A puberdade precoce é um fenômeno de desordem da maturação sexual nas crianças, que pode ocorrer por causas idiopáticas ou por doenças. Essa é uma das principais temáticas da endocrinologia pediátrica, frequentemente sendo abordada em questões de prova de residência médica. Vamos entender seus subtipos e abordagens clínicas?
O que é a puberdade precoce?
A puberdade precoce é um fenômeno em que o desenvolvimento sexual ocorre antes do esperado nas crianças. Isso envolve o surgimento prematuro de características sexuais secundárias, crescimento linear e maturação óssea antes dos limites de idade considerados normais para o início da puberdade. Geralmente, é desencadeado pela ativação precoce do eixo hormonal que controla a puberdade, resultando em maturação sexual prematura.
Os critérios de idade comumente usados para delimitar a o desenvolvimento puberal prematuro são baseados em sexo e raça: antes dos 8 anos em meninas e antes dos 9 anos em meninos, porém também considerado antes de 6 anos em meninas negras e antes dos 7 anos em meninas caucasianas.
DICA DE PROVA
Ambos os sexos têm, fisiologicamente, uma janela de 5 anos para início da puberdade, ou seja, meninas devem iniciar entre 8 e 13, e os meninos entre 9 e 14. Antes disso é considerada Puberdade Precoce e, após isso, Puberdade Tardia. Epidemiologicamente, meninas têm maior tendência à precocidade e meninos ao atraso da maturação sexual.
Causas da puberdade precoce
A causa da Puberdade precoce varia de acordo com o seu subtipo. A puberdade precoce central retrata a ativação precoce do eixo hormonal responsável pelo controle da puberdade. Esta ativação é idiopática na maioria dos casos, porém, pode ocorrer devido a causas secundárias, como: neurofibromatose tipo 1, glioma óptico, hidrocefalia, hamartoma hipotalâmico, esclerose tuberosa, Síndrome de Sturge-Weber, por alterações genéticas, entre outras.
A etiologia da Puberdade precoce periférica varia de acordo com o sexo do paciente. Assim, as causas mais frequentes nas meninas são: tumores secretores de estrogênio, cistos ovarianos, exposição exógena (como em medicamentos, alimentos e cosméticos), entre outros. Já nos meninos, são: mutação do gene codificador do LH, tumor de células de Leydig, tumor secretor de HCG, hepatoblastoma e tumor adrenal secretor de androgênio.
Sinais e sintomas da puberdade precoce
Sexo feminino
O primeiro sinal é geralmente o aumento dos seios. Pelos pubianos e axilares podem aparecer antes, durante ou depois da telarca. O odor axilar geralmente começa ao mesmo tempo em que os pelos pubianos surgem. A menarca é um evento tardio e geralmente não ocorre de 2 a 3 anos após o início do aumento das mamas. O estirão de crescimento puberal ocorre cedo na puberdade feminina e geralmente é evidente no momento da avaliação inicial.
Durante o exame físico, o sinal mais confiável de aumento da produção de estrogênio é a telarca. Inicialmente, o crescimento dos seios pode ser unilateral ou assimétrico. Gradualmente, o diâmetro do seio aumenta, a auréola escurece e engrossa, e o mamilo se torna mais proeminente. Distinguir o tecido mamário glandular da gordura, que pode imitar o verdadeiro tecido mamário, é essencial.
O exame genital pode ou não revelar pelos pubianos, mas deve-se atentar ao aumento do clitóris, que indica um excesso significativo de andrógenos. A mucosa vaginal, que tem uma cor vermelho-escuro em meninas pré-púberes, adquire uma aparência rósea úmida à medida que a exposição ao estrogênio aumenta. O início rápido de acne severa deve aumentar a suspeita de um distúrbio de excesso de andrógenos.
Veja também:
- Saiba como é a residência médica em Pediatria na UPE
- Residência em Pediatria: O que é, e mercado de trabalho
- Fellowship em medicina: o que é e qual a diferença para a residência médica?
Sexo masculino
O primeiro sinal de precocidade é o aumento dos testículos, um achado sutil que frequentemente passa despercebido pelos pacientes e pais. O crescimento do pênis e do escroto normalmente ocorre pelo menos um ano após o aumento testicular. O estirão de crescimento puberal acontece mais tarde na puberdade masculina do que na feminina, mas geralmente ocorre até o momento em que outras mudanças físicas são notadas.
Ao exame físico, o primeiro sinal perceptível é o aumento dos testículos, de acordo com o valor do Orquidômetro de Prader superior a 2,5 cm ou maior que 4 ml. Se os sinais progressivos de excesso de andrógenos ocorrerem em um menino sem aumento do tamanho testicular, há a possibilidade de pseudo-puberdade precoce, como hiperplasia adrenal congênita, puberdade precoce masculina familiar e tumores de células de Leydig.
