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Publicado em
4/6/23

Reanimação Neonatal: Passos, técnicas, avaliação e riscos

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Reanimação Neonatal: Passos, técnicas, avaliação e riscos

A reanimação neonatal é um importante assunto cobrado nas provas de residência, além de muito importante na prática médica.  De acordo com pesquisa realizada pela Unicef em 2018, estima-se que 2,5 milhões de recém-nascidos morram anualmente no mundo, o que corresponde a cerca de 7.000 mortes ao dia – sendo a morte neonatal responsável por aproximadamente 47% dos óbitos de crianças abaixo de 5 anos de idade. Dentre as causas de morte neonatal, a asfixia perinatal é a mais prevalente, contribuindo com cerca de 30 a 35% dos casos

Neste post iremos abordar os passos para reanimação neonatal, mostrando aquilo que é mais cobrado nas provas de residência!

Fatores de risco para a morte neonatal

O pré-natal é uma forma de diminuir o risco de morte neonatal. Foto: Reprodução/ShutterStock
O pré-natal é uma forma de diminuir o risco de morte neonatal. Foto: Reprodução/ShutterStock

Ao nascer, 1 em cada 10 RN’s necessita de ajuda médica para iniciar o processo de respiração, sendo 1 em cada 100 necessitando de intubação orotraqueal e 1 em cada 1000 precisa de intubação orotraqueal acompanhada de compressões torácicas e/ou medicamentos vasoativos. Todos esses procedimentos são descritos como reanimação neonatal.

O sucesso do parto depende, principalmente, das mudanças que ocorrem no período perinatal – além de fatores como medidas de prevenção primárias, como o acompanhamento da saúde materna ao longo da gestação. O médico precisa reconhecer situações de risco perinatal e saber conduzir numa possível necessidade de reanimação neonatal imediatamente e tratar complicações no processo de asfixia do RN.

Quais os fatores de risco para a necessidade de reanimação neonatal?

O padrão respiratório e a frequência cardíaca são fatores que ditam a reanimação neonatal. Foto: Reprodução/ ShutterStock
O padrão respiratório e a frequência cardíaca são fatores que ditam a reanimação neonatal. Foto: Reprodução/ ShutterStock

Problemas pré-natais e problemas no trabalho de parto e parto

Problemas pré-natais Problemas no trabalho de parto e durante o parto
Assistência pré-natal ausente Trabalho de parto prematuro
Idade materna menor que 16 anos ou maior que 35 anos Rotura de membranas superior a 18 horas
Hipertensão na gestação Corioamnionite
Diabetes Trabalho de parto maior do que24 horas
Doenças maternas Período expulsivo superior a 2 horas
Órbito fetal ou neonatal prévio Bradicardia fetal
Aloimunização ou anemia fetal Anestesia geral
Hidropsia fetal Deslocamento prematuro de placenta
Infecção materna Placenta prévia
Polidrâmnio ou oligoâmnio Prolapso ou rotura de cordão
Amniorrexe prematura Nó verdadeiro de cordão
Gestação múltipla Hipertonia uterina
Crescimento intrauterino restrito Uso de opioides 4 horas anteriores ao parto
Malformação fetal Sangramento intraparto signifcante
Uso deálcool, tabaco ou drogas Uso de fórcipe ou extração a vácuo
Diminuição da atividade fetal Parto taquitócico
Fonte: Sociedade Brasileira de Pediatria 

Fatores antenatais e relacionados ao parto 

Fatores Antenatais
Idade menor que 16 anos ou maior que 35 anos Idade gestacional menor que 39 anos ou maior que 41 anos
Diabetes Gestação múltipla
Síndromes hipertensivas Rotura prematura das membranas
Doenças maternas Polidrâmio ou oligoâmio
Infecção materna Diminuição da atividade fetal
Aloimunização ou anemia fetal Sangramento no 2º ou 3º trimestre
Uso de medicações Discrepância de idade gestacional e peso
Uso de drogas ilícitas Hidropsia fetal
Órbito fetal ou neonatal anterior Malformação fetal
Ausência de cuidado pré-natal
Fatores Relacionados ao Parto
Parto cesáreo Padrão anormal de frequência cardíaca fetal
Uso de fórcipe ou extração a vácuo Anestesia geral
Apresentação não cefálica Hipertonia uterina
Trabalho de parto prematuro Líquido amniótico meconial
Parto taquitócico Prolápso ou rotura de cordão
Corioamnionite Nó verdadeiro de cordão
Rotura de membrana maior que 18 horas Uso de opioides 4 horas antes ao parto
Trabalho de parto maior que 24 horas Deslocamento prematuro da placenta
Segundo estágio do parto maior que 24 horas Placenta prévia
Fonte: Sociedade Brasileira de Pediatria 

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Fisiologia da reanimação neonatal

O oxigênio utilizado pelo feto durante a gestação chega a ele através da placenta – e seus alvéolos encontram-se preenchidos por líquido. Os vasos que perfundem os pulmões estão em vasoconstrição, o que leva a uma resistência vascular pulmonar aumentada.

