A residência médica em Cirurgia Geral sempre está entre as 5 mais procuradas de todas as áreas, geralmente ficando atrás de Clínica Médica e, a variar de ano a ano, empatando com Pediatria. Na última pesquisa realizada pela Demografia Médica no Brasil, ela correspondeu ao destino de 8,4% dos médicos que ingressaram na residência médica, ficando em 3º lugar.
Recentemente, essa residência passou por uma reformulação importante. Com proposta aprovada em 2016 implementada de fato em 2018, criou-se a residência em Cirurgia Básica, enquanto a Cirurgia Geral deixou de durar 2 anos para durar 3. Falaremos mais a respeito dessa reformulação – junto com os novos conceitos da Cirurgia Geral, rotina e remuneração do profissional – ao longo do texto.
O que é a Cirurgia Geral?
A Cirurgia Geral é a área básica da medicina cirúrgica. Nela, seus profissionais aprendem a operar diversas partes do corpo humano. Também por isso a especialidade é pré-requisito para qualquer subespecialidade cirúrgica e, por isso, sempre tem uma das maiores concorrência entre todas as especialidades médicas.
Nessa área é necessário, além de, claro, dominar diferentes técnicas cirúrgicas, entender quando é necessário indicar ou não uma cirurgia e, acima de tudo, ser capaz de tratar as complicações. Para entender mais da residência e rotina desse profissional, veja nossa entrevista com o Dr. Amyr Kelner, Cirurgião pelo HSE-PE:
Quais as características de um bom cirurgião geral?
Se você está em dúvida entre qual especialidade escolher e está pensando na Cirurgia Geral, algumas características podem ser um norteador para te ajudar a tomar essa decisão. Primeiramente, é meio óbvio, mas sempre importante lembrar: é fundamental amar fazer cirurgias e estar no centro cirúrgico.
Mesmo que você escolha uma subespecialização mais calma, como a Cirurgia Plástica, boa parte do seu tempo ainda será no centro cirúrgico. Por isso, gostar de fazer cirurgias é um pré-requisito básico da especialidade. Ter um bom jogo de cintura, saber lidar com imprevistos e manejar falta de recursos também são características interessantes a se ter, afinal, numa cirurgia tudo pode se desenrolar.
Qual o perfil da Cirurgia Geral atualmente no Brasil?
A pesquisa Demografia Médica 2023, produzida pela Associação Médica Brasileira, junto com a Universidade São Paulo, trouxe dados que ajudam a desenhar o perfil atual da Cirurgia Geral no Brasil. Segundo a pesquisa, o país conta atualmente com 41.547, cirurgiões gerais no país.
Quanto ao perfil desses profissionais, a Cirurgia Geral é uma área predominantemente masculina: 76,6% dos especialistas são homens e 23,4% de mulheres. A idade média desses profissionais é de 46 anos. A maior parte deles reside em capitais na região sudeste do país, confira abaixo a distribuição geográfica atualmente.
Por região do país:
- 50,3% dos formados em Cirurgia Geral residem no Sudeste;
- 18,4% no Nordeste;
- 17,3 no Sul
- 9,7% no Centro-Oeste;
- E 4,3% na região Norte.
Já a divisão por tipo de município atualmente é dessa forma:
- 57,2% desses profissionais residem em alguma capital brasileira;
- 36,8% em cidades do interior;
- E 6,0 na região metropolitana.
Como é a residência médica em Cirurgia Geral?
O residente de Cirurgia Geral passará por plantões na emergência, plantões de sobreaviso – geralmente quando ele já está em seus anos finais – por atendimentos ambulatoriais, por cirurgias emergenciais e eletivas. Todas essas etapas são divididas entre os 3 anos da residência, onde a complexidade dos procedimentos que ele pode realizar vai ficando gradativamente maior.
A residência médica em Cirurgia Geral é uma das mais pesadas em relação ao cumprimento de horários. Por lei, nenhuma residência deveria exceder 60 horas semanais, mas na prática todos que trabalham em um hospital sabem que não é assim. E a residência em Cirurgia é uma das que mais cobra de seus médicos. Não se pode prever exatamente quanto tempo uma cirurgia durará, se haverá ou não complicações etc.
De forma geral, os seus três anos da residência se dividem dessa forma:
R1 (Primeiro ano)
Durante esse primeiro ano, o foco da residência médica em Cirurgia Geral será em consultas eletivas e avaliações pré-operatórias no ambulatório; internação e acompanhamento de pacientes cirúrgicos na enfermaria; auxílio aos R2 e R3 em cirurgias eletivas e plantões na emergência.
Nesses plantões, o foco do R1 será a identificação do abdome agudo, do escroto agudo, de politraumatizados e queimados. De forma geral, o residente passa 3 meses em cada um desses estágios obrigatórios: coloproctologia, urologia, cirurgia torácica e cirurgia vascular.
R2 (Segundo ano)
Como R2, o médico residente em Cirurgia Geral já começa a supervisionar seus R1. Ele passará menos tempo no ambulatório e na enfermaria, e mais tempo dentro do centro cirúrgico. Já poderá realizar cirurgias mais simples sem a supervisão de outros residentes – mas sempre com um preceptor por perto.
Na enfermaria, realizará o diagnóstico e tratamento de complicações pós-operatórias e a estabilização de pacientes cirúrgicos. Continuará na emergência dando plantões e orientando os R1.
R3 (Terceiro ano)
No último ano da residência da , o R3 de Cirurgia Geral supervisionará os R2 e R3 no ambulatório e na enfermaria. Ele passará a maior parte do seu tempo no centro cirúrgico, operando.
Ainda realizará plantões na emergência, supervisionando seus R2 e R1. Você pode saber mais sobre a grade curricular da residência médica em Cirurgia Geral através deste documento publicado no site do Colégio Brasileiro de Cirurgiões.
O que estudar para ser um residente em Cirurgia Geral?
A residência médica em Cirurgia Geral é sempre uma das mais concorridas entre os principais editais no país: na última edição do SUS-SP a área teve mais de 17 candidatos por vaga, enquanto no ENARE a concorrência foi de mais de 24 candidatos por vaga. Por isso, para ser aprovado nessa especialidade ter uma boa preparação é fundamental.
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Como funciona a rotina profissional?
De forma geral, independente do caminho que o cirurgião decida seguir a sua rotina profissional vai ser predominantemente preenchida por tempo fazendo cirurgia e no pré e pós-cirúrgico.
Além disso, tudo vai variar a depender do caminho escolhido pelo profissional: a escolha mais comum é trabalhar em grandes hospitais, já que esses contam com bons blocos cirúrgicos e sempre têm vagas. Também é possível abrir seu próprio consultório e se dedicar a fazer pequenas cirurgias não emergenciais, tendo uma rotina mais tranquila.
Mercado de trabalho e salário
O mercado brasileiro sempre foi altamente receptivo a profissionais da área médica, e com a cirurgia não é diferente. São, aliás, os profissionais mais bem remunerados dentro de todas as especialidades, de forma geral. Grandes centros costumam pagar melhor, pois têm mais pacientes. Um movimento curioso tem acontecido na última década, entretanto: locais remotos com falta desses profissionais andam tentando atraí-los oferecendo altos salários.
Falando em números, segundo o site Salário.com que reuniu dados do CAGED, eSocial e Empregador Web no período de Novembro de 2022 a Novembro de 2023, a renda média de um cirurgião geral é de R$7.120,75 para 19h de trabalho. Vale ressaltar que esses profissionais costumam pegar jornadas bem maiores e que a renda pode subir muito a depender da localização e se possui subespecialidades.
Falando em especializações, a Cirurgia Geral possui muitas subespecialidades e, com o passar do tempo, elas só vêm aumentando em número. Algumas das mais conhecidas e ofertadas pela maioria dos serviços – bem como áreas em que o residente passa em rotação durante a residência, para conhecer melhor – são:
- Cirurgia Geral – Programa Avançado;
- Cancerologia Cirúrgica;
- Cirurgia Cardiovascular;
- Cirurgia da Mão;
- Cirurgia de Cabeça e Pescoço;
- Cirurgia do Aparelho Digestivo;
- Cirurgia Pediátrica;
- Cirurgia Plástica;
- Cirurgia Torácica;
- Cirurgia Vascular;
- Coloproctologia;
- Endoscopia;
- Urologia;
- Mastologia.
Para entender mais sobre as possibilidades de subespecialização nesta área, confira: Subespecialidades Cirúrgicas: o que são e quanto ganham.
Conclusão
Dentro da medicina, talvez uma das carreiras que mais traga prestígio pessoal seja a da cirurgia. Porém, não se deixe levar por ele.
Se você não é apaixonado por essa área, não embarque nela por qualquer outra razão. A dificuldade dos procedimentos, os horários pesados, a pressão envolvida, o tempo de formação. Tudo isso só valerá a pena se você realmente se interessa por cirurgia e se sente realizado dentro de um centro cirúrgico.
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