Outros sinais de puberdade, como crescimento do pênis, avermelhamento e afinamento do saco escrotal e aumento de pelos pubianos, são consequência do aumento da produção de testosterona e ocorrem dentro de 1 a 2 anos após o aumento dos testículos. Sinais posteriores de puberdade incluem o estirão de crescimento puberal, acne, mudança vocal e pelos faciais.
Para ambos os sexos, as alterações no exame físico e o surgimento dos caracteres sexuais secundários são graduados pela Escala de Tanner, também conhecida como a Escala de Maturação Sexual. Ela estuda o crescimento genital, dos pelos pubianos, e do volume testicular e peniano (nos meninos) e mamário (nas meninas).
Como é feito o diagnóstico?
Geral
A abordagem diagnóstica começa com a diferenciação entre Puberdade Precoce Central (CPP) e pseudopuberdade precoce. Estudos laboratoriais são necessários para essa avaliação. Nos meninos, a medição da testosterona é útil, sendo os estágios da puberdade indicados pelos níveis séricos. Para meninas, os níveis de estradiol são menos confiáveis, mas níveis superiores a 20 pg/mL geralmente indicam puberdade.
O exame de adrenais e andrógenos também é realizado em casos de adrenarca precoce, sendo as gonadotrofinas testadas. O LH com níveis de 0,3 IU/L ou mais indicando o quadro. Outros testes, como 17-hidroxiprogesterona e hormônio anti-Mülleriano, também auxiliam na diferenciação de formas de CPP.
Estudos de imagem, como radiografias para determinar a idade óssea e ressonâncias magnéticas cerebrais são considerados em determinados cenários clínicos para avaliar possíveis tumores ou anormalidades. A ultrassonografia pélvica é crucial para meninas com suspeita de pseudopuberdade precoce para identificar possíveis tumores ovarianos ou cistos.
Sexo Feminino
Na diferenciação entre puberdade precoce central, periférica e telarca precoce isolada, é necessário a interpretação de parâmetros laboratoriais junto aos achados clínicos. Veja a seguir os elementos envolvidos nessa diferenciação:
Sexo Masculino
Assim como nas meninas, a diferenciação entre puberdade precoce central periférica é necessária para a interpretação de parâmetros laboratoriais junto aos achados clínicos. Veja a seguir os elementos envolvidos nessa diferenciação:
Tratamento para a puberdade precoce
No tratamento da puberdade precoce central (CPP), os análogos do hormônio liberador de gonadotrofina (GnRH) são a principal alternativa terapêutica. A utilização prolongada desses análogos parece ser eficaz na desaceleração do eixo hipotálamo-hipófise-gônada. Quando a CPP é causada por tumores no sistema nervoso central, opta-se por remoção cirúrgica e o manejo depende dos resultados da biópsia, frequentemente envolvendo radioterapia ou quimioterapia.
Para a puberdade precoce periférica, o foco está em tratar a doença ou a causa subjacente. Nas variantes benignas da puberdade precoce, não é necessário intervenção, visto que são condições autolimitadas. Porém, ainda é necessário um acompanhamento com o endocrinologista pediátrico para avaliar o posterior desenvolvimento de caracteres secundários.
Conclusão
A puberdade precoce é um processo em que o desenvolvimento sexual se inicia antes do esperado em crianças. Com subtipos distintos, como a Puberdade Precoce Central e Periférica, além de variantes benignas, o diagnóstico é realizado por avaliações clínicas, laboratoriais e de imagem. O tratamento direcionado depende do tipo de puberdade precoce identificada, com enfoque em terapias medicamentosas ou resolução das causas subjacentes.
Vamos revisar os conceitos de uma maneira direcionada para as provas de residência? Aqui está uma videoaula sobre PUBERDADE PRECOCE!
Estudando para a residência médica?
A Puberdade Precoce é uma temática bastante recorrente entre os processos seletivos, sendo de extremo interesse para quem está se preparando para a residência médica em Pediatria, que figura entre as 5 mais concorridas. Então, se você quer se tornar um pediatra, saiba que a área é de acesso direto e possui três anos de duração. Para mais detalhes sobre a rotina da residência, mercado de trabalho e como alcançar a sua tão sonhada aprovação, veja o nosso texto falando sobre a rotina da residência médica em Pediatria.
Leia mais:
- Síndrome de Turner: o que é, quais as principais características e como tratar
- TDAH: Tratamento, Sintomas, Sinais e Possíveis Causas
- Síndrome de Down: o que é, o que causa e como tratar
- Síndrome do bebê sacudido: o que é, quais as consequências e como tratar
- Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica
FONTES: