A Sífilis Congênita é uma condição infecciosa relevante no contexto materno-infantil brasileiro. Esta doença é transmitida de mãe para filho durante a gravidez e pode resultar em graves complicações de saúde para o bebê. O Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde nos mostra uma incidência de 9,9 casos para cada 1000 nascidos vivos no ano de 2021, sendo o local mais afetado o Sudeste.
Infelizmente, muitas vezes a sífilis congênita não recebe a identificação devida, carecendo do manejo adequado. Com um diagnóstico e tratamento corretos, é possível prevenir e reduzir as complicações da sífilis congênita, garantindo uma vida saudável para o recém-nascido. Vamos abordar nesse texto as características clínicas, os métodos diagnósticos e o tratamento dessa condição!
O que é a sífilis congênita?
A sífilis congênita é a infecção causada pelo Treponema pallidum durante a gestação ou durante o parto. A contaminação pode ocorrer quando a bactéria, presente na circulação sanguínea da gestante infectada, atravessa a barreira transplacentária. Ou ainda, com menor frequência, ela pode ocorrer com o recém-nascido (RN) através do contato direto com a lesão sifilítica presente no canal do parto ou região perineal.
A transmissão da bactéria pode ocorrer em qualquer fase da gestação ou estágio de infecção materna. A não realização do pré-natal ou o tratamento inadequado durante o período gravídico são os principais responsáveis pela sífilis na gestação. A sífilis pode ainda ser classificada em primária, secundária e terciária, sendo as duas primeiras 70% dos casos e a última 30%:
- A sífilis primária é caracterizada pela presença de lesão ulcerativa no local da infecção.
- A sífilis secundária é uma fase subsequente e pode apresentar vários sintomas, como lesões cutâneas, febre, mal-estar e linfadenopatia generalizada.
- A sífilis terciária é uma fase tardia da doença que pode afetar vários órgãos e tecidos, incluindo o sistema nervoso central, o coração e os ossos, e pode levar a complicações graves como a neurossífilis e a sífilis cardiovascular.
DICA DE PROVA
Sífilis é assunto certo de prova de residência, sendo a IST com maior taxa de crescimento de incidência no Brasil.
Sintomas da sífilis em bebê
As manifestações do quadro clínico dependem diretamente do tempo de exposição e da carga bacteriana ao qual o feto foi exposto. Além disso, a virulência do agente etiológico e a coinfecção pelo HIV (ou outras causas que provocam a imunodeficiência materna) também influenciam o grau de acometimento do RN. Por isso, as manifestações são bastante variadas, podendo ser assintomáticas/oligossintomáticas, ou até mesmo provocar abortos/ óbitos neonatais.
Sífilis congênita precoce
Quando os sinais e sintomas da sífilis congênita surgem após o nascimento, duram até dois anos e representam a infecção da sífilis ativa. Nesse caso, os sinais e sintomas mais característicos são a hidropsia fetal, a rinite sifilítica (serossanguinolenta) e lesões na pele (pênfigo palmoplantar).
E ainda, a sífilis em bebê pode se manifestar através das lesões ósseas como: a osteocondrite nas metáfises, que se manifestará como dor à manipulação, e a periostite em diáfises (hiperrefringentes no Raio X) ou em metáfises (sinal de Weinberg). Essa fragilidade óssea pode provocar a pseudoparalisia de Parrot, em que a criança evita movimentar-se devido a dor óssea devido ao processo inflamatório.
DICA DE PROVA
O bebê demonstrará dor em ossos pelo choro à manipulação dos membros. Nesses casos é importante fazer o diagnóstico diferencial com os tocotraumatismos de plexos nervosos.
No nascimento, pode estar presente o exantema maculopapular com bolhas, sendo mais intenso na palma da mão e na planta dos pés, caracterizando o pênfigo palmoplantar. Além disso, outra manifestação cutânea possível é o Condiloma Plano. Esse último atinge a região oral e perianal.
Além disso, o comprometimento sistêmico pode ser evidenciado através da hepatoesplenomegalia, anemia, trombocitopenia e linfadenopatia generalizada. Ademais, através da presença de outros sinais e sintomas como a meningoencefalite e alterações respiratórias, como a pneumonia.
Sífilis congênita tardia
A sífilis congênita tardia é caracterizada pelo surgimento dos sinais e sintomas após os dois anos de idade. Ocorre quando a infecção pelo T. pallidum é menos virulenta, ou por uma infecção materna de longa duração.
As principais manifestações são a tíbia em “lâmina de sabre”, articulações de Clutton (sinovite bilateral e indolor) e face com fronte “olímpica”. E mais, a sífilis congênita tardia também é caracterizada pelo nariz “em sela”, os dentes de Hutchinson, a perda auditiva sensorial, distúrbios cognitivos, ceratite intersticial.
DICA DE PROVA
Caso a questão traga o termo "Tríade de Hutchinson", interprete como sendo o conjunto das seguintes manifestações: Dentes em Hutchinson, Surdez e Ceratite Intersticial.
Diagnóstico da sífilis congênita
Entre 60 e 90% dos RN com sífilis congênita são assintomáticos ao nascimento. Por isso, para realizar o diagnóstico, é preciso associar critérios clínicos, epidemiológicos e laboratoriais, destacando-se a microscopia de campo escuro e os testes treponêmicos e não treponêmicos.
DICA DE PROVA
O teste de VDRL de sangue periférico é obrigatório para todos os RN em que a mãe teve sífilis na gestação. Se a mãe não foi adequadamente tratada, ainda é necessário realizar hemograma, avaliação de LCR e Raio-X de ossos longos.
Testes treponêmicos
Os testes treponêmicos, apesar de mais específicos para a bactéria, são limitados devido à passagem da IgG materna pela barreira transplacentária. Isso porque, em pacientes com menos de 18 meses de idade, os anticorpos transmitidos da mãe para a criança ainda estão presentes em altos títulos no soro do lactente.
O que torna impossível presumir quando essas imunoglobulinas são exclusivamente maternas, ou quando houve a produção de IgG pelo sistema imunológico da criança devido à infecção pelo T. pallidum. Por isso, o teste treponêmico é indicado para diagnóstico de sífilis congênita apenas após 18 meses de idade, quando as imunoglobulinas maternas desaparecem do soro do lactente.
DICA DE PROVA
Caso a mãe com sífilis tenha sido tratada inadequadamente ou não tratada, consideramos que o RN tem sífilis até que se prove o contrário. Não se esqueça de que, além dos procedimentos médicos com a mãe e bebê, ainda é necessária a realização da notificação ao sistema de saúde.
Tratamento de sífilis congênita
O antibiótico de escolha é a benzilpenicilina (cristalina, procaína ou benzatina).
Crianças assintomáticas
Para crianças assintomáticas - com exame físico normal, sem alterações em exames e com teste não treponêmico não reagente - a droga de escolha é a benzilpenicilina benzatina, em dose única, via intramuscular.
Criança sintomática e/ou com neurossífilis
Para crianças com neurossífilis, a penicilina cristalina é a droga de escolha, e a internação hospitalar é obrigatória. Quando é sintomática e não apresenta a neurossífilis, pode ser tratada com a benzilpenicilina procaína, em regime ambulatorial, ou com a benzilpenicilina cristalina, em regime hospitalar.
Conclusão
Em conclusão, a Sífilis Congênita é uma doença grave que pode afetar a saúde e o desenvolvimento de bebês e crianças. É causada pela transmissão da bactéria Treponema pallidum da mãe infectada para o feto durante a gestação. A prevenção, o diagnóstico precoce e o tratamento imediato são fundamentais para garantir o melhor prognóstico e a qualidade de vida das crianças afetadas.
Vamos ver como ocorre NA PRÁTICA? Abaixo estão links de questões explicadas sobre SÍFILIS CONGÊNITA:
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FONTES:
- BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Protocolo clínico e diretrizes terapêuticas para prevenção da transmissão vertical de HIV, sífilis e hepatites virais. Brasília, DF, 2019.
- BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Guia de Vigilância em Saúde. Brasília, 2019.
- BURNS, D. A. R. et al. Tratado Brasileiro de Pediatria: Sociedade Brasileira de Pediatria. Barueri,4. ed. –Barueri: Manole, 2017.
- Boletim Epidemiológico de Sífilis - Número Especial | Out. 2022 — Ministério da Saúde