Ademais, o sangue que flui da artéria pulmonar para os pulmões é desviado para a aorta via canal arterial. Quando ocorre o nascimento, durante os primeiros movimentos respiratórios esse líquido alveolar é absorvido e substituído por ar, ocasionando aumento do oxigênio nos alvéolos e relaxamento dos vasos sanguíneos pulmonares – que provoca a redução da resistência vascular pulmonar.

A elevação da PaO2 de 25 mmHg durante a gestação para 70-80 mmHg após o nascimento está associada a:

  • Redução na resistência vascular pulmonar;
  • Diminuição do shunt direita-esquerda através do canal arterial;
  • Aumento do retorno venoso para o átrio esquerdo;
  • Aumento na pressão do átrio esquerdo;
  • Cessação do shunt direita-esquerda pelo forame oval.

Quando os vasos umbilicais são clampeados, a pressão sanguínea sistêmica aumenta. O fechamento do canal arterial leva à passagem do sangue pelos pulmões e a sua consequente oxigenação. Aqui, a função do médico é estar preparado para intervir nos casos em que essa transição não ocorre de forma adequada, sendo necessária a reanimação neonatal.

Quando saber qual RN necessita de reanimação?

Para avaliar a necessidade de reanimação, três pontos devem ser avaliados: o RN é termo? Está respirando? O tônus é bom? 

Se a resposta for não para alguma dessas perguntas, o clampeamento deve ser feito de imediato e o RN direcionado para a mesa para iniciar os passos da reanimação, que seguem um fluxograma.

Dica prova

A reanimação depende do padrão respiratório e da frequência cardíaca. A questão pode tentar te induzir a pensar que o Apgar, cianose ou a frequência respiratória são importantes, cuidado para não se confundir!

Passos iniciais

Os passos iniciais do atendimento que devem ser feitos em 30 segundos são:

  1. Prover calor (se <34 semanas usar saco plástico para evitar hipotermia);
  2. Posicionar a cabeça em leve extensão;
  3. Aspirar, se necessário (se mecônio);
  4. Secar.

Dica de prova

O mnemônico “PPAS” nos ajuda a lembrar os 4 passos iniciais.

Ventilação com Pressão Positiva

Após os passos iniciais, deve-se avaliar frequência cardíaca (FC). Se o paciente apresentar apneia ou FC < 100 bpm inicia-se então a ventilação com pressão positiva (VPP). No RN termo, a FiO2 deve ser de 21% (ar ambiente) inicialmente, podendo ser aumentado de 20% em 20%, enquanto os recém-nascidos menores de 34 semanas já iniciam o oxigênio. Coloca-se os eletrodos do monitor cardíaco e o sensor neonatal do oxímetro de pulso.

Se o paciente for menor de  34 semanas, prefere-se usar o ventilador mecânico em T. Se o ventilador não estiver  disponível  ou o paciente tiver mais de 34 semanas utiliza-se o balão auto-inflável (ambu). É importante ventilar em frequência de 40 a 60 ventilações por minuto. Além disso, deve ser feito 30 segundos de VPP eficaz

Dica de prova

Os passos iniciais (PPAS) junto com a VPP são o chamado “minuto-de-ouro”.

Compressões torácicas 

Se a FC estiver menor do que 60 bpm após 30 segundos de VPP eficaz, deve-se iniciar as compressões torácicas, com simultânea preparação dos fármacos. As compressões devem ser feitas no esterno, numa proporção de 3 a cada ventilação. Nesse momento deve ser realizada a intubação orotraqueal. Vale salientar que, menos de 1% dos recém-nascidos necessitam chegar a esse passo.

Fármacos

Se a FC se mantiver menor do que 60 bpm após as compressões torácicas e ventilação com pressão positiva for eficaz e com FiO2 de 100% será necessário o uso de fármacos. Para isso, utiliza-se adrenalina por via de cateter venoso umbilical. Se não houver resposta após uma dose de adrenalina e houver suspeita de hipovolemia, deve ser administrado expansor de volume, como soro fisiológico e ringer lactato.

Essa sequência de VPP com compressões torácicas e administração de fármacos pode ser repetida por até 10 minutos. Se ainda persistir a ausência de batimentos cardíacos, deve ser considerada a suspensão das manobras de reanimação neonatal.

Dica de prova

O fluxograma da reanimação neonatal deve SEMPRE ser seguido, a questão pode querer induzir você a pensar logo na massagem cardíaca, mas antes dela deve SEMPRE ser feito os outros passos. Veja a seguir:

Fluxograma de reanimação neonatal. Fonte: UFC; link da fonte: https://slideplayer.com.br/amp/17896476/
Fluxograma de reanimação neonatal. Fonte: UFC

Conclusão

A reanimação neonatal é um dos principais temas cobrados nas provas de residência na subárea da Pediatria, sendo de grande importância o entendimento e seguimento do fluxograma, iniciando com os passos iniciais, evoluindo, se necessário, com VPP, compressões torácicas e, em último caso, fármacos.

Vamos ver uma questão NA PRÁTICA? Abaixo está o link de uma questão explicada pela Drª. Tarciana Mendonça sobre reanimação neonatal:

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FONTE: