Estudo mostra a utilização da pele de tilápia em vaginoplastias e cirurgias para redesignação sexual
A tilápia, um peixe de água doce, é muito utilizada com finalidades médicas, sobretudo, no tratamento de queimaduras. Mas estudos realizados na Universidade Federal do Ceará (UFC) inovaram, e, na área ginecológica, utilizaram a pele para realizar vaginoplastias e cirurgias de redesignação sexual. Resultados preliminares não mostraram nenhuma rejeição por parte dos pacientes e não houve nenhum prejuízo na sensibilidade do novo canal vaginal, quando comparada a eficácia dos métodos cirúrgicos já empregados para esse fim.
A técnica da vaginoplastia com pele humana é a mesma usada na cirurgia com a pele de tilápia. Para garantir a segurança do processo, evitando qualquer risco de contaminação e rejeição, o material biológico passa por um rigoroso processo de limpeza, descontaminação, radioesterelização e liofilização (desidratação por sublimação). Além disso, também são feitos testes histológicos, microbiológicos e de toxicidade celular.
A equipe de cientistas, liderada pelo Dr. Leonardo Bezerra, cirurgião ginecologista e professor-adjunto da UFC, realizou o procedimento com sucesso em 18 pacientes. A maioria delas tinha agenesia vaginal (condição congênita caracterizada pela ausência no desenvolvimento do canal vaginal), causada por uma rara doença congênita chamada Síndrome de Mayer-Rokitansky-Kuster-Hauser (MRKH). A cirurgia também foi realizada em uma mulher com sequelas do tratamento de câncer (estenose causada pela radiação) e na reconstrução vaginal de uma outra, cujo processo de redesignação foi mal-sucedido.
O material biológico ainda não tem autorização do estado do Ceará para ser empregado na redesignação sexual das mulheres trans e travestis, mas já faz parte desses tipos de procedimentos cirúrgicos na Colômbia. O resultado é uma vagina com profundidade, estética adequada e sensibilidade. Voltando aqui para o Brasil, atualmente, o processo de readequação de sexo e gênero é feito com a técnica da inversão peniana.
Com isso, a pele da haste peniana e do saco escrotal é utilizada para revestir a neovagina. E mais, a lubrificação vaginal pode ser criada a partir de um segmento da uretra. Quando não há pele peniana suficiente, se opta pela vaginoplastia intestinal, na qual são retirados de 15 a 20 cm do íleo ou do colo sigmóide para revestir o canal vaginal. Ao contrário dessas, a cirurgia realizada com a pele de tilápia tem a proposta de ser minimamente invasiva. Sendo mais rápida e mais simples - com 30 minutos de duração - assim como sua recuperação.
O procedimento cirúrgico consiste em colocar a pele num molde para proliferação e crescimento celular. Assim, entre 4 e 6 semanas ela é transformada em epitélio estratificado. Isso porque, as avaliações histológicas e histoquímicas do órgão do peixe e do epitélio da vagina são semelhantes. Diante disso, avaliando as pacientes, percebeu-se que elas tiveram atividade sexual com lubrificação e a sensação da penetração foi parecida com a percepção do epitélio vaginal desenvolvido biologicamente.
As outras técnicas têm uma duração maior por obter tecido de outros órgãos. Desse modo, o tempo de internação e a morbidade também aumentam. Para além disso, as cicatrizes geradas, normalmente, apresentam problemas. Por fim, as análises mostram inúmeras vantagens na utilização do epitélio da pele do peixe: a produção de mucosa e lubrificação natural; a não limitação na quantidade de pele, podendo ser moldada conforme a anatomia do paciente. E mais, não existe risco de contaminação cruzada com a microbiota humana e há menos infecção vaginal. A expectativa é de que o órgão da tilápia se transforme em epitélio vaginal, mas ainda não existem evidências de que isso ocorra.
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