causas de Síndrome da Veia Cava Superior. Fonte: EMR/Fernanda Vasconcelos

Quais os sintomas?

A apresentação clínica da Síndrome da Veia Cava Superior (SVCS) pode variar dependendo da localização e gravidade da obstrução, da rapidez do início e da posição do corpo, com os sintomas frequentemente piorando em posição supina. A maioria dos pacientes apresenta edema em face, pescoço e/ou membros superiores, dispneia (comumente ortopneia), tosse e rouquidão. Outros sintomas são a cianose, alterações visuais e disfagia.

Raramente, os pacientes podem apresentar sintomas que ameaçam a vida devido à rápida oclusão da VCS, como edema cerebral (identificado por cefaleia, tontura e obnubilação), edema laríngeo severo (causando estridor) e comprometimento hemodinâmico, incluindo síncope, hipotensão e disfunção renal. Os sintomas podem melhorar à medida que a circulação colateral se desenvolve.

Diagnóstico da Síndrome da Veia Cava Superior

O diagnóstico da Síndrome da Veia Cava Superior (SVCS) é baseado principalmente na história clínica e nos achados físicos do paciente. Os sinais e sintomas geralmente se desenvolvem ao longo de dias a semanas. No exame físico, pode-se observar na edema da face, cabeça, lábios ou olhos, pletora facial, disfonia, rouquidão, epistaxe e olhos lacrimejantes. 

Imagem mostrando uma trombose aguda da Síndrome da Veia Cava Superior no contexto de um dispositivo crônico de acesso venoso central apresentou-se com obnubilação e eritema
Trombose aguda da Síndrome da Veia Cava Superior no contexto de um dispositivo crônico de acesso venoso central apresentou-se com obnubilação e eritema. Fonte: Superior vena cava syndrome (SVCS) - Internet Book of Critical Care

Além disso, as veias cervicais podem estar distendidas, com edema e cianose. No tórax, pode-se notar distensão das veias torácicas superficiais, edema e cianose. Nos pulmões, os sons respiratórios diminuídos podem sugerir derrame pleural. Nas extremidades superiores, pode haver edema e/ou cianose. Neurologicamente, podem ocorrer alterações como confusão, obnubilação, letargia, síncope, cefaleias, convulsões e AVC.

Imagem mostrando a distensão de veias cervicais
Distensão de veias cervicais. Fonte: Síndrome da Veia Cava Superior - Semioblog Humanitas

Pacientes com suspeita clínica de SVCS devem ser submetidos a exames de imagem do corpo superior e da vasculatura. As opções incluem ultrassonografia, a radiografia simples, a ressonância magnética (RM), tomografia computadorizada (TC) com contraste e venografia, considerada o padrão-ouro para visualizar e diagnosticar uma obstrução venosa, utilizada junto à intervenção endovascular em apresentações graves.

Como é feito o tratamento?

O tratamento da Síndrome da Veia Cava Superior (SVCS) foca no alívio dos sintomas e no manejo da causa subjacente. O planejamento varia conforme a apresentação clínica, a gravidade dos sintomas, a causa da obstrução e a extensão da doença. Medidas sintomáticas incluem o uso de diuréticos para diminuir o retorno venoso ao coração e a administração de oxigênio conforme necessário.

Para casos de trombose relacionada a dispositivos intravasculares, a remoção do dispositivo, a anticoagulação e a trombólise dirigida por cateter devem ser consideradas. Quando a obstrução é maligna, um planejamento mais específico é necessário, com quimioterapia ou radioterapia apropriada conforme o tipo, estágio e localização do tumor.

Em situações de emergência, onde há risco de vida devido a comprometimento das vias aéreas ou edema cerebral, é necessário proteger as vias aéreas, inclusive com intubação se necessário. O tratamento do edema cerebral pode incluir diuréticos osmóticos como manitol e hiperventilação. A realização urgente de imagem (TC ou venografia) e a colocação de stent endovascular são fundamentais. Em caso de trombose, a trombólise deve ser considerada.

O tratamento endovascular é aceito como padrão-ouro de cuidado para a obstrução da VCS devido ao alívio rápido dos sintomas, independentemente da etiologia. Em casos de trombose superposta, a remoção do trombo com trombólise dirigida por cateter ou trombectomia deve ser feita antes da revascularização, seguida por anticoagulação. A intervenção cirúrgica é reservada para casos onde a terapia endovascular não é apropriada.

Conclusão

​Em resumo, a Síndrome da Veia Cava Superior é uma condição clínica complexa que requer a devida atenção e cuidado. Com avanços em técnicas endovasculares e terapias direcionadas, o tratamento atualmente aplicado visa não apenas aliviar sintomas agudos, como também tratar a causa subjacente. 

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