A dengue é uma arbovirose típica de regiões tropicais, de grande prevalência no Brasil. Ela gera uma doença febril causada pelo arbovírus da dengue (DENV), transmitido pela picada da fêmea infectada do mosquito Aedes aegypti. Pode gerar um quadro potencialmente grave, por isso, a busca por uma vacina é de grande interesse mundial.
O que é a nova vacina contra a dengue?
A Anvisa aprovou em março de 2023 a aplicação no Brasil de uma nova vacina que previne a dengue, a chamada Qdenga (TAK -003), do laboratório japonês Takeda. É um imunizante composto por 4 sorotipos do vírus da dengue (DENV-1, 2, 3 e 4), na forma atenuada.
Será aplicada num esquema de 2 doses, subcutânea, com intervalo de 3 meses entre elas. Inicialmente, deve estar disponível em clínicas particulares a partir do dia 1° de julho, variando de 300 e 500 reais, a depender do estado. Ainda não há previsão de quando esse imunizante vai estar disponível no SUS.
Os estudos clínicos mostram que tem eficácia de 80,2% e o período de proteção é de 12 meses após o recebimento das duas doses. Individualmente, a eficácia variou de acordo com o sorotipo do vírus. Ela foi maior para o DENV-1 (69,8%) e o DENV-2 (95,1%) e menor para o DENV-3 (48,9%).
Não foram observados casos suficientes de DENV-4 para estabelecer um resultado de eficácia significativo. Em relação aos efeitos colaterais, os mais relatados foram dor e vermelhidão no local da aplicação, cefaléia, mialgia, mal-estar, astenia e febre.
Quem pode tomar a nova vacina da dengue?
A vacina da dengue pode ser aplicada em pessoas de 4 a 60 anos de idade, podendo ser utilizada preventivamente em quem não teve ou quem já teve dengue.
O que diferencia essa do outro imuizante anteriormente disponível no Brasil, a Dengyaxia, do laboratório Sanofi Pasteur, é que essa era apenas utilizada em quem já contraiu algum sorotipo da doença, com objetivo de proteger contra uma nova infecção, que costuma ser mais grave do que a primeira. Já esse novo produto atinge um público maior, podendo ser aplicada em quem nunca teve a doença.
Quais os sinais e sintomas da dengue?
Normalmente, a primeira manifestação é febre alta, de início abrupto, que dura 2 a 7 dias, acompanhada de cefaléia, mialgia, artralgia, fraqueza, dor retro orbitária e exantema. Pode variar de quadro leve a quadro grave, que se apresenta com sinais de alerta.
Os sinais de alerta são: dor abdominal intensa e contínua, vômitos persistentes, acúmulo de líquido (derrame pleural, derrame pericárdico, ascite), hipotensão postural e/ou lipotimia. Além de letargia e/ou irritabilidade, hepatomegalia maior que 2 cm abaixo do rebordo costal, sangramento de mucosa e aumento de hematócrito.
Essa fase crítica inicia-se com declínio da febre, com o aumento da permeabilidade capilar, surgem os sinais de alerta, podendo evoluir para um caso grave. Os casos graves de dengue são caracterizados por sangramento, disfunções de órgãos ou extravasamento de plasma, podendo evoluir para choque se um volume crítico de plasma é perdido. Gestantes, crianças e pessoas mais velhas (acima de 60 anos) têm maiores riscos de evoluir para um caso grave.
Diagnóstico da dengue
O diagnóstico da dengue pode ser feito por métodos diretos, como pesquisa de vírus ou pesquisa de genoma do vírus por RT-PCR, ou por métodos indiretos, como por meio de pesquisa de anticorpos IgM por ELISA. As alterações laboratoriais incluem aumento do hematócrito, plaquetopenia e queda da albumina. A prova do laço é comumente positiva.
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Tratamentos para a dengue
O tratamento da dengue consiste em reposição volêmica, levando em consideração o estadiamento da doença (grupo A, B, C, D).
Grupo A
No grupo A, a conduta se resume apenas ao uso de sintomáticos (paracetamol e/ou dipirona) e hidratação oral. Não deve utilizar salicilatos ou anti-inflamatórios não esteroides. A hidratação oral deve ser 1/3 na forma de soro e 2/3 com líquidos caseiros, por 24 a 48 horas após término da fase febril.
Grupo B
Para o grupo B, deve-se seguir a conduta do grupo A até sair os resultados de exames laboratoriais. Após os resultados, aqueles pacientes com hematócrito normal devem seguir com tratamento do grupo A. Aqueles com hematócrito aumentado ou que surgirem sinais de alarme, seguir protocolo do grupo C.
Grupo C
Os pacientes do grupo C são aqueles com sinais de alarme. Eles já devem ser internados, assim como aqueles do grupo D. Deve-se iniciar reposição volêmica imediata, com vigilância dos sinais vitais e diurese. O paciente receberá reposição volêmica endovenosa com soro fisiológico na dose 20mL/kg nas primeiras 2 horas (fase de expansão).
Caso não haja melhora do hematócrito, repetir a expansão por até 3 vezes. Se houver melhora clínica, fazer a reposição volêmica com 25mL/kg de soro fisiológico por 6 horas. Depois, seguir com uma solução de 1/3 de soro fisiológico com 2/3 de soro glicosado na dose 25mL/kg em 8 horas (fase de manutenção).
Caso haja piora, com aumento do hematócrito, realizar o tratamento com expansores plasmáticos: 0,5 a 1g/kg de albumina ou solução de albumina a 5% (a cada 100mL de solução, utilizar 25 mL de albumina a 20% e 75 mL de soro fisiológico a 0,9%).
Em caso de melhora, com queda do hematócrito e resolução do choque, mas com a persistência de sinais de desconforto respiratório e insuficiência cardíaca, é indicado o uso da furosemida na dose 0,5mg/kg/dose, 3 a 4 vezes ao dia, via endovenosa. O paciente também pode fazer uso de inotrópicos como a Dopamina, na dose de 5 a 10 mcg/kg/min; Dobutamina, na dose de 5 a 20mcg/kg/min; e Milrinona, na dose de 0,5 a 0,8 mcg/kg/min.
Grupo D
Os pacientes do grupo D são aqueles com sinais de choque, sangramento grave ou disfunção de órgãos. É preciso iniciar cuidados intensivos e reposição volêmica imediatamente. Para crianças e adultos, iniciar fase de expansão rápida por via parenteral com solução salina isotônica de 20 ml/kg em até 20 minutos. Se preciso, repetir esse processo por até 3 vezes. A reavaliação clínica, que deve ser feita a cada 15 a 30 minutos, e o hematócrito, que deve ser repetido a cada 2 horas.
Caso o paciente apresente melhora clínica e laboratorial, retornar para fase de expansão do grupo C e seguir a conduta recomendada para o grupo. Caso o paciente apresente resposta inadequada ao tratamento inicial (persistência do choque), deve-se avaliar o hematócrito.
Se esse estiver em ascensão, realizar reposição volêmica adequada, utilizando albumina (0,5 a 1 g/kg) como expansor plasmático; preparar solução de albumina a 5% (para cada 100 ml desta solução, usar 25 ml de albumina a 20% e 75 ml de soro fisiológico a 0,9%). Se houver queda do hematócrito com persistência do choque, é preciso investigar hemorragias e avaliar a coagulação, e realizar correções se necessárias.
Conclusão
A dengue é uma doença endêmica no Brasil que causa uma doença febril potencialmente grave. A busca por uma vacina é de grande interesse para evitar casos da doença, principalmente os fatais. Em março de 2023, a Anvisa aprovou uma nova vacina para dengue, de vírus atenuado, com eficácia de 80,2%, disponível até o momento apenas no privado.
Porém, ainda é de grande importância a continuação ao estímulo para o desenvolvimento de uma vacina nacional. O instituto Butantan também está desenvolvendo uma vacina para esta arbovirose, a Butantan-DV, que já está em estágios finais. Mostrou uma eficácia de 79,6%, podendo ser submetida à aprovação da Anvisa em 2024.
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